Divergência salarial entre homens e mulheres baixou, mas não de forma estrutural, alerta Bruxelas

O peso da mão-de-obra qualificada aumentou mais entre as mulheres do que entre os homens entre 2008 e 2010.

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A formação superior das mulheres aumentou em termos nominais 7% entre 2008 e 2010 Paulo Pimenta

As disparidades salariais entre homens e mulheres na União Europeia (UE) diminuíram entre 2008 e 2010, não por se ter registado uma melhoria estrutural no mercado de trabalho, mas sobretudo pela deterioração das condições económicas em sectores onde predomina a mão-de-obra masculina, nota a Comissão Europeia.

Na Análise Trimestral do Emprego e da Situação Social na União Europeia, divulgada nesta segunda-feira, o executivo comunitário adverte que a redução das disparidades naquele período não é estrutural. Por ser um declínio “de natureza temporária”, esta é uma tendência que poderá inverter-se quando houver uma melhoria das condições económicas.

Segundo o relatório, a diminuição das disparidades deveu-se principalmente ao facto de os sectores tradicionalmente masculinos, como a indústria e a construção, terem “perdido terreno” por causa da crise económica, com consequências para a força de trabalho que neles é a maioria. A indústria, por exemplo, é um dos sectores que mais contribuem para as disparidades salariais entre homens e mulheres. Como foi um dos que mais sofreram o impacto da crise económica, diz a Comissão, é um dos que mais contribuíram para a degradação das condições da força de trabalho masculina.

As mudanças positivas observadas na composição das habilitações académicas da mão-de-obra masculina e feminina também terão o seu peso na redução das disparidades (que baixou de 17,3% para 16,2% em 2010). Mas a conclusão da Comissão Europeia é de que isto não foi determinante, tendo havido uma convergência salarial feita à custa da degradação do mercado de trabalho – e não o seu contrário. Tendências que, diz a Comissão Europeia, “podem ser invertidas assim que a crise terminar” – se os sectores que historicamente mais agravam as disparidades salariais de género voltarem a crescer sem a preocupação de ser eliminado este fosso no mercado de trabalho.

Um relatório da Comissão de 2002, recordado na análise agora conhecida, alertava para a marginalização das mulheres em determinadas áreas profissionais, com uma elevada concentração feminina em ocupações com salários mais baixos e “considerados muitas vezes sectores e ocupações com baixa produtividade”.

O peso da mão-de-obra qualificada aumentou mais entre as mulheres do que entre os homens: enquanto a formação superior das mulheres aumentou em termos nominais 7% entre 2008 e 2010, nos homens a progressão foi de 4%.

Ao mesmo tempo, ao trabalho temporário estão associadas expectativas salariais mais baixas. E como o emprego temporário estabilizou entre os homens e diminuiu entre as mulheres, também este deve ser um factor importante a ter em conta, sustenta ainda a Comissão.

Para além do “ajustamento” dos sectores dominados por homens, como lhe chama a Comissão, estes dados devem ser lidos à luz da evolução do mercado de trabalho entre os jovens, que “tende a ser relativamente mais forte entre os homens”, e o aumento do emprego em tempo parcial.
 
 
 
 
 

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