Cortes salariais ultrapassam desemprego nas causas para o sobreendividamento

No primeiro semestre, 17 mil famílias pediram ajuda à Deco.

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Deco explica que muitas famílias só pedem ajuda quando já não têm recuperação possível por ausência total de rendimentos Manuel Roberto

Pela primeira vez, a deterioração das condições de trabalho tornou-se na principal causa do sobreendividamento das famílias que pedem ajuda à Deco. Entre Janeiro e Junho, 17 mil famílias contactaram a associação, mas o número de processos de acompanhamento caiu 28% porque muitas já se encontram numa situação em que a recuperação não é possível.

O Diário de Notícias e o Jornal de Notícias escrevem, neste domingo, que a deterioração das condições de trabalho, essencialmente por via dos cortes salariais, justificou 38% dos pedidos de ajuda ao Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS), criado pela Deco em 2005, quando pesava 29% em 2013. O desemprego, que no ano passado pesava 35% e era a principal causa para as dificuldades financeiras, passou para segundo lugar, representando no primeiro semestre de 2014 34%.

Apesar de 17 mil famílias terem pedido ajuda à associação entre Janeiro e Junho, apenas 1552 processos foram abertos, o que significa uma redução de 28% face ao primeiro semestre de 2013.

A coordenadora do GAS explica que “as famílias estão numa situação financeira mais débil e já não conseguem reestruturar as suas dívidas devido à ausência quase total de rendimentos e algumas até já foram confrontadas com a penhora de bens”. Natália Nunes acrescenta que, nesses casos, a Deco encaminha as famílias para a insolvência, o que tem sido cada vez mais recorrente.

A associação só abre processos de acompanhamento para as famílias cuja reestruturação financeira é viável ou que não foram ainda alvo de processos judiciais, seja insolvências, penhoras ou acções de execução.

Os dados da Deco mostram ainda que 35,1% dos pedidos de ajuda partem de trabalhadores do sector privado (um aumento face aos 33,6% de 2013). Os desempregados surgem em segundo lugar, com 32,1%, o que também revela uma subida face ao período homólogo, em que a fasquia era de 30,4%.

Já os funcionários públicos registaram uma tendência inversa, pesando 15,6% no primeiro semestre deste ano, quando representavam 16,1% em 2013. O mesmo aconteceu com os reformados (de 15%, no ano passado, para 11,6% em 2014). E, por fim, os trabalhadores por conta própria assistiram a um aumento de 4,9% para 5,6%.

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