Ulrich diz que “não está na agenda a fusão com o BCP nem com outro banco”

BPI voltou aos lucros, com um resultado positivo consolidado de 76,2 milhões de euros no semestre, Angola deu o maior contributo.

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BPI, liderado por Fernando Ulrich, regressa aos lucros. Ricardo Brito

A 3 de Março, poucas horas após ter recebido uma carta enviada pela Santoro, de Isabel dos Santos, ao BPI e ao BCP, a propor uma fusão entre as duas entidades, a comisssão executiva do BCP (cujo maior accionista é a Sonangol) apressou-se a enviar um comunicado onde mostrava a sua “disponibilidade para analisar a referida operação”.

Estava-se então em plena OPA do La Caixa sobre o BPI, que, entretando, caiu por terra. Esta quarta-feira, quase cinco meses depois, foi a vez do presidente da comissão executiva do BPI, Fernando Ulrich, se pronunciar sobre o tema. Questionado pelos jornalistas na apresentação de resultados semestrais do banco, o gestor afirmou não ter recebido nenhuma carta “que sinta que tenha que responder”.

“Não estamos a trabalhar nesse tema [fusão], nem contamos vir a trabalhar”, vincou o presidente da comissão executiva, acrescentando que, por parte da gestão, “não está na agenda a fusão com o BCP nem com outro banco”. No entanto, disse, se os accionistas decidirem que há alguma coisa para fazer ligada a este processo, a equipa executiva irá agir em conformidade. “Somos muito obedientes”, afirmou Fernando Ulrich, em tom de humor. 

O dia de hoje serviu para a equipa de gestão anunciar o regresso aos lucros semestrais, com um resultado positivo consolidado de 76,2 milhões de euros, (e que compara com prejuízos de 138,8 milhões em período homólogo de 2014).

A actividade doméstica voltou a dar o seu contributo, em 6,6 milhões de euros, mas a maior fatia veio da actividade internacional, com 69,6 milhões de euros, um crescimento de 40%. E, aqui, o destaque vai para o BFA, a instituição financeira angolana que o BPI controla com 51%. Os outros 49% são da Unitel, onde Isabel dos Santos é dona de 25%, além de tomar  conta da gestão da empresa.

Dos 76,2 milhões de resultados liquidos gerados nos primeiros seis meses, 66,9 milhões tiveram origem na operação angolana (que registou uma subida de 43% face a idêntico período de 2014), que beneficiou de aspectos como o aumento da margem financeira. Mas, ao mesmo tempo, o BFA também se apresenta como problema, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter decidido que o BPI tinha de mudar a forma como contabilizava a sua relação (exposição) com Angola.

Para já, desde o início do ano que o banco reflecte nas contas a 100% o valor que a instituição detém em dívida angolana (via Estado Angolano e ao Banco Nacional de Angola), quando  até aqui podia ir até aos 20%. Isso afectou o principal rácio do banco, mas a digestão parece feita.

A questão é que há ainda outro assunto pendente com o BCE: o de superar, com as novas exigências do banco da zona euro (e por falta de equivalência de Angola em termos prudenciais), o limite de exposição a grandes riscos. A decisão do BCE foi anunciada em Dezembro, e, entretanto, “têm-se passado muitas coisas”, disse Ulrich, escusando-se a mais informações porque o banco central tem “classificado o assunto de confidencial”.

Mercado a crescer
Olhando para o mercado doméstico, Fernando Ulrich destacou que o resultado positivo no semestre de 6,6 milhões de euros (8,6 milhões de Abril a Junho, que foram ainda penalizados por dois milhões  negativos nos primeiros três meses) tem bases sustentáveis. “Consideramos que a melhoria da rentabilidade da actividade doméstica vai melhorar nos próximos anos, apesar de haver sempre ameaças e desafios”, sublinhou.

Para Fernando Ulrich, há quatro pontos que explicam este lucro e as suas expectativas: os novos contratos e melhoria do volume da carteira de crédito; a descida dos custos de financiamento (com menos encargos nos depósitos, tendência que se vai acentuar à medida que os mais antigos e onerosos forem chegando à maturidade), uma melhoria do impacto das imparidades nas contas (69 milhões no primeiro semestre, quando nos doze meses do ano passado foi de 172 milhões), cujo pico terá sido atingido em 2013; e, por fim, a continuação da redução de custos (seja com pessoal ou com a rede de distribuição, através do fecho de balcões).

Neste último capítulo, Ulrich adiantou que “o tema dos custos vai ser importante durante muito tempo. Até onde a vista alcança”. Convidado a comentar  os problemas do ex-BES e as notícias sobre o  Montepio, Ulrich optou por elogiar a sua própria instituição: “O BPI gosta imenso de ter clientes (...) Num mercado em que há situações que não correm bem” é “mais fácil as pessoas verificarem que não somos todos iguais”. Com Rosa Soares

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