Eduardo Stock da Cunha entra no Novo Banco com três novos administradores

Jorge Freire Cardoso fica com área financeira. Vítor Fernandes e José João Guilherme também vão para o banco de transição.

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Fitch acredita que testes de stress devem “esclarecer algumas questões sobre a posição de solvência do Novo Banco” Enric Vives Rubio

Eduardo Stock da Cunha foi o nome escolhido pelo Governo e pelo Banco de Portugal para substituir Vítor Bento na presidência executiva do Novo Banco. Com ele entram também três novos administradores: Jorge Freire Cardoso (que vem da CGD para assumir a área financeira), Vítor Fernandes e José João Guilherme.

Stock da Cunha, de 51 anos, já aceitou o convite feito pelo Banco de Portugal. O banqueiro tem um vasto currículo no sector, no qual está há perto de 30 anos, e trabalha desde há muito com António Horta Osório, com quem criou o Santander Totta em Portugal. O gestor, pai de cinco filhos, estudou no Colégio S. João de Brito, tal como Paulo Portas, António Pires de Lima e António Horta Osório. Licenciado em Economia pela Católica, e com um MBA da Universidade Nova, entrou para a MDM – Sociedade de Investimentos em 1985 (onde esteve João Cotrim de Figueiredo). 

Antes, já tinha escrito no jornal Comércio do Porto uma coluna de opinião sobre economia, chamada A Riqueza das Nações, juntamente com personalidades como António Nogueira Leite e Pedro Duarte Neves (actual vice-presidente do Banco de Portugal, e que tinha até agora a responsabilidade da supervisão).

No Verão de 1993, quando era administrador da NCO-Dealer, passou para a administração do Banco Santander de Negócios. Além da sua ligação a António Horta Osório, neste grupo bancário vai cruzar-se com António Ramalho (actual presidente da Estradas de Portugal e ex-administrador do BCP) e com Carlos Tavares (ex-ministro da Economia do PSD e actual presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), além de com Nuno Amado (CEO do BCP) e António Vieira Monteiro (CEO do Santander Totta).

Em Outubro do ano passado, Eduardo Stock da Cunha saiu do grupo espanhol, após ter sido administrador executivo e numa altura em que estava colocado na subsidiária norte-americana, o Santander Bank. Depois, juntou-se a Horta Osório no Lloyds, em Londres.

De acordo com o comunicado oficial do Banco de Portugal, enviado na tarde deste domingo, Stock da Cunha terá a seu lado Jorge Freire Cardoso, que transita da estatal Caixa Geral de Depósitos (CGD). O regulador destaca o seu percurso na área da banca de investimento, com realce para o cargo de presidente da comissão executiva do Caixa – Banco de Investimento. Já Vítor Fernandes foi administrador do Banco Comercial Português, para onde transitou, tal como Carlos Santos Ferreira e Armando Vara, da CGD, onde foi CEO da Seguradora Mundial Confiança. José João Guilherme, por  seu turno, foi administrador do BCP e, nesse contexto, presidiu ao BIM – Banco Internacional de Moçambique, instituição dominada pelo BCP. Sobre este gestor o regulador diz que se dedica "actualmente à administração de empresas não financeiras".

Três saídas, quatro entradas
Assim, entram quatro novos responsáveis de topo para o novo banco, quando tinham saído três. Por outro lado, não se demitem das empresas às quais estão actualmente ligados, o que demonstra o carácter provisório das funções. O comunicado do Banco de Portugal explica que "a equipa de gestão entrará em funções logo que concluídos nos próximos dias os procedimentos prévios exigíveis, incluindo a formalização dos acordos de cedência (leave of absence)" pelo Lloyds e CGD. Pelo que se lê no comunicado, não haverá o cargo de vice-presidente, que era até aqui preenchido por José Honório.

O anúncio formal da nomeação de Stock da Cunha surge um dia após a confirmação do pedido de demissão de Vítor Bento da presidência executiva do Novo Banco (que ficou com os bons activos do BES após a intervenção do Banco de Portugal, através do Fundo de Resolução), passo em que foi acompanhado por Moreira Rato e José Honório (que detinha a vice-presidência).

A saída da equipa de Vítor Bento, que tinha entrado quando o BES ainda não tinha apresentado os seus resultados semestrais (cujos prejuízos históricos levaram à intervenção estatal), decorreu no quadro de desentendimentos com o Banco de Portugal e com o Governo sobre o Novo Banco. Vítor Bento apostava numa estratégia de médio prazo, tendo inclusive contratado a consultora internacional McKinsey para elaborar um plano a três anos. Preferencialmente, a sua equipa de gestão gostaria de ver o Novo Banco com investidores de referência, dispersando depois o restante capital em bolsa, replicando, de certa forma, a estrutura accionista de outras instituições financeiras. Se Bento não queria ser o responsável de uma comissão liquidatária, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, bem como o Governo apostam numa venda rápida.

No comunicado enviado ontem pela equipa demissionária do Novo Banco, esta argumentava que "as circunstâncias alteraram profundamente a natureza do desafio" com base no qual tinham tomado a sua decisão em Julho. Entre os trabalhos conduzidos até aqui, destacavam "a elaboração de um plano de médio prazo" para o Novo Banco. Já o comunicado emitido pelo regulador mencionava a necessidade, em nome da instituição financeira, dos trabalhadores e "do sistema financeiro", de "num prazo tão curto quanto razoavelmente exequível" o Novo Banco passar a contar "com uma estrutura accionista estável". Um desígnio que parece apontar para a venda em bloco a outra instituição financeira.

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