CGD escapa a onda de prejuízos entre os maiores bancos portugueses

O grupo público apresentou um lucro de 22,4 milhões de euros, enquanto os restantes de raiz portuguesa registavam prejuízos.

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O Estado injectou fundos na CGD para que esta desse crédito público/arquivo

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi único banco, entre os quatro maiores de raiz portuguesa, a evitar prejuízos no primeiro trimestre. O banco público apresentou na quarta-feira um resultado líquido positivo de 22,4 milhões de euros, destoando assim do vermelho que marcou as contas do BCP, do BES e do BPI referentes aos três primeiros meses do ano.

Entre os maiores do sistema, o Santander Totta também apresentou lucros, mas trata-se de uma instituição que tem estatuto de sucursal e, por isso, cruza as suas contas com a sede em Espanha. E, no campeonato da banca de média dimensão, o Montepio Geral surgiu também ontem a reportar lucros de 35,5 milhões de euros, o que compara com prejuízos de 15,8 milhões no ano passado. Neste caso, a melhoria da margem financeira acabou por compensar as imparidades que tiveram que ser assumidas, refere a instituição.

No campeonato alta finança, a grande surpresa veio do Banco BPI, que apresentou, no primeiro trimestre deste ano, um prejuízo de 104,8 milhões de euros, que comparam com um lucro de 40 milhões que tinha sido obtido no período homólogo de 2013. Na apresentação de resultados, o banco liderado por Fernando Ulrich referia que o resultado foi penalizado pelo contributo negativo da actividade doméstica e pelas menos-valias registadas com a venda de dívida pública de Portugal e Itália.

O BES agravou os seus prejuízos no período, neste caso pela constituição de provisões de 380 milhões de euros, mais 58,5% do que tinha sido obrigado a realizar entre Janeiro e Março de 2013. Daquele valor, a fatia mais grossa destinou-se a provisionar o mercado interno.

O BCP também apresentou prejuízos no primeiro trimestre (41 milhões de euros), mas em clara recuperação face a 2013 (prejuízo de 152 milhões de euros). Na apresentação de resultados, o banco assinala que o mercado doméstico mantém um comportamento negativo e que foi a actividade internacional que influenciou a recuperação. Só na Polónia, o banco controlado pelo BCP apresentou um lucro de 37,2 milhões de euros, 30,3% acima do período homólogo.

Sem Caixa Seguros
Último banco entre os grandes a apresentar resultados, a CGD surpreendeu com um lucro de 22,4 milhões de euros, face a um prejuízo de 36,4 milhões no mesmo período do ano passado.

A recuperação resulta da actividade normal do banco e não reflecte ainda o encaixe da venda do controlo da Caixa Seguros, o que terá apenas impacto nas contas do grupo no segundo trimestre.

Num encontro com jornalistas, o presidente executivo (CEO) do banco público, José Matos, destacou o regresso do banco público aos lucros em consequência de quatro factores: continuação da melhoria da margem financeira (aumento de 32,9%); melhoria dos resultados operacionais (mais 108%); melhoria dos resultados da actividade internacional (lucro de 22,7 milhões); contenção de custos (redução em 11,2%). Os rácios de capital subiram para 11,9% (o recomendado pelo BdP é de 10%) e para 9,6% (a EBA recomenda 9%).

O CEO realçou ainda o facto de a CGD ter cumprido “integralmente” a estratégia definida pela actual equipa de gestão, que elegeu como desígnio a aposta na actividade bancária pura e dura. Os objectivos (limpeza do balanço, financiamento à economia e venda de participações noutras áreas) foram também prioridades. Nos primeiros meses do ano, saíram da Caixa 82 trabalhadores.

José Matos lembrou que as contas do primeiro trimestre não reflectem a privatização da Caixa Seguros à Fosun, concretizada a 15 de Maio. Em causa está a passagem de 80% (ou 85%) da Caixa Seguros para o universo da Fosun por cerca 1600 milhões de euros (ou 1650 milhões se adquirir os 5% reservados aos trabalhadores), 400 milhões de euros a mais do que o anunciado na assinatura do acordo luso-chinês.

Aos mil milhões previstos e aos 209 milhões de dividendos garantidos, há que somar mais 364 milhões. Esta verba provém sobretudo da valorização da carteira de activos das seguradoras, em particular da componente de títulos de dívida pública nacional.

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