Combustíveis e Angola fazem exportações cair em Março

Início de ano negativo para as vendas de bens ao estrangeiro, que durante o primeiro trimestre diminuíram 2% face ao ano passado.

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Paragem técnica na refinaria de Sines afectou desempenho das exportações nacionais Paulo Ricca

        Índices de confiança na Europa estagnados, crise acentuada em diversos mercados emergentes e paragem técnica da refinaria responsável pela venda para o estrangeiro da maior parte dos combustíveis. São vários os factores a contribuir para que as exportações portuguesas de bens estejam a iniciar o ano num tom bastante negativo, agravando os riscos de que o desempenho económico do país este ano possa vir a revelar-se menos forte do que o previsto.

De acordo com os dados publicados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), os exportadores portugueses voltaram a registar, durante o passado mês de Março, uma evolução negativa nas suas vendas ao estrangeiro. E como as importações também caíram, o saldo comercial português continuou a agravar-se.

De acordo com os dados divulgados ontem, as exportações de bens diminuíram 3,9% em Março, face ao mesmo mês do ano passado. Esta quebra representa um regresso à variação homóloga negativa que já se tinha registado em Janeiro (na altura 2,6%), depois de em Fevereiro se ter verificado um ligeiro crescimento de 0,9%. Foi igualmente o resultado mais negativo desde Maio de 2014. No total do primeiro trimestre, observou-se uma quebra das exportações de bens de 2% face ao mesmo período do ano passado.

Este resultado mostra bem as dificuldades que as empresas exportadoras portuguesas estão a encontrar neste início do ano, ao terem de se deparar com os efeitos negativos na procura da conjuntura económica menos favorável a que se assistiu no início do ano, tanto na Europa como principalmente nos mercados emergentes.

E, piorando ainda mais os números, continuou a verificar-se em Março uma tendência de forte redução da exportação de combustíveis e lubrificantes. A venda para o estrangeiro destes bens, que são na sua grande maioria produzidos na refinaria de Sines da Galp, caiu 39,2% em Março, face ao período homólogo. De acordo com o INE, se se excluísse estes produtos da análise, a queda das exportações nacionais em Março teria sido de 1,3%.

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A unidade de produção de gasóleo da Galp em Sines esteve, desde meados de Janeiro e durante 61 dias, em paragem técnica, o que explica em larga medida a evolução negativa das vendas de combustíveis registadas por Portugal. É possível que, nesta frente, se possa vir a assistir a uma normalização dos resultados já a partir de Abril.

Nas importações, os resultados seguem uma tendência semelhante à das exportações, embora com níveis superiores. As compras de bens ao estrangeiro caíram 0,8% em Março, colocando a variação trimestral num valor ainda positivo de 1%.

Como seria de esperar face à diminuição registada nas exportações de combustíveis, também se verificou uma redução na importação destes bens (neste caso não refinados), com uma queda de 26,1%. Não estando a matéria-prima disponível em Portugal, sempre que a Galp aumenta a sua produção para exportação, aumentam também inevitavelmente as importações. E o que está agora a acontecer é o inverso. O INE calcula que, excluindo os combustíveis, a variação das importações em Março teria sido positiva em 2,8%.

Por países, destaque para a continuação da queda a pique das exportações para o mercado angolano, que desceram 46,4% em Março e 45% durante o primeiro trimestre do ano. Angola tem vindo a passar por dificuldades financeiras, que se revelam através da escassez de divisas, prejudicando o desempenho dos exportadores portugueses para o país.

Em contrapartida, as vendas para o principal destino, a Espanha, mantiveram uma tendência positiva com um crescimento de 2,7% em Março. Já para a Alemanha, as vendas apresentaram uma redução de 7,1%, colocando este país de forma mais clara no terceiro lugar do ranking dos destinos preferidos das exportações portuguesas, atrás da França.

Como as exportações diminuíram mais do que as importações, o saldo comercial português voltou a deteriorar-se em Março. O défice da balança comercial de bens aumentou 133 milhões face ao mesmo mês do ano passado. Durante o primeiro trimestre do ano, o agravamento deste indicador ascendeu a 376 milhões de euros.

Os dados agora publicados pelo INE dizem respeito apenas à transacção de bens. As exportações e importações de serviços, que incluem por exemplo o sector do turismo, não estão aqui contabilizadas, sendo divulgadas pelo Banco de Portugal. Nos últimos anos, tem sido por esta via que as exportações portuguesas mais têm crescido.     

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