Companhia de aviação da América Latina interessada na compra da TAP

Novo investidor já abordou Governo para obter mais informações. Companhia pôs em marcha plano para criar almofada financeira que lhe permita sobreviver ao processo, já que não pode recorrer à Parpública.

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Companhia liderada por Fernando Pinto vai vender e alugar dois A340 para gerar encaixe financeiro Miguel Manso

O Governo recebeu nas últimas semanas a manifestação de interesse de um novo investidor no processo de privatização da TAP. Trata-se de uma companhia de aviação com origem na América Latina. Uma solução que será considerada preferencial na altura de vender a transportadora aérea portuguesa. Até lá, a empresa terá de avançar com um plano que lhe permita sobreviver à escassez de meios, já que os bancos geralmente deixam de conceder crédito nestes momentos e também já não é possível recorrer à Parpública para obter um empréstimo, como aconteceu no passado.

Ao que o PÚBLICO apurou, a abordagem ainda é preliminar, tendo sido pedidas mais informações sobre a operação, na sequência da decisão, tomada a 13 de Novembro em Conselho de Ministros, de privatizar, numa primeira fase, 66% da TAP (com o objectivo de que o Estado saia totalmente do capital a médio prazo). O executivo vê com muito bons olhos esta aproximação.

Por um lado, quanto mais competitiva for a corrida à companhia de aviação nacional, melhor será o resultado. Por outro, é dada prioridade a propostas estratégicas, de candidatos ligados à aviação, sobretudo os que venham de geografias completares à TAP, como é o caso da América Latina.

Já há dois investidores com estas características que manifestaram vontade em concorrer: a Avianca, de Gérman Efromovich, e a Azul, de David Neeleman. Em 2012, aquando da primeira tentativa de privatização, duas outras companhias sul-americanas foram referidas como potenciais interessadas: as brasileiras Gol e TAM (que se fundiu com a chilena LAN). Porém, o interesse não chegou a ser concretizado. No final de Outubro, o vice-primeiro-ministro e o ministro da Economia lideraram uma missão empresarial ao México, durante a qual deixaram transparecer que poderia haver investidores locais interessados na TAP. Na quarta-feira, o embaixador brasileiro em Portugal, Mário Vilalva, afirmou, citado pela Lusa, que seria muito interessante o Brasil participar neste processo, mantendo a empresa no universo lusófono.

Nas últimas semanas, houve também um investidor chinês que mostrou vontade em conhecer detalhes da operação, tendo inclusive procurado assessores para lhes prestarem apoio. No entanto, esta abordagem não teve, pelo menos por agora, nenhum avanço substancial. Qualquer interessado de fora da Europa terá sempre de encontrar uma solução para cumprir as regras europeias, que proíbem que detenham mais de 49% do capital de empresas europeias. Efromovich, por exemplo, pediu a nacionalidade polaca para poder concorrer. 

Além de Efromovich, o único candidato à primeira tentativa de venda cuja oferta foi rejeitada, e de David Neeleman, há outro investidor ligado ao sector que manifestou, por escrito, interesse em participar no processo: a Air Europa, que faz parte do grupo espanhol Globalia. O executivo também recebeu o mesmo tipo de garantia de um consórcio liderado pelo empresário português Miguel Pais do Amaral e pelo antigo dono da Continental, Frank Lorenzo.

A comissão de trabalhadores da TAP mantém a contestação ao processo, tendo pedido uma reunião “com carácter de urgência” ao Presidente da República, que tem 40 dias para promulgar o diploma que relança a venda. Até lá, o Governo pretende concluir a avaliação financeira da companhia, que servirá de base à privatização. Os consultores ou bancos responsáveis por esta tarefa serão contratados nos próximos dias. Já os assessores financeiros do Estado também serão escolhidos muito em breve. Ao contrário de 2012, em que também a gestora aeroportuária ANA estava em processo de venda e havia quatro bancos envolvidos, deverão ser, no máximo, dois assessores.

À procura de uma almofada
Perante o relançamento do processo de privatização, a TAP teve de colocar em marcha um plano que tem como objectivo criar uma almofada financeira num momento em que será difícil obter financiamento da banca. A solução também já não poderá ser a Parpública, que gere as participações do Estado em empresas, que em 2012 emprestou 100 milhões de euros à companhia para aliviar a tesouraria. Esta holding foi reclassificada, fruto de alterações contabilísticas a nível europeu, e passou a contar para o défice e para a dívida, pelo que o Governo não pode usar esta alternativa.

A situação financeira da TAP foi um dos temas discutidos num encontro entre a administração e o Governo, no qual estiveram presentes os secretários de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, e do Tesouro, Isabel Castelo Branco. A reunião ocorreu na sequência da decisão de relançar a venda. O PÚBLICO confirmou que, como avançou na quarta-feira o Jornal de Negócios, o plano para criar a necessária almofada financeira passa, em parte, por uma operação de venda e aluguer (sale and leaseback) de dois aviões A340, o que permitirá gerar encaixe financeiro sem os retirar da rede.

Além da privatização, e tal como Expresso noticiou no sábado, também os problemas vividos no Verão colocaram sob pressão as finanças da TAP. Além disso, a transportadora prepara-se para enfrentar o quinto dia de greve este ano, com o último período de protestos dos tripulantes, a 30 de Novembro e 2 de Dezembro. O número de dias de paralisação subirá para sete, com a greve na PGA, a 12 e 14 de Dezembro.

Outra situação que está a penalizar a empresa é a retenção de receitas em alguns mercados, especialmente na Venezuela. Tal como o PÚBLICO noticiou, o Governo venezuelano tem uma dívida superior a 100 milhões de euros para com a TAP.

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