Confronto absurdo

A Grécia sobrevive graças ao BCE. A fuga de capitais esvai os bancos. Contaminado o Tesouro, torna-se difícil o acesso aos mercados: quando o financiamento é obtido os títulos são colocados de novo nos bancos que, por sua vez, parqueiam dívida no banco central. O BCE avisou. Os bancos gregos devem parar a compra da dívida emitida por Atenas e recorrer à linha de Assistência de Liquidez de Emergência (ELA, no acrónimo inglês). O calendário de reembolsos é pesadíssimo. Em Março, cerca de 1,5 mil milhões (MM) de euros foram pagos. A falência do Estado iminente. A exposição do BCE à dívida é de 104 MM de euros, o equivalente a 66% do PIB da Grécia. Dissipativa, centrífuga e exangue, finalmente, a Grécia dará a conhecer as reformas que acordou. Após avaliação e aprovação, receberá 7,2 MM de euros do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira em curso. Terá mais tempo, mas não afasta o cenário Grexit ou Grexident. Tsipras chega ao poder e opta por equilíbrios longínquos, em vez de admitir que a Europa se constrói com flexibilidade, negociação, compromisso. Não aproveitou o momento de rara unanimidade na UE. Reconhecem-se erros na arquitectura do euro, falhanço nas troikas, pesados custos infligidos aos povos, consequência de dramas da austeridade excessiva. E escapam-lhe alianças. Com Juncker, tocado pela má consciência do passado (Luxleaks), mas agora apostado no investimento e no emprego; com Draghi, determinado em empreender a histórica expansão monetária à revelia da Alemanha; com Hollande, Renzi e Rajoy a procurarem demolir os dogmas que sufocam o crescimento económico. Tsipras ressuscita o método intergovernamental. Em confronto com as instituições europeias, sem resultados. É tempo de a política se sobrepor à finança, mas se a inversa persistir falha “a busca de um país liberto, de uma vida limpa e de um tempo justo” (Sophia). Adeus Tsipras.

Economista

 

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