Como se apanha um macaco

Há muitas técnicas para apanhar macacos. A mais interessante é, sem dúvida, aquela em que o bicho colabora voluntariamente na sua própria captura, e que não envolve nem redes, nem flechas, nem violência bruta, mas apenas a hábil manipulação da força irresistível da psicologia, e que é usada nas florestas de Mindanao.

Primeiro, arranja-se um jarro de vidro, suficientemente pesado e com gargalo de abertura bastante para deixar passar uma laranja ou maçã. A seguir, coloca-se o jarro numa clareira, com um fruto lá dentro. Depois é só esperar num local discreto. Quando um grupo de símios descobre o fruto dentro do jarro, consideram cuidadosamente a situação, possivelmente reminiscentes de experiências anteriores. Monos são animais ponderados e sabem que, na selva, não há almoços grátis. No entanto, acontece sempre que um, mais guloso ou mais afoito, passa à ação: põe a mão dentro do jarro e agarra a maçã. Está perdido. Como o gargalo não tem diâmetro para a mão com a maçã, ele não consegue retirar a mão. O caçador pode então aproximar-se. Não é preciso correr, que o animal não tem força para arrastar o jarro. E como um macaco, quando se agarra a algo, não o larga, não há perigo que ele fuja deixando a maçã.

Nós, os homens, somos como os macacos. Se nos agarramos a algo, não o largamos. Mesmo que seja para nossa desgraça e perdição. Experiências realizadas em anos recentes no âmbito das Finanças Comportamentais deram a conhecer a académicos modernos, de espírito simples, o que as tribos sofisticadas de Mindanao sabem há gerações: que a aversão às perdas supera em muito a atração dos ganhos. Esta característica leva àquilo que os ditos académicos denominam de “comportamentos irracionais”: grande resistência a largar algo que já se tem por coisa mais preciosa que ainda não se tem. Todos conhecemos famílias que se apegam a património inútil e oneroso, empresas que não largam ativos ineficientes, consumidores que se colam a marcas desnecessárias e dispendiosas, profissionais que se fixam a carreiras sem sentido e nações que se agarram a ilhotas rochosas e territórios hostis. Tudo lastro que os prende e que, ou lhes custa a pele, ou os não deixam correr para um futuro mais promissor. Afinal, o que é mais importante? A maçã, ou a aventura diária na selva?

Mas o facto é que quase todos preferimos a maçã à vida em liberdade. Como os macacos de Mindanao.

Professor de Finanças, AESE

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