Crescimento anual volta a ser positivo, mas os sinais de aceleração não aparecem

Foi a primeira vez desde 2010 que a economia registou um crescimento anual positivo. Nos últimos meses de 2014, contudo, Portugal não acompanhou tendência europeia de aceleração.

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Subsídio de desemprego deixa de fora 38% dos desempregados Daniel Rocha (arquivo)

Depois de um período inédito de três anos de contracção da economia, Portugal conseguiu em 2014 voltar a crescer. O problema é que ainda há muitos sinais de que o ritmo da recuperação continua a ser muito lento e que a aceleração baseada no consumo que se registou no início do ano pode não ter força para se prolongar.

O regresso a taxas de crescimento anuais positivas foi confirmado esta sexta-feira pelo Instituto nacional de Estatística (INE), sem qualquer surpresa. O PIB cresceu 0,9% em 2014 depois do recuo de 1,4% registado em 2013. A última vez que se tinha registado um crescimento anual positivo tinha sido em 2010, ano em que a economia cresceu 1,9%, nas vésperas da chegada em força da crise da dívida soberana europeia em Portugal.

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Mas para além deste valor anual, o INE deu a conhecer o que se passou no quarto trimestre do ano. E aqui, o cenário dá motivos para menos optimismo. O crescimento face ao trimestre imediatamente anterior foi de 0,5%, um valor mais alto do que aquele que tinha sido registado no terceiro trimestre e que tinha sido de 0,3%.

No entanto, quando a comparação se faz em relação ao mesmo período do ano passado, é notório que o ritmo de crescimento abrandou. Tinha sido de 1,1% no terceiro trimestre de 2014 e passou para 0,7% no quarto trimestre.

Estes números parecem confirmar a ideia de que a economia portuguesa, depois de sair em meados de 2013 de forma surpreendentemente rápida da recessão em que se encontrava, está agora a estabilizar em taxas de crescimento homólogas positivas mas bastante modestas, próximas e mesmo abaixo de 1%.

Aparentemente, o combustível que conduziu a esta aceleração da economia, e que foi uma recuperação mais rápida do consumo privado por parte dos portugueses, dá sinais de esgotamento. É o INE que dá pistas para que se tire essa conclusão.

Apesar de não apresentar ainda neste relatório os dados das diversas componentes do PIB, diz que esta diminuição do crescimento homólogo no quarto trimestre “foi determinada pelo contributo menos positivo da procura interna comparativamente com o verificado no trimestre anterior, reflectindo a desaceleração do consumo privado”. Pela positiva destaca o facto de a procura externa líquida (exportações menos importações) ter registado “um contributo ligeiramente menos negativo para a variação homóloga do PIB, devido à aceleração das exportações de bens e serviços”. 

Isto é, o consumo desacelerou, algo que foi apenas parcialmente compensado por um crescimento mais forte das exportações.

Esta dificuldade da economia portuguesa em abandonar taxas de crescimento tão modestas tem sido salientada por diversas instituições. O último relatório do Fundo Monetário Internacional, por exemplo, assinala o risco que o país corre de manter taxas de crescimento não superiores a 1,5% durante muito tempo, com consequências negativas para o desempenho orçamental e para o combate ao desemprego. Para o FMI, este deve ser um sinal para as autoridades do país reforçarem o esforço de reforma, nomeadamente no mercado de trabalho e em sectores como a energia.
 
Europa com ligeira aceleração
A dificuldade revelada por Portugal em aumentar o ritmo do seu crescimento torna-se ainda mais preocupante porque surge em simultâneo com uma melhoria da evolução da economia no resto da zona euro. De acordo com os números publicados pelo Eurostat também esta sexta-feira, as economias da moeda única registaram no quarto trimestre do ano um crescimento face ao mesmo período do ano passado de 0,9%, quando no terceiro trimestre este indicador tinha sido de 0,8%.

Destaque para a aceleração da Alemanha de 1,2% para 1,5% e da Espanha de 1,6% para 2%. Pela negativa, notou-se a desaceleração de 0,4% para 0,2% da França e a manutenção em terreno negativo da Itália, cuja economia contraiu-se 0,3% no quarto trimestre.

É verdade que estes resultados, nomeadamente a forte aceleração dos dois principais destinos das exportações portuguesas (Espanha e Alemanha) podem ter ajudado a explicar o ritmo mais elevado das vendas ao estrangeiro que é referido pelo INE. Mas Portugal, que no segundo e terceiro trimestre de 2014 tinha conseguido crescer mais em termos homólogos do que a média da zona euro, voltou no quarto trimestre a ficar abaixo da média, com a sua variação de 0,7% a não acompanhar a aceleração europeia para 0,9%.

Entre os países da zona euro para os quais o Eurostat divulgou resultados para o quarto trimestre, Portugal supera cinco países: Chipre, Itália, Finlândia, Áustria e França. A Grécia cresceu 1,7% em termos homólogos, apesar de face ao trimestre imediatamente anterior ter voltado a terreno negativo.

Para 2015, o Governo está a apostar num crescimento mais forte, de 1,5%. E a Comissão Europeia reviu recentemente em alta as suas projecções para 1,6%. Um dos factores por trás deste novo optimismo é a descida do preço do petróleo, que pode ajudar, mais uma vez, a reanimar o consumo das famílias. Ao mesmo tempo, a queda do euro face às outras divisas internacionais, também pode ajudar, tornando as exportações mais competitivas fora da zona euro. Os próximos meses serão decisivos para perceber se Portugal será capaz de aproveitar estas oportunidades.

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