BPI diz ter "várias soluções" para o problema da exposição a Angola

Banco emitiu um comunicado onde afirma que ainda não foi tomada qualquer decisão sobre a instituição que detém neste mercado.

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Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI Daniel Rocha

O BPI tem em cima da mesa várias "soluções para acomodar o limite de exposição a grandes riscos" decorrente da presença em Angola, onde o controla o Banco de Fomento de Angola (BFA). Esta quarta-feira, o banco liderado por Fernando Ulrich veio garantir que “até ao momento” ainda não tomou “qualquer decisão”, mas já contratou assessoria financeiro para ultrapassar os obstáculos regulatórios impostos pelo BCE.

O BPI foi o protagonista de duas notícias que acabaram por marcar a actualidade na banca esta semana. Na segunda-feira o espanhol El Confidencial noticiou que o CaixaBank/La Caixa “poderá vender nos próximos meses” 44% do BPI a investidores chineses. O resultado foi imediato: a cotação do título disparou quase 6%, negociando-se a 1,011 euros, abaixo do preço médio do investimento realizado pelo La Caixa – em 2007 os espanhóis recusaram vender a sua posição no BPI durante a OPA lançada pelo BCP a sete euros por acção. Já este ano lançaram uma oferta sobre 100% do BPI a 1,239 euros, e que, por sua vez, também foi inviabilizada pelo segundo maior accionista Isabel dos Santos.

Esta quarta-feira, o Jornal de Negócios fez manchete com outra informação: o banco liderado por Fernando Ulrich estaria a equacionar a alienação da posição de controlo (51%) no BFA, o que levou o BPI a contratar o Goldman Sachs para encontrar interessados no activo.

Horas depois, a meio da manhã, o BPI emitiu uma nota em resposta ao Jornal de Negócios e onde esclarecia que está a “estudar soluções para acomodar o limite de exposição a grandes riscos decorrente da exposição do BFA ao Estado Angolano e ao Banco Nacional de Angola”. E a avançar que há “várias” alternativas em cima da mesa, mas que “até ao momento” ainda não tomou “qualquer decisão”.

Admite, no entanto, que o processo justificou a contratação de “duas instituições financeiras internacionais para lhe prestar apoio na análise e exploração dessas soluções”. 

O tema BPI-Angola está na praça púbica desde Dezembro de 2014 quando se soube que o BCE tinha introduzido uma alteração regulamentar à contabilização dos rácios de capital, passando a exigir que as instituições sob a sua alçada contabilizem a 100% [até agora o requisito oscilava entre 0% e 20%] o impacto da exposição a grandes riscos de bancos sedeados em países em relação aos quais não reconhece um padrão de supervisão equivalente ao europeu.

A exigência terá ser cumprida até Março de 2016 e afectará as contas dos bancos que dominam instituições abrangidas que terão menor folga para acomodar a exposição aos grandes riscos.

Por dominar mais de 50% o BFA, com sede em Luanda, o BPI é obrigado a ajustar o seu balanço à nova fórmula com impacto directo no rácio de capital e dos grandes riscos. O que coloca Ulrich perante um problema. Em Dezembro passado o BPI comunicou que o risco máximo que incorria em Angola era de 394 milhões de euros, em resultado da exposição de 19 milhões de euros de crédito do BPI ao BFA e do investimento de 50,1% que tem no banco angolano (375 milhões). Mas com a nova ponderação a exposição global o BPI passa a ter cerca de 3000 milhões de excesso de exposição às obrigações do tesouro angolano e 184 milhões ao BNA.

Fernando Ulrich nunca escondeu que discorda da orientação de Mario Draghi e começou logo a negociar com as autoridades regulatórias para reduzir os efeitos negativos da contabilização da unidade angolana no BPI, o que não foi bem acolhido pelo BCE e pelo Banco de Portugal. 

Por se tratar de uma matéria complexa, e com várias implicações, Ulrich pediu o apoio a assessores financeiros para identificarem outras alternativas que possam responder às exigências (conter a exposição aos grandes riscos de Angola) colocados pelo BCE, a instituição que manda.

Uma das possibilidades é o BPI avançar com um aumento de capital para acomodar a contaminação do BFA, o que exige o apoio dos accionistas, agora em guerra entre si. Pode ainda baixar a participação dos actuais 50,1% para 49%, deixando de ser o accionista com domínio, o que permite escapar à teia regulatória europeia. Desconhece-se, no entanto, se para o BCE as duas vias são exequíveis.

Já a venda pura e simples dos 50,1% do BFA é a decisão que menos interessa ao grupo português, por se traduzir numa mudança da sua actual configuração com um braço em Angola que é classificado de estratégico. Além disso, seria o abandono de um activo que nos últimos anos tem possibilitado a Ulrich equilibrar os resultados (o BFA contribuiu com 88% dos lucros do primeiro semestre, que subiram para 76,2 milhões de euros).

Se a solução extrema, a alineação do BFA, for a escolhida, não será assim por opção da equipa liderada por Fernando Ulrich, mas por imposição regulatória europeia.

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