Carros a gasóleo somam mais de 70% das vendas

Agravamento do imposto sobre ligeiros de passageiros diesel, em 2014, vai abranger grande fatia do parque automóvel.

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Quase dois terços dos 5,8 milhões de veículos que compõem o parque automóvel português são movidos a gasóleo, um universo que inclui não apenas os ligeiros de passageiros que, em 2014, serão abrangidos por um agravamento do Imposto Único de Circulação (IUC), mas também os comerciais ligeiros, os pesados de mercadorias e os autocarros.

O fenómeno da “dieselização” está bem presente nas vendas de carros novos e os dados dos últimos cinco anos não deixam margem para dúvidas. Entre 2008 e 2012, o número de ligeiros e passageiros movidos por este tipo de combustível representou 68% dos carros comercializados, segundo dados calculados pelo PÚBLICO a partir de números cedidos pela Associação Automóvel de Portugal (ACAP). E em 2012 o seu peso já superava os 70%.

A percentagem está já acima daquilo que é o peso de todos os veículos a gasóleo no parque automóvel português e mostra, no universo de carros novos, a crescente popularidade das viaturas diesel em relação aos automóveis a gasolina, que naqueles cinco anos representaram apenas 30% das vendas. No ano passado, o segundo ano consecutivo de contracção do mercado, já estavam abaixo deste patamar.

Ao todo, dos 846.300 automóveis ligeiros de passageiros vendidos entre 2008 e 2012, mais de 578 mil foram unidades movidas a gasóleo (68,3%). No ano passado representavam 70,6% (67.288 unidades); os carros a gasolina absorveram 27,5% (26.209 unidades) e os veículos movidos por outros combustíveis (eléctricos, híbridos, gasolina GPL e GPL) só representaram 1,9% (1810 carros).

Se o preço da gasolina continua a ser mais alto do que o gasóleo, é certo que ter um ligeiro de passageiros a gasóleo vai encarecer no próximo ano, o que não escapará a uma grande fatia dos proprietários de carros em Portugal.

Para surpresa das associações do sector, a proposta do OE 2014 inclui um agravamento adicional do IUC para quem tem carro diesel. À actualização de cerca de 1% do imposto, soma-se uma taxa que vai de 1,39 a 68,85 euros, e que varia em função da idade do veículo e da cilindrada.

Os números globais do parque automóvel português não permitem perceber com detalhe o número de veículos que são abrangidos por este agravamento, mas dão uma dimensão da penetração de carros diesel. Enquanto 38,5% dos veículos são a gasolina, 60,8% são diesel. Juntos, os veículos eléctricos e híbridos têm um peso ainda muito reduzido que não chega a 1%.

Vai o agravamento do imposto potenciar que os veículos a gasolina voltem a ganhar terreno? Para o secretário-geral da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA), Jorge Neves da Silva, a decisão vem penalizar a actividade do sector e não é um contributo para a dinamização que, diz, o mercado precisa neste momento, mas também “não é suficientemente importante” para alterar a tendência, embora não descarte que, no futuro, a diferença abissal entre tipologias se comece a esbater.

Ambiente e impostos
O agravamento do IUC recebeu um coro de críticas no sector, da ACAP, à ANECRA, passando pelo Automóvel Club de Portugal. Já a Associação Nacional do Ramo Automóvel reagiu em comunicado à proposta de OE, defendendo, entre outros pontos, “um alargamento da dedutibilidade de 50% do IVA dos combustíveis aos modelos de passageiros movidos a gasolina em uso profissional”, uma vez que o actual quadro legislativo já o prevê para o gasóleo.

Um dos argumentos do Governo para aplicar uma taxa adicional aos carros a gasóleo tem a ver com o facto de este segmento estar sujeito “a um regime fiscal mais favorável”, nomeadamente em sede de Imposto sobre Produtos Petrolíferos e Energéticos. A outra razão foi o facto de os carros a gasóleo “serem, em regra, mais poluentes e mais prejudiciais ao ambiente” – um argumento que a associação Quercus rebateu, não pelas razões ambientais referidas pelo executivo, mas pelo facto de o Governo usar esse argumento para justificar um aumento da carga fiscal para quem já tem automóvel.

Embora considerando a medida “ambientalmente compreensível”, o presidente da direcção nacional da associação, Nuno Sequeira, defendeu à Lusa que o executivo deveria centrar-se em quem “fosse adquirir agora um carro a gasóleo, e não a quem já o tem”. “Durante muitos anos, o Governo deixou os cidadãos adquirir veículos a gasóleo, particulares ou de serviço, e vem agora penalizar a posteriori”, disse.

As receitas com o IUC, que até Agosto estavam acima do valor arrecadado até ao mesmo período de 2012, deverão continuar a aumentar no próximo ano, contando o Governo ir buscar uma parte do aumento esperado de 23,3% à taxa adicional. Na previsão do executivo, vão entrar para os cofres do Estado 298,8 milhões de euros com o IUC, mais 56,2 milhões do que este ano.

Leia todas as notícias sobre o OE2014 em Orçamento do Estado

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