Trocou Wall Street pelo gosto do gin

Anshuman Vohra deixou a banca de investimento para criar uma marca da sua bebida favorita. A Bulldog já ferrou os dentes no mercado português.

Foto
Anshuman Vohra apostou na criação da marca de de gin Bulldog Enric Vives-Rubio

É evidente à primeira vista que Anshuman Vohra tem muito apego à marca que o fez desistir de Wall Street. O empresário, de 36 anos, traz ao pescoço uma placa, semelhante às dos militares, onde se lê Bulldog, um gin nascido nos EUA, fabricado no Reino Unido e que encontrou em Portugal um dos seus principais mercados. A capa do telemóvel tem também Bulldog escrito (o nome é uma alusão à alcunha de Sir Winston Churchill). E Vohra garante que sai dos bares quando se apercebe que estes têm gins de outras marcas, mas não o seu.

Vohra almoçou nesta sexta-feira com jornalistas no luxuoso hotel Sheraton, no centro de Lisboa – uma refeição acompanhada com água e gin tónico (com soda no caso de Vohra, para evitar o açúcar). Numa história narrada com os pormenores e a fluência de quem já a contou muitas vezes, o fundador da Bulldog recordou o seu próprio percurso, um caso de sucesso self made à americana. Nasceu na Índia (o pai era diplomata, viajou muito na quando era novo), foi para os EUA com o sonho de jogar ténis profissional, acabou a trabalhar no mundo da finança, com um salário de seis dígitos ao ano no JP Morgan quando ainda estava na casa dos vinte. Desistiu da banca de investimento para lançar a própria empresa. A ideia era transformar o gosto por gin (que bebia com muita frequência, mas de que não sabia quase nada) num negócio. 

A empresa foi lançada enquanto ainda trabalhava. Deixara o JP Morgan e estava numa pequena empresa de fusões e aquisições em Nova Iorque. Contratou estagiários não remunerados para fazerem o seu trabalho e poder-se dedicar ao lançamento da empresa. A marca foi criada pela mesma agência publicitária que concebeu o icónico camelo dos cigarros Camel - e que não cobrou imediatamente pelo trabalho, optando por ficar com uma parcela dos lucros. Os primeiros 600 mil euros de investimento foram conseguidos junto de amigos. Em 2006, já a trabalhar com uma destilaria no Reino Unido (a única que lhe respondeu), Vohra despediu-se para se dedicar a tempo inteiro à Bulldog, que hoje emprega 11 pessoas. “Não foi uma decisão difícil”, garantiu, frisando, porém, que não é “uma daquelas pessoas que podem passar seis meses sem um salário”.

A Bulldog posiciona-se como uma marca de gin premium.  No supermercardo, uma garrafa de 70 centilítros custa um pouco menos de 30 euros (o gin é uma bebida com alto teor alcoólico e, por norma, não é consumida simples - 70 centilitros serão suficientes para a preparação de 22 bebidas, lê-se na garrafa). Num bar, um copo ultrapassa facilmente os dez euros. E é nos restaurantes, bares e discotecas que a Bulldog faz 70% das vendas no mercado português.

Há poucos anos, o gin tornou-se moda em Portugal. Tornaram-se frequentes os grandes copos com a bebida transparente, muito gelo, especiarias e pedaços de fruta à mistura. Este ano, a Bulldog estima que vai vender 100 mil garrafas em Portugal, três vezes mais do que no ano passado. “Os portugueses têm um palato muito delicado”, disse o empresário, num de muitos elogios à cultura portuguesa. Apesar da crise de consumo, “têm aceitado muito bem os gins premium”, acrescentou.

Espanha é o principal mercado da Bulldog, os EUA surgem em segundo lugar e Portugal é o terceiro país onde a empresa mais vende (as lojas livres de impostos nos aeroportos têm um papel muito relevante; colocando-as na lista, ficam em terceiro lugar). Com uma facturação de 9,5 milhões de euros anuais, este será o primeiro ano em que a Bulldog é rentável. 

Sugerir correcção
Comentar