Carlos Tavares estranha falta de informação à CMVM sobre proposta de fusão BCP-BPI

A informação foi veiculada primeiro pela comunicação social.

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Carlos Tavares, presidente da CMVM, recusou comentar fusão entre BCP e BPI DANIEL ROCHA

O presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Carlos Tavares, manifestou nesta quarta-feira o seu desagrado pelo facto de a proposta de fusão entre o BCP e o BPI formulada por Isabel dos Santos ter sido veiculada pela comunicação social antes de a entidade de supervisão ter sido avisada.

Questionado no Parlamento sobre o anúncio da possível fusão entre os dois bancos, o presidente do regulador do mercado de capitais recusou-se a comentar o negócio, limitando-se a dizer não achar “normal” que a intenção de negócio tenha sido veiculada pela comunicação social antes de a CMVM ser avisada. Carlos Tavares esteve na Assembleia da República para ser ouvido no âmbito do diploma socialista sobre transparência das empresas de comunicação social.

A proposta de fusão entre o BPI e BCP partiu da segunda maior accionista do BPI, a Santoro, holding de Isabel dos Santos, e foi noticiada ao final da tarde de segunda-feira pelo Expresso Diário.

A primeira informação enviada à CMVM teve origem no BCP, confirmando a recepção da carta, ao final da manhã de terça-feira e, pouco depois, o BPI divulgou o documento na íntegra no sítio da Internet da entidade supervisora. Entretanto, as acções dos dois bancos registram fortes valorizações durante toda a manhã.

A proposta de Isabel dos Santos pretende ser uma alternativa à oferta pública de aquisição (OPA) do espanhol CaixaBank sobre a maioria do capital do BPI. O BCP já manifestou disponibilidade para avaliar a proposta de fusão. As acções do BCP e do BPI fecharam nesta quarta-feira a perder 0,94% e 2,63%, respectivamente (para 0,085 euros e 1,44 euros).

Para esta tarde está agendada uma reunião do conselho de administração do BPI, para analisar a OPA do CaixaBank, mas a estratégia de Isabel dos Santos está também em discussão. A ideia de juntar o BPI e o BCP tem como objectivo, além de Portugal, os mercados moçambicano e angolano. Há também a Polónia, onde está o BCP, mas é nos dois países africanos que a união de forças do BCP e do BPI se torna evidente, intercruzada com a influência da Sonangol e de Isabel dos Santos.

Em Portugal, a junção do BCP com BPI daria lugar a uma instituição maior do que a Caixa Geral de Depósitos, se não fossem aplicados remédios ao nível da concorrência. Ao mesmo tempo, a estrutura accionista ficaria partilhada, mas os accionistas angolanos teriam o maior bloco de acções (Sonangol e Isabel dos Santos)

Em Angola, a fusão do BFA com o Millennium Angola daria origem, segundo os dados mais recentes da consultora KPMG (referentes a 2013), ao maior banco por activos e por depósitos, superando o Banco Angolano de Investimentos (BAI). O BPI é dono de 51% do BFA, e os outros 49% são da Unitel, controlada por Isabel dos Santos. Já o Millennium Angola tem a Sonangol (maior accionista do BCP, com 19,4%) e o angolano Atlântico como parceiros. A Sonangol e Isabel dos Santos, por sua vez, são aliados e accionistas, via Amorim Energia, da Galp.

No caso de Moçambique, a liderança de mercado cabe ao Millennium bim, seguindo-se o BCI. Juntos asseguram cerca de 60% do crédito concedido. O BCP detém 67% do Millennium bim, associado a parceiros locais, e o BCI é detido a 30% pelo BPI, cabendo à CGD 51%. Investidores moçambicanos são responsáveis pelo resto do capital do BFA. Tanto neste caso como no de Angola, uma operação de união de forças levará sempre ao escrutínio das autoridades em termos de concorrência, e a uma oportunidade para movimentações accionistas.

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