Cervejeiros esperam ano difícil nas exportações para Angola

Sector diz que reposição do IVA para 23% na restauração em Portugal é determinante para dinamizar consumo nacional e compensar eventuais quedas de vendas para o maior cliente externo.

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Francisco Abecasis diz que seria "irresponsável não apoiar o sector" cervejeiro com alteração do IVA na restauração de 23 para 13% Fernando Veludo/N Factos

Depois de uma descida de 22% em volume das exportações de cerveja em 2013, provocadas pela redução de vendas para Angola, está tudo em aberto para 2014. E os cervejeiros nacionais não estão à espera de “um ano fácil” nas vendas para aquele país, que compra 62% da cerveja portuguesa.

João Abecasis, presidente da Associação dos Produtores de Cerveja de Portugal (Apcv), diz que, com a subida das taxas de importação, em vigor desde 1 de Março, a cerveja passou a pagar taxas de direitos aduaneiros de 50% sobre o produto, em vez de 30%. E isso, garante, “implica uma repercussão nos preços ao consumidor”.

Com a subida das taxas – que também incidiu sobre a generalidade de outros produtos agrícolas -, Angola tem como intenção aumentar a produção local em áreas consideradas estratégicas para o país. Os dois principais produtores de cerveja portugueses (Unicer e Sociedade Central de Cervejas) têm planos para fabricar localmente, seja com a construção de raiz de unidade fabril em parceria com sócios angolanos, seja através de uma licença de produção. Mas até agora nenhum dos dois gigantes conseguiu, de facto, produzir cerveja naquele país.

De acordo com dados divulgados pela Apcv, as exportações alcançaram os 2,5 milhões de hectolitros em 2013, com o principal cliente, Angola, a comprar menos 26,3 milhões de euros, segundo números do INE. Este país absorve perto de 62% da cerveja nacional e teve uma influência decisiva para a quebra total das exportações desta bebida. A greve nos portos, problemas de desalfandegamento no destino - que atrasaram em vários meses a entrada de cerveja em Angola - e a incerteza causada pelo aumento das pautas aduaneiras (que só entrou em vigor este ano), ajudam a explicar esta diminuição de vendas no ano passado.

Face a este cenário, a Apcv defende que é preciso dinamizar mais o consumo interno que, em 2013, aumentou pela primeira vez desde 2006. Os portugueses consumiram um total de 4,9 milhões de hectolitros, uma subida de 0,2% face a 2012 conseguida muito à custa das vendas nos supermercados. Com estes sinais “tímidos” de recuperação, João Abecasis diz que são precisas medidas concretas, nomeadamente, “a reposição da taxa do IVA aplicado à restauração” para garantir que o sector mantenha a trajectória.

“Este é o momento de os agentes políticos, económicos e de a sociedade civil terem discussões de forma aberta sobre as medidas a tomar”, afirmou. O ano de 2014 dependerá muito da revisão fiscal e o IVA a 13% é “fundamental para estimular o emprego e a vitalidade do sector da restauração e hotelaria”, continua.

O presidente da Apcv e líder da Unicer diz mesmo que seria “irresponsável não apoiar o sector”. “Os sinais de retoma têm de ser apoiados e suportados ao longo dos próximo anos. Muito dependerá do que for feito e o IVA é absolutamente determinante”, sustenta.

Num ano em que se perdeu uma unidade fabril (a Unicer transferiu a produção em Santarém para Leça do Balio), as seis fábricas do sector cervejeiro a funcionar em Portugal tiveram a menor produção desde 2007: 7,3 milhões de hectolitros, uma descida de 8,3%.

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