Consumo e investimento regressam ao ritmo de crescimento de 2013

Apesar de ligeira revisão em alta da estimativa para o PIB, consumo, investimento e exportações voltaram a abrandar. A boa notícia veio apenas das importações.

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Consumo abrandou no segundo trimestre paulo pimenta

Apesar da aposta do Governo na reposição do rendimento disponível dos portugueses, o consumo privado acentuou, durante o segundo trimestre deste ano, a sua tendência de abrandamento, sendo um dos principais motivos para que a economia se tenha mantido a um ritmo de crescimento inferior ao previsto pelo executivo para a totalidade do ano.

Depois de no início do mês ter apresentado a sua primeira estimativa, o Instituto Nacional de Estatística divulgou esta quarta-feira os dados relativos à evolução do PIB português no segundo trimestre. A economia portuguesa cresceu 0,3% durante o segundo trimestre deste ano, colocando a variação homóloga do PIB nos 0,9%.

Estes dados representam uma ligeira revisão em alta face à primeira estimativa apresentada pelo INE e que apontava para uma variação do PIB em cadeia de 0,2% e homóloga de 0,8%.

Deste modo, confirma-se que durante o segundo trimestre de 2016 a economia manteve praticamente inalterado o ritmo registado durante os primeiros três meses do ano, quando o crescimento em cadeia foi de 0,2% e o crescimento homólogo de 0,9%. Esta evolução da actividade económica na primeira metade do ano fica substancialmente abaixo daquilo que era esperado para a totalidade do ano pelo Governo, no cenário macroeconómico do Orçamento do Estado.

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Bastante significativa também é a tendência apresentada neste segundo trimestre nos diversos componentes do PIB, que vai no sentido oposto daquilo que é projectado na estratégia económica do executivo. Prolongando e acentuando uma tendência iniciada na segunda metade do ano passado, o contributo da procura para a variação homóloga do PIB caiu para valor mais baixo desde o terceiro trimestre de 2013. Em simultâneo, o contributo da procura externa líquida (exportações menos importações) voltou a ser positivo, graças essencialmente ao abrandamento das importações, algo que já não acontecia desde o início de 2013.

Deste modo, o país parece ter caminhado novamente para um cenário em que a compressão da procura interna limita fortemente o crescimento da economia, mas fazendo com que o saldo externo (mesmo num cenário de abrandamento das exportações) registe melhorias por causa da travagem das importações.

O abrandamento do consumo é um dos resultados mais surpreendentes, tendo em conta o facto de o Governo ter, no decorrer deste ano, adoptado medidas como a da reversão mais rápida dos cortes salariais na função pública ou o aumento do salário mínimo.

De acordo com o INE, o consumo privado passou de uma taxa de variação homóloga de 2,6% no primeiro trimestre deste ano para 1,7% no segundo. É o acentuar de uma tendência que se regista desde que, no segundo trimestre de 2015, se verificou o ritmo de crescimento mais alto do consumo, de 3,3%.

O abrandamento regista-se tanto ao nível dos bens duradouros (como automóveis, por exemplo), em que a taxa de crescimento passou de 12,7% para 8,2%, como nos bens alimentares (de 1,3% para 1,1%) e nos outros bens correntes (1,8% para 1%).

Ao nível do investimento, aquilo que aconteceu foi o acentuar da queda que já se verificava no primeiro trimestre. A variação homóloga deste indicador passou de -1,2% para -3% no segundo trimestre do ano. Também aqui, depois de ter atingido um ritmo forte de recuperação no segundo trimestre de 2015, o investimento iniciou na segunda metade do ano passado uma tendência negativa que surpreendeu diversos analistas, incluindo o Banco de Portugal, e que agora se continua a agravar.

É do lado do comércio internacional que se conseguem encontrar os únicos sinais positivos. Porém, não surgem ao nível das exportações. Numa conjuntura externa cheia de complicações (que inclui o "Brexit", a instabilidade dos mercados na China, a dificuldade na retoma europeia e a crise em mercados importantes para Portugal como Angola), as exportações portuguesas sofreram ainda com os problemas na produção de empresas como a Galp e a Autoeuropa e tiveram um forte abrandamento. Passaram de uma taxa de variação de 3,1% no primeiro trimestre para apenas 1,5% no segundo, o valor mais baixo desde o final de 2012.

De onde vêm então as boas notícias? Das importações, que, por força da travagem da procura interna, abrandaram ainda mais do que as exportações, fazendo com que o contributo da procura externa líquida melhorasse. Segundo o INE, as importações passaram de um crescimento de 4,6% no primeiro trimestre para 0,9% no segundo.

Feitas as contas, para o crescimento homólogo de 0,9% registado no PIB, o contributo da procura interna, que tinha sido de 1,7 pontos percentuais no primeiro trimestre, passou a ser de apenas 0,6 pontos.

Em compensação, o contributo da procura externa líquida passou de 0,7 pontos percentuais negativos no primeiro trimestre para um valor positivo de 0,2 pontos percentuais.

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