E se os BRICS deixassem de precisar do FMI?

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul criam novo banco de desenvolvimento, que surge como alternativa credível às instituições de Bretton Woods.

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Os líderes dos BRICS reunidos no Brasil AFP PHOTO / NELSON ALMEIDA

Cansados do impasse na reforma do FMI e insatisfeitos com a promessa não cumprida dos EUA e da Europa de abandonarem a liderança das instituições de Bretton Woods, os BRICS lançaram nesta quarta-feira o seu maior desafio à actual ordem financeira internacional: criaram o seu próprio banco de desenvolvimento.

O anúncio foi feito no Brasil, por Dilma Rousseff, no fim da cimeira dos cinco países denominados como BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O Banco de Desenvolvimento vai ter um capital de 100 mil milhões de dólares, terá sede na China, será gerido através de presidências rotativas de cinco anos e tem como um dos objectivos, disse a presidente do Brasil, “ajudar a conter a volatilidade enfrentada por diversas economias como resultado da retirada da política monetária expansionista por parte dos Estados Unidos”.

O banco servirá também para “ajudar outros países em desenvolvimento, com base nas nossas próprias experiências, como países em desenvolvimento”, afirmou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que irá assumir a primeira presidência da instituição. A entrada em funcionamento do Banco de Desenvolvimento deverá acontecer dentro de dois anos.

Tendo em conta os objectivos declarados do novo banco, é evidente o desafio que os BRICS estão aqui a lançar às instituições que nas últimas décadas dominaram a ordem financeira internacional: o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Nos últimos anos, têm sido várias as ocasiões em que estes cinco países mostraram o seu descontentamento em relação à forma como o FMI e o Banco Mundial são geridos.

A questão fundamental é o reduzido poder que lhes é dado, com os EUA e a Europa ainda e sempre no controlo das operações. Um facto que cria ainda mais descontentamento quando os BRICS vêem uma grande parte dos fundos do FMI a ser colocados em países da zona euro como a Grécia, Portugal e a Irlanda, com níveis de vida muito acima dos dos países em desenvolvimento.

Por diversas vezes, os EUA e a Europa prometeram uma reforma no modelo de governação do FMI e do Banco Mundial, para dar mais poder às economias emergentes. No entanto, a promessa tarda em concretizar-se. Ainda este ano, o congresso dos EUA deu um passo atrás no processo de abdicação de parte do poder no FMI.

Os BRICS, com a criação deste novo banco, lançam assim uma ameaça ao próprio funcionamento do FMI e do Banco Mundial, como que dizendo que podem deixar de precisar dessas instituições. E fazem-no com números muito fortes. Os 100 mil milhões de dólares que são injectados no banco – 41 mil milhões pela China, 18 mil milhões cada pelo Brasil, Rússia e Índia e 5 mil milhões pela África do Sul – estão muito próximo, e em alguns casos superam, as quotas pagas por estes países no FMI e no Banco Mundial. “É um sinal dos tempos, que exige a reforma do FMI”, afirmou Dilma Roussef na apresentação do banco.

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