Candidaturas a fundos comunitários ultrapassam três vezes as verbas disponíveis

Procura para financiamento à inovação, qualificação de recursos humanos e internacionalização do Portugal 2020 atingiu os 3100 milhões de euros

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Paulo Portas voltou a frisar que as reformas na economia eram "inevitáveis" Enric Vives Rubio

As candidaturas das empresas a algumas linhas do Portugal 2020 atingiram os 3100 milhões de euros, um montante três vezes superior à verba disponibilizada no novo quadro comunitário de fundos europeus. O valor refere-se aos concursos destinados a financiar projectos de inovação de processos e de produtos, de qualificação de recursos humanos e de internacionalização de empresas, adiantou, esta segunda-feira, Paulo Portas, vice-primeiro-ministro, durante a conferência Caixa 2020, organizada pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) e pelo PÚBLICO.

“Significa que a procura é mais do que três vezes mais do que a verba disponível”, disse o governante, acrescentando que uma parte das empresas que concorreram aos fundos “fazem-no pela primeira vez”. No discurso de abertura da sessão, Paulo Portas sublinhou que o novo ciclo de fundos comunitários “coincide com a transformação económica do país”, nomeadamente no sector dos serviços, que está a dar “um contributo para o ciclo económico assente em bases mais competitivas e internacionais”.

O vice-primeiro ministro defendeu que as reformas estruturais eram “inevitáveis” e elencou vários indicadores para demonstrar a evolução positiva da economia, como o da redução do défice que passou de 10% em 2011 para 3% este ano, percentagem que corresponde à previsão do Governo, mas que está abaixo das estimativas de Bruxelas. Das exportações ao investimento directo estrangeiro, os números mostram a “dimensão do esforço” do país, continuou.

Para os empresários, o sector dos serviços tem-se posicionado como fundamental para o relançamento da economia, sendo mesmo “mais atractivos do que a indústria”, disse Jorge Jordão, presidente da Confederação dos Serviços de Portugal (CSP), durante a conferência. Tem os recursos humanos “mais qualificados” e cada vez mais dedicados à investigação e desenvolvimento. Contudo, o país não tem sabido aproveitar os seus talentos e deve fazer a viragem da economia industrial para a do conhecimento, defendeu. “Temos a geração com a melhor educação de sempre, mas não temos sabido tirar partido disso.”

Por seu lado, João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), lamentou que em Portugal os empresários dos serviços sejam considerados “gente de má fama”. O sector é “um elemento estruturante da economia” e pesa 30% nas exportações nacionais. João Vieira Lopes destacou que o país tem duas valências positivas (“o território e o capital humano”) e lembrou que a banca tem “um efeito estrutural” na actividade empresarial, mas tende a financiar mais actividades “palpáveis”. “A nossa banca tem uma tara por cimento”, ironizou, dando o exemplo de uma empresa portuguesa que produz software para organizações em Israel e Estados Unidos mas que não conseguiu crédito em Portugal.

Em resposta, Francisco Santos Silva, director de empresas da CGD, argumentou que a banca pede geralmente garantias porque a sua primeira responsabilidade é “para com os depositantes”. “Os bancos terão de ser prudentes e aplicar os princípios básicos da concessão de crédito”, disse, revelando que a avaliação aos pedidos de crédito incide “cada vez mais sobre o mérito das operações” das empresas.

Na área da logística, Alcibíades Guedes, presidente da Associação Portuguesa de Logística (Aplog), garante que os inquéritos mais recentes feitos pela organização mostram algum optimismo em relação ao futuro. “Sempre que se exporta mais há mercados mais alargados, há desafios e oportunidades”, salientou. Para crescer, continuou, o mais importante é “acrescentar valor”.

No que toca ao acesso a financiamento, Rui Paiva, presidente executivo da Wedo, acredita que é necessário preparar bem os projectos e ter competência global. Já João Franco, da Administração dos Portos de Sines e do Algarve (APS), recordou “que a maior parte das empresas está descapitalizada”. “Temos de ter solidez financeira para aguentar os dias de chuva”, sublinhou.

Na recta final do debate, Miguel Barbosa, da Agência Nacional de Inovação, confirmou a “grande procura de investimento em inovação” e deu como exemplo a procura ao Sifide, sistema de incentivos fiscais à investigação e desenvolvimento, que cresceu 20% face ao ano passado. No total, candidataram-se cerca de 800 projectos com 125 milhões de euros de crédito fiscal pedido pelas empresas.

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