Comissão Europeia faz corte radical nas previsões para a Grécia

Projecções de crescimento para o total da zona euro são mais positivas do que em Fevereiro. Na Grécia, Bruxelas diz que a instabilidade está a prejudicar a retoma.

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Comissão Europeia está pessimista em relação à evolução da economia grega AFP PHOTO/Emmanuel Dunand

A incerteza em relação ao futuro que a Grécia vive desde Dezembro do ano passado já garantiu que o crescimento da economia este ano vai ficar muito próxima de zero, mesmo num cenário em que Atenas chega a acordo nas próximas semanas com os seus parceiros da zona euro, defendeu esta terça-feira a Comissão Europeia na apresentação das suas previsões de Primavera.

De acordo com as novas projecções de Bruxelas, a economia grega irá crescer apenas 0,5% este ano. Este valor não só será inferior aos 0,8% registados em 2014, como fica muito abaixo dos 2,5% que eram previstos pela Comissão Europeia há apenas três meses.

O executivo liderado por Jean-Claude Juncker justifica este corte radical nas previsões de crescimento com “a incerteza que se verifica desde o anúncio de eleições antecipadas em Dezembro”. Bruxelas diz que “a falta de clareza nas políticas do Governo em comparação com os compromissos assumidos pelo país nos acordos com a UE e o FMI aumenta ainda mais a incerteza”, deteriorando os níveis de confiança dos consumidores e das empresas.

Outro factor importante é o aumento das taxas de juro exigidas ao Estado grego pela sua dívida, o que significa que as condições de financiamento da economia se tornaram agora muito mais difíceis.

O crescimento muito mais lento previsto pela Comissão tem também reflexos nas projecções para o desemprego. Em vez de cair para 22% até ao final de 2016, como era previsto em Fevereiro, ficará agora em 23,2%, continuando acima dos 25% este ano.

Nas contas públicas, as previsões tornaram-se também muito mais pessimistas. Em Fevereiro, Juncker e os seus pares acreditavam que a Grécia ia registar um excedente orçamental de 1,1% em 2015, o que lhe permitiria baixar a dívida pública de 176,3% do PIB em 2014 para 170,2% este ano. Agora, já aponta para um novo défice de 2,1% e para uma dívida pública que ultrapassa pela primeira vez a barreira dos 180% do PIB no final deste ano.

A Comissão Europeia faz questão de salientar que as previsões agora apresentadas – e que apontam para um crescimento de 2,9% em 2016 – são feitas confiando num cenário em que o Governo grego chega a acordo com os seus parceiros da zona euro e com o FMI para a libertação das últimas tranches do empréstimo da troika, o que permitiria ao país evitar uma ruptura na sua capacidade para se financiar.
 

Mais optimismo para a zona euro
A Grécia é a excepção numa ronda de previsões em que Bruxelas mostra mais confiança numa retoma na economia europeia. A Comissão Europeia reviu de 1,3% para 1,5% a sua previsão de crescimento na zona euro durante este ano, mantendo a projecção de variação do PIB em 2016 nos 1,9%. Como resultado, a evolução esperada para o desemprego é também ligeiramente mais favorável, com a taxa a cair de 11,6% em 2014 para 11% em 2015. Em Fevereiro apontava-se para um valor de 11,2%.

Esta retoma mais rápida da economia da zona euro tem três explicações, que já têm sido apontadas por diversas outras organizações internacionais: a queda dos preços do petróleo está a reduzir os custos das empresas europeias e a aumentar o rendimento disponível das famílias, a depreciação do euro está a tornar as exportações europeias mais competitivas e a acção decidida do BCE, ao comprar títulos de dívida pública nos mercados, está a tornar mais acessível o crédito às empresas da zona euro.

O que acontecerá depois de estes três efeitos desaparecerem é que já não é tão claro, nem mesmo para os técnicos da Comissão. Num texto que serve de preâmbulo ao relatório, Marco Buti, director do departamento da Comissão responsável pelas previsões, diz que "o legado da crise vai continuar a ser sentido nos anos seguintes". E questiona-se: "Irá a economia ser capaz de gerar uma expansão auto-sustentada e equilibrada depois de estes ventos favoráveis temporários desaparecerem? A resposta não é evidente."

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