CGD, um “petroleiro difícil de mover”, não escapou a prejuízos de 171 milhões

Gestão do banco público, liderada por José de Matos, terminou em Dezembro o mandato “com orgulho no trabalho” desenvolvido nos últimos quatro anos.

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José de Matos chegou ao fim do mandato Daniel Rocha

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) registou prejuízos de 171,5 milhões de euros em 2015, ainda assim menos do que os apurados no ano anterior, que se cifraram em 348 milhões. O activo total atinge agora 100.901 milhões de euros e os depósitos de clientes subiram para 73 mil milhões.

“Os resultados, embora ainda negativos, registaram forte melhoramento, apesar do quadro” de crise económica em que o sector desenvolveu a sua actividade, sendo previsível que a CGD feche o exercício de 2016 com lucros, admitiu o presidente da instituição, José de Matos. Para o presidente executivo do maior banco português “o futuro da instituição, a curto prazo, está mais seguro e forte” do que tem estado até aqui.  

As contas da CGD têm sido nos últimos anos fortemente prejudicados pela necessidade do banco de constituir provisões e imparidades, resultantes de decisões tomadas pelas anteriores administrações, referiu o presidente da CGD. Em 2015 o banco estatal continuou a registar prejuízos consolidados de 171 milhões de euros (menos 176,5 milhões do que em 2014). Em 2015, as provisões e imparidades reduziram-se em 233,1 milhões de euros (-24,6%) totalizando 716,5 milhões.

Desde 2011, quando a actual gestão assumiu funções, a CGD foi obrigada a contabilizar imparidades de 5000 milhões, relacionadas com operações problemáticas e mau crédito antigo.

As contas da CGD do ano passado foram ainda penalizadas pelo plano de reformas antecipadas que foi adoptado no grupo público. “Expurgando dos custos de 2015 o montante de 65 milhões de euros referentes ao provisionamento do Plano Horizonte, o resultado antes de impostos e de interesses minoritários teria sido de 43,7 milhões de euros e o resultado líquido de menos 106,5 milhões de euros.” Matos referiu que se candidataram ao programa, que se destina a funcionários que completem 55 anos até ao final de Dezembro de 2016, mais de mil colaboradores, mas as saídas não chegam a esse valor.

O CEO salientou que, embora “a CGD seja igual a todos os outros bancos, é diferente, pois tem obrigações de serviço público”. Por exemplo, “assumiu manter uma agência aberta em todos os concelhos, independentemente de serem rentáveis” ou não e não teve “uma política agressiva de redução de efectivos”, sobretudo, “num período de crise prolongada.”

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Em 2015 o banco conta com 8410 colaboradores, menos 448 (dos quais 311 por reforma) que em 2014. Em termos de agências, o grupo possui 1253 agências (em 2014 eram 1267), das quais 786 em Portugal, onde registou uma redução de 22.

900 milhões de dívida por pagar
Instado a comentar o facto de a CGD ainda não ter pago ao Estado o empréstimo de 900 milhões de Cocos, os instrumentos híbridos, que pagam juros, o banqueiro lembrou: “Desde 2012, a CGD foi dos bancos portugueses que menos pediu ajuda ao Estado”. O valor foi de 1650 milhões, dos quais 750 milhões por acções e 900 milhões em CoCos. O BCP pediu 3000 milhões de Cocos, o BPI 1500 milhões, o BES não pediu, mas acabou por colapsar e beneficiar de uma injecção de 4900 mil milhões, e o Banif acabou por obrigar o Estado a avançar com 3400 milhões.

“Houve instituições que pediram ainda aos accionistas aumentos de capital e pagaram os Cocos” ao Estado, libertando-se de pagar juros ao Estado, o que tem impacto negativo nas contas. Já à CGD, explicou Matos, não foi dada essa possibilidade, pelo que “todos os anos a Caixa paga ao Estado cerca de 90 milhões de euros de juros”. E rematou, sem mencionar o nome: “Há um banco do sistema [Novo Banco] em dificuldades e que chegou ao Natal e distribuiu um subsídio adicional pelos trabalhadores.”

Recorde-se que Passos Coelho foi à televisão, ainda como primeiro-ministro, criticar José de Matos por este ainda não ter pago os 900 milhões de euros de Cocos ao Estado, o que foi interpretado como um abrir da porta à “privatização” do banco público, medida que Passos sempre defendeu. O banqueiro notou que, nos últimos quatro anos, o banco esteve a actuar “num enquadramento inadequado” em termos do Orçamento do Estado.

As melhorias estruturais no balanço da CGD, que José de Matos equiparou a um “petroleiro difícil de mover”, foram em todas as frentes, doméstica e internacional. E destacou três indicadores que o levam a ser optimista: “a recuperação rápida da rentabilidade, os actuais níveis de liquidez confortáveis e de capital adequados.”

A margem financeira alcançou em 2015 1188 milhões, mais 14,4%, e o produto bancário cresceu 17,5% face a 2014, atingindo mais de 2000 mil milhões. Já as operações internacionais [Macau, Espanha, Angola e França] contribuíram com lucros de 161,2 milhões. Ao contrário de outros bancos, que têm apresentado lucros, a CGD “não funciona como um hedge fund” e “não está dependente do financiamento de curto prazo do BCE”, pois a sua base de liquidez “são os clientes”, vincou José de Matos.

No final de 2015, o banco estatal “voltou a ser um banco refúgio para os portugueses”, concluiu. No ano passado a CGD reduziu o total de fundos captados junto do BCE para 2766 milhões, ou seja, 2,7% dos activos totais do grupo. Os recursos de clientes cifram-se agora em 73,4 mil milhões, mais 3,2% do que em 2014, com o crédito total a clientes a cair 2% para 66,1 mil milhões de euros.

Em fim de mandato, que terminou em Dezembro, José de Matos salientou que apesar do contexto adverso “toda a administração, incluindo os executivos, têm orgulho no trabalho que foi feito nos últimos quatro anos”, mas recusou falar na sua continuidade, ou saída, da CGD.

As decisões sobre o futuro do banco “serão reatadas pelo accionista quando tiver tempo para isso e estou certo que logo que haja tempo se dedicará à questão da governação da Caixa", frisou.

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