Compromisso e desafio

O desafio é enorme: desfazer a política de austeridade e compatibilizar a reversão da política de rendimentos; reforçar o sistema previdencial; reorientar a política económica e orçamental para o crescimento e coesão social, no respeito pelas regras da UE. As obrigações do país não permitem grande margem. Os pontos de atrito antevêem-se: reduzir o défice com crescimento económico, interromper a desvalorização salarial e o corte de pensões, devolver a sobretaxa, diversificar fontes de financiamento para garantir a sustentabilidade da Segurança Social, reposicionar a negociação coletiva e colocar em rota ascendente o salário mínimo, travar os processos de privatização. Medidas a exigirem um governo com apoios internos alargados e uma nova atitude da Europa. Entre compromisso e desafio, evitem-se riscos. Nos compromissos, Portugal, membro de pleno direto da EU, dos primeiros na zona euro, tem que respeitar as regras europeias de disciplina orçamental, os pacotes legislativos Six Pack e Two Pack, o Tratado Orçamental. Sair do Procedimento por Défice Excessivo é indispensável e consensual, como reduzir o rácio da dívida e atingir no médio prazo o objectivo para o défice estrutural. Dos desafios, é prioritário contribuir para o regresso às dinâmicas de convergência, hoje em bloqueio pela queda do investimento, pelo peso excessivo da dívida e pela estagnação económica prolongada. Critico para a sobrevivência a prazo da UEM é inverter o sentido das divergências económicas, sociais e políticas. Neste tempo de viragem, a Europa precisa de vozes que ajudem a colocar os direitos das pessoas à frente da emergência financeira. Das forças que agora se unem espera-se que construam uma relação estável e frutuosa, afinal, na Europa, nada é mais natural que uma mudança de governo.

Economista

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