Brasil entra em recessão económica

Queda do investimento e do consumo levou a economia brasileira a encolher 1,9% no segundo trimestre.

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Cotações do dólar e do real no Rio de Janeiro Ricardo Moraes/REUTERS

A economia brasileira entrou em recessão, ao registar dois trimestres consecutivos de contracção. A queda acentuada do investimento e do consumo, num ambiente de instabilidade política, empurraram a actividade económica do país para o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, mostram os números publicados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Depois de cair 0,7% nos três primeiros meses do ano em relação ao último trimestre de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,9% em cadeia. Na comparação homóloga (com o segundo trimestre de 2014), a queda é mais expressiva, de 2,6%.

A entrada em recessão técnica acontece quando uma economia recua em cadeia durante dois trimestres consecutivos, como agora foi o caso do Brasil. No segundo trimestre do ano passado, a economia brasileira já tinha recuado1,1%, nos três meses seguintes praticamente estabilizou, registando uma tímida subida de 0,1%, e nos últimos três meses do ano passado já não conseguiu crescer.

O investimento baixou 8,1% face ao primeiro trimestre, o consumo das famílias caiu 2,1%, enquanto o consumo público teve um crescimento de 0,7%. As altas taxas de juro – de 14,25%, neste momento – desincentivam fortemente o consumo. O investimento está a baixar pelo oitavo trimestre consecutivo. A queda de Abril a Junho face ao mesmo período do ano passado foi de 11,9%, a descida mais acentuada desde 1996.

A desaceleração do Brasil, considerada em 2014 a sétima maior economia do mundo, tem levado o Fundo Monetário Internacional e rever em abaixa as previsões de crescimento do país e já apontava para uma entrada em recessão. Em Julho, a instituição liderada por Christine Lagarde apontava para uma queda de 1,5% da economia. Mais pessimista é a previsão de economistas inquiridos pelo banco central do Brasil, que esperam uma contracção anual de 2,06%.

As perspectivas de curto prazo para a América do Sul são baixas para as outras duas maiores potências regionais. O FMI também que, para além do Brasil, também a Argentina e a Venezuela estejam em queda.

Para o comité de ciclos económicos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a recessão não começou agora, mas a partir do segundo trimestre. O economista Paulo Picchetti, do Instituto Brasileiro de Economia/FGV, enfatizou, citado pela Folha de São Paulo, que “recessão é, pela teoria económica, um período de retracção generalizada da actividade económica. E isso está acontecendo na economia brasileira desde o segundo trimestre de 2014”.

Pressionada pela crise política e económica, esta é mais uma má notícia para Dilma Rousseff, a enfrentar uma sucessão de crises no segundo mandato como Presidente. Ainda esta semana Dilma veio admitir que o próximo ano vai continuar a ser difícil. A queda da procura de matérias-primas, agravada com o abrandamento da economia chinesa, a subida da inflação bem acima do objectivo de 4,5% traçado pelo Governo, levam os economistas a apontar para uma deterioração da actividade económica.

“Espero uma situação melhor. Mas não tenho como garantir que a situação em 2016 vai ser maravilhosa; não vai ser, muito provavelmente não será”, afirmou na terça-feira Dilma Rousseff a uma rádio do interior de São Paulo. Porque se desconhece a “repercussão de tudo” o que está a acontecer na economia internacional, afirmou a Presidente do Brasil, continuará a haver dificuldades. Mas “não será a dificuldade imensa que muitos pintam”, contrapôs.

Antes, numa outra entrevista, Dilma reconheceu que demorou demasiado tempo a reagir à degradação da situação económica e que subestimou os efeitos da crise. Para a Presidente brasileira, a “inflexão” nas políticas económicas deveria ter começado mais cedo. “Fizemos a política pró-cíclica. Para preservar emprego e renda [rendimento]. O que é possível considerar é que poderia ter começado uma escadinha. Agora, nunca imaginaria, ninguém imaginaria, que o preço do petróleo cairia de 105 em Abril, para 102 em Agosto, para 43 hoje. A crise começa em Agosto [do ano passado] mas só vai ficar grave mesmo entre Novembro e Dezembro”, justificou-se Dilma.

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