Elevado peso da dívida é o principal desafio de Portugal, diz Moody's

Agência dá uma nota de Ba3 a Portugal, com perspectivas estáveis.

Foto
Reuters

A Moody's considerou hoje que o principal desafio de Portugal é "o elevado peso da dívida pública", alertando que são precisas "taxas de crescimento significativamente mais fortes" do que as actualmente estimadas para reduzir a dívida no final da década.

Num relatório sobre a economia portuguesa, publicado nesta sexta-feira, a Moody's salienta que "Portugal enfrenta uma série de desafios de crédito", sobretudo relacionados com os altos níveis de endividamento no sector público.

"O país precisaria de taxas de crescimento posteriores consideravelmente mais fortes do que as previsões actuais da Moody's para reduzir de forma significativa o peso da dívida até ao final da década", lê-se no documento da Moody's, que dá um rating de Ba3 a Portugal, com perspectivas estáveis.

Com uma dívida pública próxima dos 129% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 e com perspectivas de crescimento económico "apenas moderadas", a Moody's entende que esta é a principal restrição do país e destaca que o rácio dívida/PIB de Portugal está entre os mais altos no universo das dívidas soberanas avaliadas.

A instituição estima que a dívida pública portuguesa caia para os 127% do PIB este ano e para os 122% em 2015.
Para a agência de notação financeira, uma trajectória de queda da dívida exige "a continuação da consolidação orçamental por vários anos", com particular enfoque nos "cortes permanentes da despesa para reduzir a dimensão do sector público".

A Moody's escreve ainda que "este processo tem sido mais incerto devido ao Tribunal Constitucional do país, que rejeitou medidas fundamentais do lado da despesa", acrescentando que, tal como o Fundo Monetário Internacional (FMI), considera que há o risco de as medidas alternativas encontradas pelo Governo serem "menos permanentes ou de pior qualidade".

A agência sublinhou, no entanto, que o país "começou a crescer novamente" e que as reformas estruturais implementadas durante o programa de resgate "devem apoiar o reequilíbrio da economia", mais assente nas exportações e num ritmo de crescimento mais forte do que no passado.

Os "sinais claros" de recuperação económica deveram-se, em parte, a "factores especiais" que contribuíram para a evolução da economia em 2013, que contraiu 1,4%, apesar de se terem começado a registar crescimentos trimestrais em cadeia no segundo trimestre.

Para a Moody's, entre estes "factores especiais" estão a contracção do PIB e da procura interna, que foi muito forte em 2012, e a evolução do sector petrolífero, que contribuiu para o crescimento das exportações de bens energéticos em 2013.

Reconhecendo que o aumento da capacidade de refinação do país vai ter "um impacto permanente" no nível de produção e da exportação de bens energéticos, a Moody's alerta que "o rápido crescimento das exportações de 2013 não vai se vai repetir".

Quanto ao mercado de trabalho, a agência refere que a taxa de desemprego caiu, mas que isso se deve, em parte, à queda da força de trabalho, resultante do aumento da emigração e do número de trabalhadores desencorajados.
Em relação às reformas estruturais, a Moody's destaca que muitas das mudanças introduzidas são de "natureza estrutural e permanente", pelo que "devem melhorar o desempenho de crescimento de Portugal nos próximos anos, além do mero ciclo de recuperação".

Sugerir correcção
Comentar