CP Carga perde terminais ferroviários no ano em que atinge os melhores resultados de sempre

Comissão de trabalhadores diz que passagem dos terminais ferroviários para a Refer visa a sua privatização sob a égide da futura Infraestruturas de Portugal.

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A empresa tem visto a privatização adiada

Desde o início do mês que os 13 terminais ferroviários que eram exclusivos da CP Carga passaram a ser explorados pela Refer por forma a garantir o acesso àquelas infra-estruturas por outros operadores.

Esta transferência ocorre no preciso momento em que a participada da CP, antecipando os seus resultados de 2014, anuncia que estes são os melhores de sempre, tendo batido o recorde de mercadorias transportadas (9,2 milhões de toneladas) e um aumento da receita na ordem dos 16%. Em consequência, os prejuízos reduziram-se de 23 milhões de euros em 2013 para 16 milhões no final deste ano.

Em comunicado, a empresa diz que a sua sustentabilidade “poderá ser uma realidade a curto prazo”.

No entanto, a perda dos terminais representa um revés nesse desiderato, pois a empresa tinha lucros resultantes da sua exploração na ordem dos 1,5 milhões de euros. Para 2015, e segundo fonte oficial da CP Carga, esta esperava ganhar 1,7 milhões de euros por via “das receitas provenientes de concessões de espaços”. Um lucro que agora vai perder, podendo a despesa vir a aumentar em função dos serviços que passará a pagar à Refer para aceder aos terminais.

A mesma fonte diz que “a CP Carga não tem dados que lhe permitam quantificar os reflexos que daí resultarão na actividade comercial da empresa por se desconhecer as medidas de gestão e que alterações de funcionamento irá a Refer implementar”.

A empresa, que está há quatro anos para ser privatizada (o Governo tem vindo a adiar esse processo em cada seis meses), perde, assim, valor.

Em comunicado, a Comissão de Trabalhadores da CP Carga insurge-se contra a transferência dos terminais para a Refer. “A Comissão de Liquidação da Refer (com o nome de Grupo de Trabalho para a Fusão da Refer com a Estradas de Portugal) já assumiu que estes terminais de mercadorias são para privatizar através de uma concessão, pelo que o processo real que está a ser implementado visa entregá-los a um grupo económico privado (provavelmente concorrente da própria CP Carga”, diz o documento). Um processo de transferência do público para o privado, concluem.

A actividade da CP Carga com origem e destino nos portos nacionais, representa já 65% do volume de negócios da empresa. Em 2014, o tráfego de contentores de e para os portos de Sines e Leixões cresceu 34%. E os cimentos e produtos siderúrgicos, (com ligações aos portos de Aveiro, Setúbal e Leixões) cresceram, respectivamente, 18% e 32%.

A empresa pública de mercadorias registou ainda um aumento de 200% no transporte de amoníaco do Lavradio (Barreiro) para Estarreja.

No tráfego internacional, os contentores para Espanha cresceram 24%, os adubos de Alverca para Burgos 30% e os produtos da siderurgia do Seixal para o país vizinho 34%. O transporte de madeira da Galiza para as fábricas de papel do Louriçal aumentou 13%.

Em resposta a perguntas do PÚBLICO, a CP Carga diz que a competitividade do transporte ferroviário de mercadorias tem a ver com o volume e a distância percorrida. “Em termos de distância, temos o país que temos, sendo que a distância média por tonelada é da ordem dos 230 Kms”, diz a mesma fonte.

Mas quanto ao volume, a empresa diz que tem locomotivas e vagões para que “os comboios de mercadorias pudessem transportar muito mais carga, o que não acontece por constrangimentos da infraestrutura”.

Constrangimentos que a empresa diz estarem devidamente identificados no PETI3+ (Plano Estratégico dos Transportes), esperando que venham a ser eliminados com os investimentos previstos na rede ferroviária nacional até 2020/22.

Até ao início do mês, a CP Carga estava na posse dos terminais de São Mamede de Infesta, Darque, Mangualde, Guarda, Fundão, Leiria, Loulé, Estremoz, Vale da Rosa e São Romão. Os mais importantes, porém, são Bobadela, Leixões e Praias Sado (Setúbal).

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