Bruxelas abre inquérito sobre as concessões da exploração hidroeléctrica dos rios à EDP

Comissão Europeia duvida que empresa tenha pago um preço adequado pela exploração destes recursos.

Foto
Inquérito surge na sequência de denúncias feitas em Setembro de 2012 DR

Bruxelas abriu um inquérito para apurar se o preço pago em 2007 pela EDP pela extensão do seu direito de usar os recursos hídricos públicos para a produção de electricidade se encontrava em conformidade com as normas em matéria de auxílios estatais da União Europeia, anunciou nesta quarta-feira a Comissão Europeia. O objectivo é verificar se a empresa portuguesa beneficiou de uma vantagem económica face aos seus concorrentes.

Segundo explica a Comissão Europeia, em comunicado, “em 2007, Portugal alargou as concessões facultadas à EDP para a utilização de recursos hídricos públicos para a produção de electricidade, contra o pagamento de 759 milhões de euros (dos quais 56 milhões de euros reverteram para impostos)”. Bruxelas salienta que esta decisão nunca foi comunicada à Comissão e implica “a manutenção de 27 centrais eléctricas, que representam 27% das capacidades de produção do país, sob o controlo da EDP por um período de tempo muito longo, só terminando, em certos casos, em 2052”.

Bruxelas adianta desde já que há dúvidas de que a EDP tenha pago um preço adequado pelas concessões. “Tal poderá ter dado à EDP uma vantagem selectiva que os seus concorrentes não tiveram, configurando, assim, um auxílio estatal” segundo as normas da UE.

“Nesta fase, a Comissão duvida de que esse auxílio fosse compatível com o mercado interno da UE. Além disso, a longa duração da concessão pode ter tido, em si mesma, um efeito anticoncorrencial, impedindo a entrada de concorrentes interessados no mercado da electricidade português”, adianta a Comissão.

O inquérito surge na sequência de denúncias feitas em Setembro de 2012 por vários cidadãos - entre os quais Pedro Sampaio Nunes, José Ribeiro e Castro e António Cardoso e Cunha, segundo o Jornal de Negócios - que alegavam ter havido um auxílio estatal ilegal, concedido por Portugal à EDP. Em causa estavam a extensão das concessões de utilização de recursos hídricos públicos, alegadamente em condições favoráveis, e “as compensações alegadamente excessivas por investimentos anteriores que teriam sobrecarregado a EDP no enquadramento de mercado liberalizado”.

O PÚBLICO já pediu uma reacção à EDP.

Entretanto, o Governo disse que vai manter a “postura de total transparência e de total colaboração” com o executivo comunitário. “O Governo português manterá a postura de total transparência e de total colaboração com a Comissão Europeia”, afirmou à Lusa fonte oficial do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, sem adiantar mais pormenores.

Recorde-se que a negociação dos custos de manutenção do equilíbrio contratual (CMEC) e o prolongamento do prazo de concessão das barragens da EDP foram alvo de uma queixa na Procuradoria-Geral da República (PGR) em Março. Em causa estavam, precisamente, os contratos assinados, em 2007, pelo então ministro da Economia, Manuel Pinho, e pelo presidente da EDP, António Mexia.

Em Abril, o Ministério da Economia denunciou à Comissão Europeia alegadas irregularidades em contratos celebrados pelo anterior Governo com a EDP. O Governo actual acusava, em 2007, o executivo de José Sócrates de ter violado a legislação comunitária por ter alargado por 26 anos, sem concurso público, o prazo de concessão à EDP de duas dezenas de barragens.

A troika tem pressionado o Governo sobre aquilo a que chama as "rendas excessivas" da EDP. Em causa estão os CMEC, uma renda que a empresa recebe através das tarifas, criadas em 2007 para compensar a EDP pelo fim antecipado dos contratos de aquisição de energia (CAE) das centrais hídricas, a fuel ou a carvão. Como a maior parte destas rendas tem a ver com as centrais hídricas, o assunto acaba por ter uma ligação directa com as concessões que lhe foram atribuídas em 2007 sem concurso público.
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar