Descida do desemprego não trava destruição de 42 mil postos de trabalho

Número de pessoas sem trabalho desceu em quase 20 mil no primeiro trimestre face ao anterior. População activa e empregada voltaram a encolher.

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Dos 788,1 mil desempregados registados, 86,4 mil (11%) estão à procura do primeiro trabalho DR

Menos 61,8 mil pessoas na população activa, menos 19,9 mil desempregados, mas também menos 42 mil pessoas com trabalho. As estatísticas que o Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou ontem dão conta de tendências aparentemente diferentes sobre a evolução do mercado de trabalho nos primeiros três meses do ano, por comparação com o último trimestre de 2013. E, mais uma vez, para pólos opostos foi a leitura política dos números, com a maioria de Governo PSD/CDS-PP a salientar a queda do desemprego e a oposição a notar a destruição de postos de trabalho e a alertar para o efeito da emigração.

Na mesma altura em que se registou uma diminuição do número de desempregados, para 788,1 mil indivíduos, assistiu-se a uma nova diminuição em cadeia da população empregada, que passou para 4,427 milhões. Nos meses de Janeiro a Março, o INE estima o que o número de pessoas com trabalho em Portugal tenha sofrido uma descida de 0,9%, o que já não acontece na comparação homóloga.

Se as estatísticas mostram, por um lado, uma destruição de 42 mil emprego de um trimestre para o outro, há, por outro, uma recuperação de 72,3 mil empregos face ao período homólogo. Isto enquanto a trajectória da população activa se mantém em queda em praticamente todas as faixas etárias, seja na comparação trimestral, seja na comparação homóloga. Do período Outubro-Dezembro para Janeiro-Março, passou de 5,277 milhões pessoas para 5215 milhões, uma queda de 1,2%. Na mesma altura, a população empregada também encolheu, recuando de 4,467 milhões para 4,427 milhões de indivíduos.

Já o desemprego registou uma contracção ligeira, de 0,2 pontos percentuais (equivalente a 19,9 mil pessoas), com a taxa a passar para 15,1% da população activa. Entre os jovens, a taxa aumentou face ao trimestre anterior, passando para 37,5%

O INE estima que haja em Portugal 788,1 mil desempregados, aos quais se somam 25,8 mil inactivos à procura de emprego, mas não disponíveis, e outras 276,6 mil pessoas inactivas disponíveis para trabalhar, mas que não entram na definição de desemprego, porque não procuraram emprego no período de referência utilizado para a estatística de desemprego registado.

A queda do desemprego é mais expressiva se for comparada com o período homólogo, quando o número oficial de desempregados atingia um pico histórico de 926,8 mil. Há agora menos 138,7 mil indivíduos no desemprego, mas o número continua próximo dos níveis de há dois anos, quando o país estava em recessão.

Dos 788,1 mil desempregados registados, 86,4 mil (11%) estão à procura do primeiro trabalho. Entre os 701,7 mil que estavam à procura de um novo emprego, a maioria tinha trabalhado em actividades de serviços (428,2 mil), seguindo-se 220,6 mil pessoas das áreas da indústria, construção, energia e água, somando-se 19,2 mil da agricultura, floresta e pesca.

As estatísticas (mensais) mais recentes do Eurostat – que recorre a uma metodologia diferente, cruzando as estatísticas do Instituto do Emprego e Formação Profissional (INE) com a medição do INE – apontam para uma estabilização do desemprego em 15,2% da população activa de Janeiro a Março.

Na comparação entre trimestres, o número de trabalhadores por conta própria continuou a diminuir (para 891,4 pessoas), assim como o de trabalhadores familiares não remunerados (22,5 mil pessoas). A população a trabalhar a tempo completo também diminuiu (para 3,840 milhões de pessoas), somando-se ainda 586,8 mil indivíduos que trabalham a tempo parcial e outros 244,9 mil na mesma situação que declaram querar trabalhar mais horas. As situações de subemprego registadas pelo INE e os casos de trabalho a tempo parcial representam, juntos, perto de 19% da população empregada.

Se PS, PCP e Bloco de Esquerda salientaram o impacto da emigração nos dados do mercado de trabalho e notaram a queda da população empregada, atribuindo-a às políticas do Governo, os partidos da maioria voltaram a fazer a leitura contrária, ligando a descida do desemprego ao resultado das medidas económicas do executivo.
 

   

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