E se a compra de dívida soberana não funcionar?

O peso da dívida pública é excessivo em relação ao crescimento económico, que não é suficientemente robusto para a servir (juros) e para a ir pagando (amortizações).

As abordagens de Tsipras e Draghi são duas formas distintas de lidar com o mesmo problema. Alexis quer reduzir a dimensão da dívida (o stock), reestruturando-o com um perdão parcial, o que implicaria obviamente impor perdas aos credores. O seu mérito é dar visibilidade a um problema real, mas o demérito é o de, não apresentando solução credível, assustar os próprios aforradores gregos que já deslocalizam as suas poupanças. 

Draghi, ao fazer o BCE comprar dívida soberana, injecta liquidez, combate a deflação e reduz os juros da dívida. Porém, não reduz o stock (parte da dívida apenas se transfere progressivamente de vários credores – bancos, instituições europeias, etc. – para o BCE).

A redução dos juros deriva de um sistema de triangulação em que parte dos juros que pagamos nos são devolvidos, pois o BCE remunera o Banco de Portugal que, por sua vez, pagará (mais) dividendos ao Estado.   

O BCE avança com pequenos passos e este é deveras muito importante! E se não for suficiente? Ou há crescimento económico significativo nos próximos três anos, ou estaremos provavelmente a falar noutras medidas mais drásticas para lidar com a dívida pública, como seja a sua transformação em dívida perpétua, pelo menos a detida pelo BCE.

Neste caso, o stock não diminuiria, mas parte substancial, detida pelo BCE, não teria que ser paga. Se a prazo a inflação não for elevada, e a economia não der grandes sinais de retoma, isto é, se o actual programa de compra de dívida e as reformas estruturais nos países da União não forem suficientes, haverá decerto novas medidas a implementar, para salvar o euro e o projecto político europeu.

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