Em Oliveira de Azeméis, faz-se biocarvão que não deita fumo e é um íman na terra

Ibero Massa Florestal desenvolveu tecnologia inovadora para produzir biocarvão de utilização doméstica e agrícola. Este ano, quer produzir mil toneladas e facturar dois milhões.

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Fotos Maria João Gala
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A embalagem do biocarvão produzido na Ibero Massa Florestal, em Oliveira de Azeméis, resume com desenhos e palavras-chave as potencialidades do produto: isento de chama, sem fumo, sem gases tóxicos, elevado poder calorífico. A empresa nasceu há cerca de quatro anos com o propósito específico de criar tecnologia do zero, preencher uma lacuna no mercado, travar as importações e criar um carvão 100% ecológico, único na Península Ibérica e raro no mundo.

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real, e a Universidade de Aveiro entraram neste processo com os conhecimentos técnicos que não tardaram a ter repercussões no meio empresarial. A teoria passou à prática, as máquinas foram ligadas, e o produto nasceu como planeado.

Desde o início deste ano que o biocarvão Biopower para uso doméstico e o biocarvão Ecochar para solos agrícolas e florestais estão a ser comercializados no nosso país, com presença nas grandes superfícies comerciais, mas já de olho na exportação para o norte e centro da Europa.

É um biocarvão 100 por cento ecológico, com duas utilizações, e que sai de uma fábrica que usa como matéria-prima madeiras de infestantes das florestas, como a acácia austrália e a mimosa. Entram as madeiras, sai biocarvão amigo do ambiente, sem fumos, nem gases tóxicos que contaminem os alimentos, e que também funciona como um reestruturador de solos agrícolas e florestais.

João Tiago Santos, engenheiro do Ambiente e director de produção da Ibero Massa Florestal, salienta algumas características do biocarvão quando colocado na terra. “Não é um fertilizante, é um reestruturador dos solos agrícolas e florestais. O Ecochar funciona como um íman e a água acumula-se na superfície e capta nutrientes que as plantas necessitam. Além disso, reduz-se a necessidade de água e fertilizantes em 40%”, revela.

A aplicação do biocarvão no terreno é feita apenas uma vez e dura uma vida. Há ainda outro indicador que não passa despercebido nesse produto amigo do ambiente, ou seja, por cada quilograma de biocarvão deitado na terra, tira-se da atmosfera 3,5 de quilos de dióxido de carbono. Hortas biológicas, culturas hortícolas, vinhas, olivais, pomares, florestas, são alguns dos terrenos onde o Ecochar cai bem.

As madeiras amontoam-se no exterior da empresa e são cortadas à medida das necessidades da fábrica que trabalha sete dias por semana, 24 horas por dia, com 24 funcionários, 50% licenciados. Lá dentro, está a maquinaria onde a madeira, num processo quase autofágico, se transforma em carvão ecológico. João Tiago Santos explica como tudo acontece. “O reactor é carregado com madeira em bruto. Tapa-se o reactor e garante-se uma atmosfera controlada”. Há monitores que orientam esses passos. O reactor é então colocado dentro de um forno, o calor externo aquece o interior, e os gases libertados pelas madeiras funcionam como o próprio combustível num processo de degradação até obter carvão.

Carvão amigo do ambiente feito com tecnologia 100% nacional, segura e fácil de utilizar para quem entende da arte, e que se encontra em processo de patenteamento. “Queimam-se os gases e o carvão sai limpinho, não se liberta poluição para a atmosfera”, afirma o engenheiro de ambiente. E antes de o biocarvão ser embalado, todas as fornadas são testadas num laboratório da fábrica para que o produto chegue como deve ser ao consumidor final.

Partir do zero,construir de raiz
A Ibero Massa Florestal percebeu que havia uma lacuna no mercado nacional e surgiu para tratar do assunto. “Há um défice muito grande no mercado, 75% do carvão doméstico é importado”, revela o director de produção. Nuno Costa, director comercial, também salienta esse aspecto e “as mais-valias” de um “produto diferente” que se destaca pela qualidade e pela costela ambiental. “A receptividade é imensa nas grandes superfícies”, garante. “É um biocarvão que não faz chama, não contamina os alimentos, não polui, e não é tóxico para saúde”. E para que não restem dúvidas fazem-se as devidas comparações com o biocarvão produzido em Oliveira de Azeméis e um outro carvão em dois fogareiros no exterior da fábrica. “O nosso produto tem mais poder calorífico, de acendimento muito mais rápido, e assa mais sardinhas do que a concorrência”, diz Nuno Costa. Não deita fumo, não há faíscas e o tempo de queima é mais longo.

O projecto envolveu um investimento de 2,8 milhões de euros, com 50% de financiamento do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN). Fernando Rocha, director-geral da Ibero Massa Florestal, sonhou com a ideia e tratou de concretizá-la a partir do zero. “Foi tudo criado de raiz, não havia vícios e, ao nascer, nasceu bem”, refere. “O mercado internacional não nos ajudou em nada. Começámos a aventura sem pontos de referência”, recorda. Por isso, a satisfação por colocar um produto único no mercado nacional ganha maior importância.

As estimativas passam por produzir mil toneladas por ano na fábrica de Oliveira de Azeméis. As expectativas económicas são fechar 2015 com um volume de negócios de dois milhões de euros e aumentar para os três milhões em 2016. Fernando Rocha não esconde a vontade de ampliar a empresa para aumentar em cinco vezes a capacidade de produção. “O feedback é muito positivo e quem experimenta volta a comprar”, garante. E o preço? É um produto ecológico que está a ser vendido ao mesmo preço dos concorrentes. É um esforço que está a ser feito. Fernando Rocha quer que o seu produto se distinga na prateleira pelos consumidores bem informados, ambientalmente conscientes, e que percebam que aquele biocarvão não é apenas mais um carvão escuro. 

A aventura começou há alguns anos e não irá parar por aqui. A Ibero Massa Florestal tem mais ideias na cabeça, futuras aplicações em grande escala, que estão já a ser investigadas pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Universidade de Aveiro, antes de entrarem na fábrica de Oliveira de Azeméis.

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