Comissário europeu apoia proposta do FMI para baixar salários em Espanha

Olli Rehn apela a um consenso alargado entre os parceiros sociais para combater o desemprego.

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Comissário Olli Rehn diz que erros do primeiro resgate grego estão a ser corrigidos Foto: John Thys/AFP

O comissário europeu para os assuntos económicos e financeiros, Olli Rehn, defendeu nesta terça-feira a proposta do FMI que sugere que Espanha trabalhe num amplo consenso social que permita baixar salários até 10%, de forma a combater o desemprego.

No seu blogue, alojado no site da Comissão Europeia, Rehn admite que esse acordo é difícil. “Mas não valerá a pena fazer uma tentativa séria por causa desses milhões de jovens espanhóis que estão actualmente desempregados”, pergunta, para acrescentar que os agentes que “o rejeitarem à partida irão ter sobre os ombros uma enorme responsabilidade face aos custos sociais e humanos”.

Na semana passada, o FMI, na análise anual à economia espanhola, apela a que seja feito um grande pacto entre sindicatos e empresários, em que os primeiros aceitem que os trabalhadores reduzam os seus salários em 10% e os últimos se comprometam a aproveitar a poupança obtida para baixar preços e criar emprego.

Para além do corte dos salários, o FMI sugere ainda que o Estado colabore com uma redução das contribuições para a segurança social de 1,7 pontos percentuais, que apenas seria compensada em termos orçamentais dois anos mais tarde, com a passagem de alguns bens da taxa de IVA reduzida para a normal. Esta última medida é uma nova tentativa de reabilitar em Espanha uma medida do tipo da do corte da TSU tentada, sem sucesso político, em Portugal.

Começando por sublinhar que já há indicadores económicos que apontam para uma melhoria da situação nos países europeus, o comissário lembra que não é possível cantar vitória pois em muitas nações o desemprego é “inaceitavelmente alto”. É o caso de Espanha onde, “nos últimos anos, a falta de flexibilidade e a dualidade marcante no mercado de trabalho se traduziram em grandes perdas no emprego”.

Notando que há sinais positivos, mas ainda não fiáveis, de criação de emprego em Espanha e elogiando os esforços da economia espanhola de realocar os recursos de sectores não transaccionáveis, como a construção, para outros mais produtivos, o comissário diz que não se pode perder o momentum da reforma. Daí o elogio à proposta do FMI, que apela a um compromisso entre os parceiros sociais. Rehn cita o estudo da instituição liderada por Lagarde, crente que “um aumento do emprego [possível através deste acordo] e uma inflação mais baixa iriam aumentar o consumo já no segundo ano de vigência do acordo e o desemprego cairia 6 a 7 pontos percentuais ao longo dos próximos três anos”.

Rehn cita os casos da Irlanda e da Letónia, descritos como histórias de sucesso, onde “um forte sentido de responsabilidade política foi fundamental em termos de reforma económica”.

“Estou mentalmente preparado para o coro de profetas da desgraça que darão voz à sua indignação na imprensa financeira contra esta perspectiva. Mas se tivéssemos confiado neles e seguido os seus conselhos, o euro já teria rebentado há alguns anos”, conclui Rehn.

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