Desemprego sobe para 13,9% em Novembro

Taxa de desemprego volta a aumentar pelo segundo mês consecutivo, interrompendo um ciclo de 20 meses de recuos.

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O IEFP não desiste de tentar reaver o dinheiro Paulo Pimenta

O mercado de trabalho em Portugal continua a dar sinais de abrandamento. O desemprego aumentou em Novembro pelo segundo mês consecutivo, interrompendo um ciclo de 20 meses de recuos, e a população empregada voltou a cair, mostram os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)

Na comparação com 2013 - o pior de que há registo -, os números apresentam uma melhoria. A população empregada aumentou 0,7% em comparação com Novembro de 2013 e a desempregada caiu 12,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior. O problema é quando se centra a análise na evolução mensal.

A taxa de desemprego subiu para 13,9% em Novembro, o que representou um crescimento de 0,3 pontos percentuais face ao mês anterior. De acordo com os dados mensais do INE, havia 713,7 mil pessoas desempregadas – mais 17,4 mil do que em Outubro.

Trata-se do segundo aumento mensal do desemprego, depois de em Outubro a taxa ter registado um crescimento de 13,3% para 13,6% (valor agora revisto pelo INE em 0,2 pontos percentuais face à estimativa anterior), interrompendo um ciclo de 20 meses de abrandamento da taxa de desemprego.

Os homens foram os mais afectados por este aumento (com mais 17 mil registados como desempregados), não tendo havido praticamente alterações na taxa de desemprego das mulheres.

Embora o desemprego entre a população adulta tenha aumentado 2,2%, a subida foi mais gravosa entre os jovens. Na população entre dos 15 aos 24 anos o desemprego cresceu 3,7% e a taxa de desemprego passou de 33,3% em Outubro para 34,5% em Novembro.

Para a taxa de desemprego de 13,9% em Novembro contribuiu “tanto o acréscimo da população desempregada, como a ligeira diminuição da população empregada”, explica o INE.

De acordo com o boletim informativo publicado nesta terça-feira, a população empregada, num total de 4431,3 mil, desceu 0,1% em Novembro, o que, em termos absolutos, correspondeu a menos 2,9 mil pessoas do que no mês anterior. Esta descida segue a tendência registada a partir de Setembro do ano passado, “após um período de sete meses consecutivos de crescimento continuado no emprego”, recorda o INE.

Apesar de, entre os adultos e os homens, a taxa de emprego ter crescido, registou-se um recuo junto das mulheres empregadas (de 0,2%, representando menos 4,3 mil pessoas) e dos jovens entre os 15 e os 24 anos (de 1,5%, para menos 3,8 mil pessoas).

Os dados de Outubro e Novembro revelam uma tendência para a qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Comissão Europeia já tinham alertado em Outubro do ano passado.

O FMI alertava que o crescimento do emprego no terceiro trimestre de 2014 reflectia, em parte, um crescimento da economia assente no consumo privado, os efeitos das políticas de activação de desempregados e das políticas de contratação das empresa, pondo em causa que o ritmo se pudesse  manter. 

Bruxelas atribuia as melhorias no emprego ao sucesso das políticas activas de emprego, que inflacionaram a dinâmica do mercado de trabalho.

Também o Banco de Portugal veio alertar, em Dezembro, que o dinamismo do mercado de trabalho em 2014 foi fortemente influenciado pelos estágios profissionais e pelas alterações na metodologia usada pelo INE no Inquérito Trimestral ao Emprego. E chega aos seus próprios números: o emprego por conta de outrem não terá crescido os 6% estimados pelo INE, mas sim apenas 2,5% no terceiro trimestre do ano, sendo que, deste valor, 0,9 pontos se devem a estágios profissionais financiados pelo Estado.

Em Novembro do ano passado o INE começou a publicar estatísticas mensais do desemprego, quando até então só publicava as estatísticas trimestrais sobre o mercado de trabalho. Estas estatísticas são complementares às trimestrais, que continuarão a ser divulgadas pelo INE.

No final de um encontro com a Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Costa, líder do PS, insistiu na tese de que Portugal precisa de "um acordo de concertação estratégica que permita reencaminhar o país para uma estratégia mobilizadora do país".

"Partilhamos com a CIP a ideia da urgência de uma reorientação da política económica que permita reforçar o investimento, renovar o esforço de qualificação e de formação, que são capitais decisivos para a competitividade. É evidente que a notícia [do INE] sobre o desemprego é mais uma má notícia e demonstra que, de facto, a política seguida não é sustentável em termos de criação de emprego, promoção do crescimento e desenvolvimento", criticou António Costa.

"Lamentavelmente, a taxa de desemprego anda dentro de uma baliza insustentável”, reagiu o presidente da CIP, António Saraiva.

"Conseguiremos reduzir o desemprego com factores de maior competitividade e seguindo um modelo de desenvolvimento económico diferente. Em sede de concertação social e no Parlamento, temos de encontrar reformas que, promovendo alterações, seja depois possível encontrar um verdadeiro caminho de crescimento económico. Sem crescimento económico o país não conseguirá resolver os seus problemas", acrescentou o responsável.

O presidente da Confederação do Comércio de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, que também reuniu com António Costa na sede da confederação, não se mostrou surpreendido com os números hoje divulgados. "Em Portugal não há neste momento suficiente recuperação económica que possa justificar uma quebra contínua do desemprego", alertou. "Por isso, a nossa expectativa não se afastava muito daquilo que agora é demonstrado" nos indicadores do INE, acrescentou, citado pela Lusa.

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