Desemprego: a Economia a Desfazer-se

Em apenas um ano, segundo os dados do INE, agora publicados, para o primeiro trimestre, foram destruídos 230 mil postos de trabalho. O desemprego, por sua vez, aumentou “apenas” 130 mil pessoas. O que aconteceu então aos restantes 100 mil indivíduos que separam os dois números? Muitos emigraram, como está patente na redução de mais de 72 mil ativos entre os 25 e os 34 anos. Outros, a minoria, tornaram-se inactivos. Outros ainda, desencorajados a procurar trabalho.

Esta destruição de postos de trabalho num ano é impressionante. É a maior de sempre, num ano, registada pelo INE. A destruição do aparelho produtivo tem, não apenas este efeito conjuntural, mas um efeito estrutural profundo. São aprendizagens que se perdem. São ligações a mercados que se destroem. São dimensões humana e social que se agravam, catalisando o pessimismo nacional e as expectativas paralisantes que dominam a sociedade portuguesa.

Esta destruição do emprego já alastrou aos trabalhadores efectivos das empresas. Não são apenas a parte variável e ajustável do custo de trabalho que está a diminuir (os denominados contratos a prazo, os recibos verdes e demais precários). Os contratos sem termo diminuíram, num ano, quase 190 mil pessoas. Apenas o trabalho informal e de pequena duração subiu, o que prova o desespero social em que se encontra o País.

O País assiste assim à sua destruição económica. De acordo com a teoria económica que suporta estas intervenções, não há nestes dados nada de mal e de anormal. Mesmo que todas as estimativas saiam furadas e revistas a preto. Até há beleza, como disse um responsável governamental esta semana. A deslocação (nome eufemístico para a emigração) do fator trabalho é vista como normal e até positiva.

Nestes modelos, países, pessoas em territórios, e, nestes, afetividades, culturas e relações sociais não existem. Um País pode desaparecer, e as pessoas deslocarem para o Centro e o Norte da Europa, que a situação é vista como ajustamento e normalidade no modelo de intervenção. Acrescenta-se aqui, normal para os outros, não para si, os decisores, os seus empregos, as suas facilidades, as suas networks e lealdades, e, inclusive, as suas relações com o poder económico e financeiro dominante.

O País assiste assim à redução significativa da sua taxa de emprego. Na População entre os 24 e 64 anos, como é medida a taxa de emprego na UE, na estratégia UE 2020, definiu-se uma meta de 75%. Em 2012, Portugal estava em 66,5%. Face a 2011 desceu 2,6 pontos percentuais em apenas um ano. Em 2008, Portugal chegou a ter 73,1%, acima da média europa.

Em suma, há uma destruição impressionante do emprego e do aparelho produtivo nacionais. A Europa define metas. Umas contam. Outras não, como a taxa de emprego. Muito difícil, assim, acreditar que seja possível manter a União Económica e Monetária. Mas acredita-se que a força desta realidade negra irá alterar este caminho sem saída.

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