Criação lenta de emprego gera dúvidas em torno da Fed

A economia mundial continua à espera de mais subidas de taxas nos EUA. Mas um mercado de trabalho lento em Maio e o risco proveniente do Brexit podem adiar decisão.

Foto
Investidores esperam clarificação por parte da presidente da Fed Alex Wong/AFP

Quando, no passado mês de Dezembro, subiu as taxas de juro pela primeira vez em nove anos, a Reserva Federal norte-americana passou a mensagem de que novas subidas iriam acontecer durante este ano, à medida que a economia dos Estados Unidos deixava definitivamente o risco de uma nova recessão. Passados seis meses, no entanto, não foram feitas mais subidas de taxas e nos mercados voltou a crescer a incerteza em relação àquilo que a Fed pretende fazer.

Para já, apenas uma coisa parece certa. No final da reunião que termina esta quarta-feira, os responsáveis da Reserva Federal não deverão mexer nas taxas de juro. Uma subida era, há apenas algumas semanas atrás, considerada muito provável, mas entretanto surgiram duas grandes razões para esperar mais um compasso de espera por parte da Fed.

Em primeiro lugar, o cenário de um voto favorável à saída do Reino Unido da União Europeia no final deste mês tornou-se mais provável, o que faz com que na Fed se prefira esperar para ver que potenciais efeitos negativos podem vir a ser sentidos nos mercados antes de voltar a subir taxas de juro. Isto significa não actuar na reunião desta quarta-feira e adiar uma decisão para a reunião de Julho.

Depois, na passada quarta-feira, foram divulgados os dados de Maio para o mercado de trabalho, que mostraram o ritmo de crescimento do emprego mais lento dos últimos seis anos, com apenas 38 mil novos postos de trabalho criados. Estes números constituíram uma desilusão e constituem uma razão para que a Fed volte a ser mais prudente na sua estratégia de fazer regressar as taxas de juro dos EUA para um nível mais normal.

Se se confirmar uma decisão de não mexer nas taxas esta quarta-feira, as expectativas viram-se para aquilo que irá ser dito por Janet Yellen, a presidente da Fed, no final da reunião. Nos mercados, está-se à espera de sinais mais concretos em relação a qual a estratégia que a autoridade monetária norte-americana pretende seguir. Mas a verdade é que o mais provável seja a manutenção de um clima de alguma incerteza.

São cada vez mais as críticas que se ouvem, acusando a Fed de não ser suficientemente clara na definição da sua estratégia, de ter recuado em relação ao que tinha sinalizado no final do ano passado e de, assim, estar a colocar em causa a sua própria credibilidade.

Do lado da Fed, no entanto, a ideia é a de que são os indicadores económicos que vão saindo que ditam as decisões que acabam por ser tomadas. “O melhor que nós legitimamente podemos fazer é explicar quais os factores que estão a guiar o nosso pensamento”, disse Janet Yellen na sua mais recente intervenção pública.

Os indicadores para que a Fed olha são, essencialmente, o desemprego e a inflação. A taxa de desemprego está já nos 4,7%, um nível bastante baixo em termos históricos, mas a pressão sobre a inflação, que noutras ocasiões seria imediata com um taxa de desemprego tão baixa, demora a fazer-se sentir.

No mesmo discurso, Yellen deixou a ideia de que acredita que os dados fracos do emprego em Maio serão passageiros, podendo registar-se uma recuperação já em Junho. Se tal acontecer, e com a questão do Brexit já definida, é muito provável que uma nova subida de taxas aconteça na reunião de Julho.

Ainda assim, para muitos analistas e investidores, as dúvidas em relação ao rumo da política monetária nos EUA irão manter-se nos próximos meses. Porque mais do que um temporário abrandamento na criação de emprego, o problema é a séria ameaça de um período longo de crescimento lento da produtividade, aquilo a que o ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers chama de “estagnação secular”. Se esse cenário se concretizar, a Fed até pode vir a subir mais vezes a taxa este ano, mas é muito pouco provável que os juros voltem aos níveis que no passado eram normais.

Sugerir correcção
Comentar