Confiança dos consumidores cai pela primeira vez em 14 meses

Sentimento económico na Europa recua para mínimos deste ano.

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O indicador de confiança dos consumidores em Portugal sofreu uma queda ligeira este mês, em linha com o recuo verificado no resto da União Europeia. A descida, a primeira nos últimos 14 meses, foi motivada sobretudo por perspectivas mais negativas sobre a possibilidade de poupança futura e sobre a evolução da situação económica do país.

O indicador é medido pelo INE, através de inquéritos. Em Julho, tinha sido apurado o valor mais elevado desde Janeiro de 2007. A quebra anterior foi registada em Maio do ano passado.

Os dados, publicados nesta quinta-feira, mostram que, considerando a situação no momento do inquérito, os consumidores até se mostraram mais confiantes do que em Julho na possibilidade de realizar poupanças. Mas as perspectivas são mais negativas quando questionados sobre os 12 meses seguintes. Os inquiridos afirmaram também estarem menos dispostos a comprar bens duradouros, uma categoria onde se incluem produtos como automóveis, electrodomésticos e mobiliário.

Estes indicadores traduzem incerteza quanto ao futuro, nota o economista João Cerejeira, professor na Universidade do Minho: “As pessoas estão a poupar mais, mas têm desconfiança quanto ao futuro. É um comportamento de salvaguarda.”

O economista argumenta que o ligeiro recuo na confiança dos consumidores pode estar associado à crise no BES. “É um pouco o reviver do caso BPN. Pode haver alguma desconfiança quanto à forma como isto está a ser resolvido”. Para além disso, observa ter havido um pico em Julho na intenção de compra de bens duradouros, que poderá ser explicado com a decisão de Maio do Tribunal Constitucional, que chumbou os cortes salariais aos funcionários públicos.

As incertezas quanto a medidas que poderiam estar presentes no orçamento rectificativo (enviado esta quinta-feira ao Parlamento) também pode ter ajudado à ligeira retracção na confiança dos consumidores, refere Cerejeira.

Já o economista José Reis, da Universidade de Coimbra – ressalvando que estes são “indicadores genéricos” cujas variações mensais podem não reflectir realidades estruturais – nota que a descida acaba por traduzir “um país que não oferece perspectivas, não tem uma trajectória económica e social estabilizada”. A falta de confiança, diz o académico, pode ainda ser explicada pelos “grandes focos de instabilidade que da noite para o dia caem sobre a economia e a sociedade”.

Europa menos confiante

Também a União Europeia – tal como a zona euro – está menos confiante na evolução da economia. O indicador de sentimento económico, que agrega as perspectivas de empresas e consumidores, recuou neste mês para o valor mais baixo de 2014, segundo dados publicados também nesta quinta-feira pela Comissão Europeia.

A descida acontece numa altura em que prossegue a instabilidade na Ucrânia e quando a Rússia e a Europa travam uma batalha de sanções económicas. Na Alemanha, a maior economia do continente, o sentimento económico sofreu uma queda pelo quarto mês consecutivo.

O comissário europeu dos Assuntos Económicos, Jyrki Katain, admitiu, num comunicado, preocupação com a quebra, notando, porém, que não se tratou de uma surpresa, dados “os números decepcionantes de crescimento no segundo trimestre e as tensões geopolíticas que que marcaram este Verão”.

Enquanto na UE, tanto empresas, como consumidores se mostraram mais pessimistas do que em Julho, em Portugal, porém, os empresários disseram estar mais confiantes. O indicador do clima económico, medido pelo INE e que reflecte as perspectivas das empresas, recuperou ligeiramente este mês, atingindo o máximo desde Julho de 2008, embora o sector do comércio manifeste um sentimento negativo.

Na indústria transformadora, a confiança aumentou para o valor mais elevado desde Setembro de 2008, com a subida a resultar das opiniões positivas sobre a procura global. Já no sector da construção e obras públicas, a confiança aumentou ligeiramente, “prolongando a trajectória crescente iniciada em Dezembro de 2012 e atingindo o máximo desde Novembro de 2010”, informa o INE. No entanto, apesar de as empresas mostrarem uma opinião positiva sobre as encomendas, as perspectivas de emprego no sector tiveram uma evolução negativa. Também nas empresas de serviços o indicador de confiança manteve a trajectória ascendente.

No comércio, pelo contrário, o mês de Agosto veio acentuar a queda registada ao longo dos últimos três meses, depois de um crescendo de confiança que se vinha a verificar desde Fevereiro de 2012. São os retalhistas que mais contribuem para a descida, explica o INE: "No comércio a retalho verificou-se uma redução na maioria das variáveis em Agosto, salientando-se o agravamento das apreciações sobre o volume de vendas e das perspectivas de actividade."

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