Economia portuguesa mantém crescimento lento baseado no consumo

PIB português cresceu 0,2% no terceiro trimestre. A velocidade do crescimento parece estabilizada, mas o padrão é visto por muitos como insustentável.

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Daniel Rocha

Os portugueses estão gradualmente a consumir mais, dando um impulso à economia, mas ao mesmo tempo as importações crescem, o que contribui negativamente para o PIB. O resultado: a retoma económica em Portugal continua a ser feita a um ritmo lento e à espera de uma ajuda dos vizinhos europeus para ganhar velocidade no futuro.

Os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para a evolução da economia portuguesa durante o terceiro trimestre deste ano não constituíram uma surpresa. O crescimento económico face ao trimestre imediatamente anterior foi de 0,2%, uma ligeira desaceleração face aos 0,3% que se tinham registado no segundo trimestre do ano. E em comparação com igual período do ano passado, a economia cresceu no terceiro trimestre a uma taxa de 1%, quando no segundo trimestre este indicador estava em 0,9%.

Eram estes o números que, de forma aproximada, a maior parte dos analistas estava à espera. E com este crescimento, a economia mantém-se a um ritmo que permite ainda acreditar na concretização no final do ano de uma taxa de crescimento próxima de 1%, o valor que é estimado actualmente pelo Governo depois de ter realizado uma revisão em baixa na proposta de Orçamento do Estado apresentada em Outubro.

Nas suas previsões de Outono, a Comissão Europeia - que está a apontar para um crescimento no total do ano de 0,9% - previa precisamente que no terceiro trimestre o crescimento fosse de 0,2%. E estimava que, com uma aceleração de 0,7% no quarto trimestre, os 0,9% no final do ano seriam atingidos.

Teresa Gil Pinheiro também acha que isso é possível. A analista do BPI explica que o banco ainda tem como previsão de crescimento para 2014 neste momento uma variação de 1%, que pode rever ligeiramente em baixa brevemente. E diz que o crescimento mais forte do PIB que será necessário no quarto trimestre para que este cenário se concretize “é provável”, especialmente por via de “uma aceleração do consumo”.

O problema para a economia portuguesa, a prazo, está no entanto precisamente aí: na forma como a economia apenas parece conseguir crescer com base no consumo privado. Apesar de o INE, na estimativa rápida das contas nacionais que foi publicada esta quinta-feira, não divulgar ainda os números referentes às diversas componentes do PIB, são dadas pistas na nota publicada na sua página de internet que revelam a forma como a economia está, de forma ainda lenta, a crescer.

“A procura interna apresentou um contributo positivo mais intenso para a variação homóloga do PIB no terceiro trimestre, reflectindo sobretudo a evolução das despesas de consumo final das famílias residentes”, afirma o INE.

Em contraponto, “a procura externa líquida registou um contributo negativo mais significativo, devido à aceleração das importações de bens e serviços, tendo as exportações de bens e serviços apresentado um crescimento próximo do verificado no trimestre anterior”.

Isto é, a economia portuguesa manteve o mesmo ritmo de crescimento, com uma variação de 0,2% durante o trimestre, graças a uma aceleração do consumo privado, que conseguiu compensar o contributo mais negativo das relações comerciais do país com o exterior. Numa conjuntura económica negativa no resto da Europa, as exportações até conseguiram continuar a crescer a um ritmo regular, mas as importações voltaram a acelerar.

Para o cálculo do PIB, os aumentos do consumo, investimento e exportações contribuem de forma positiva para o cálculo global, mas as importações contribuem negativamente.

Este tipo de crescimento, em que o consumo puxa pela economia mas provoca ao mesmo tempo um aumento das importações, tem sido um problema constante da economia nas últimas décadas. Com a introdução de uma forte política de austeridade desde 2011, o consumo caiu e as importações também.

A esperança da troika e do Governo era de que a recuperação económica fosse agora feita à base das exportações e que as importações não subissem tanto à medida que o consumo aumentasse. Isso não parece para já estar a acontecer.

Uma das explicações para este resultado poderá estar no facto de uma parte importante do aumento do consumo se estar a registar por causa da compra de carros. Depois de vários anos a evitar gastos desta dimensão, os portugueses começaram outra vez a renovar a sua antiquada frota automóvel e o problema é que este é o tipo bem que, na sua esmagadora maioria, é proveniente do estrangeiro. De acordo com o INE, nos primeiros nove meses deste ano, as importações de automóveis para transporte de passageiros aumentaram 46,3%.

Por diversas vezes foi dito que um regresso ao antigo modelo de crescimento baseado no consumo não seria sustentável. No entanto, perante os dados apresentados pelo INE, o Governo parece estar a fazer uma inflexão no discurso. Em declarações citadas pela Lusa, o António Pires de Lima, o ministro da Economia fala agora de "um modelo de crescimento saudável porque está assente na confiança, isto é no consumo privado e na melhoria das condições de vida das pessoas (...), mas também no facto de termos exportações que cresceram de 28 para 42% do PIB e são maiores do que as importações".

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