Consumo de combustíveis em Portugal não voltará a níveis pré-crise antes de 2016

Com o consumo interno em baixa, o vice-presidente da Galp Energia assume que a aposta são as exportações.

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Luís Palha da Silva, vice-presidente da Galp Energia Sandra Ribeiro
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Jeff Pachoud/AFP

Serão precisos pelo menos “dois, três anos” até que o consumo de combustíveis em Portugal regresse a níveis de 2008, sustenta o vice-presidente da Galp Energia, Luís Palha da Silva.

O estatuto de maior exportador português é um facto consumado, é uma responsabilidade acrescida?
Somos um dos grandes exportadores com muito orgulho, mas se pudéssemos vender no mercado interno, talvez as quantidades exportadas fossem inferiores. Quando começámos este investimento prevíamos uma proporção maior de mercado interno. Se a economia crescer bastante, obviamente privilegiaremos o mercado interno, mas até que isso venha a acontecer, teremos grande capacidade exportadora. No primeiro trimestre foi a paragem da refinaria. Mas agora, já com as fábricas em pleno funcionamento, voltaremos ao ritmo exportador do ano passado.

Os sinais de recuperação do mercado interno confirmam-se?
Há segmentos interessantes, como a aviação e a marinha, que embora pequenos na totalidade começam a ter números positivos. Mas estamos preparados para que nos próximos dois, três anos, o consumo não chegue aos níveis de 2008, 2009.

Qual é a estratégia para África?
Temos intenção clara de crescer nos mercados onde estamos [Cabo Verde, Guiné, Gâmbia, Angola, Moçambique e Malawi] e de entrar em novos. África não tem o problema do consumo. A maioria dos países onde estamos cresce 7% a 8% ao ano e prevê-se que o continente venha a registar o maior crescimento mundial. O contributo para as vendas ainda é pequeno [cerca de 7%], mas nos grandes países temos a vocação para ser número um ou dois.

Como encara a nova legislação dos postos low cost?
Se olharmos para a análise desapaixonada da Autoridade da Concorrência a conclusão é clara: o mercado é muito competitivo e por isso as rentabilidades são relativamente baixas. Quando se olha para a formação dos preços dos combustíveis vê-se que pelo menos metade são impostos e quando se diz que o consumidor tem de ter preços mais baixos… eu sei qual é a maneira…

Quanto vai a lei custar à Galp?
Estamos a calcular, mas é um investimento pesado, de milhões, e sabemos que não vai contribuir para a baixa de preços. Dificilmente os objectivos da lei se irão concretizar. Interferências desajustadas nunca ajudam o mercado a funcionar melhor.

O que espera da reforma da fiscalidade verde?
Temos uma preocupação europeia e nacional. Não gostaríamos de ver tratada de forma diferente a indústria petrolífera de outras que, também tendo emissões, não parecem tão poluentes, como o biodiesel. Gostaríamos que a Europa não se colocasse numa situação em que é vista como o sítio onde não se deve investir, incentivando a transferência da indústria para áreas com visões mais pragmáticas, como os Estados Unidos. Também gostaríamos que Portugal olhasse para Espanha, para que houvesse igualdade de circunstâncias por exemplo na integração de biocombustíveis nos combustíveis. Por considerar que isso representava custos mais elevados para as empresas, os espanhóis fixaram limites inferiores aos do resto da Europa e Portugal manteve-se na sua.

Corremos o risco de ser os bons alunos e ficar em situações difíceis?
Não corremos o risco, temos deliberadamente essa intenção. A ideia da fiscalidade verde é que ela se sustenta a si própria, o senhor ministro do Ambiente considera que esta exigência para connosco próprios é rentável. Por isso fala em economia verde e não apenas em fiscalidade verde. Em muitas áreas estamos de acordo, mas gostávamos que todos estivessem em igualdade de circunstâncias na Europa e que esta olhasse com atenção para as razões que explicam o menor crescimento dos últimos anos e as previsões de menor crescimento dos próximos.

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