Bolsa de Lisboa foi a que mais caiu na Europa

Queda de 5,22% do PSI-20 foi a maior desde a crise política de Julho de 2013. Da Ásia à Europa e aos EUA, os mercados dão sinais de nervosismo. Foi um dia pintado de “vermelho” nas bolsas.

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DANISH SIDDIQUI/Reuters

O dia antecipava-se negativo nos mercados e assim foi. Primeiro na Ásia, depois na Europa e, agora, em Wall Street, as praças mundiais estão pintadas de “vermelho”. Foi uma segunda-feira de quedas acentuadas em todas as praças da Europa, com a Bolsa de Lisboa à cabeça a registar a maior descida, de 5,22%. Nenhuma das 18 empresas actualmente cotadas no PSI-20 escapou.

O PSI-20 chegou mesmo a deslizar 6,16% e acabou por encerrar com a maior desvalorização desde a crise política de 2013, quando Vítor Gaspar e Paulo Portas se demitiram.

Nesta segunda-feira, quem mais sentiu o embate na praça lisboeta foi o BCP, cujas acções caíram 11,1%, recuando para os 0,0752 euros. Pouco atrás ficaram a PHarol (a antiga PT SGPS), a perder 10%, e a Mota-Engil, a descer 9,16%. Entre as maiores quedas, logo a seguir, encerraram os outros dois bancos presentes no PSI-20. Os títulos do Banif recuaram -8,82%, passando a valer 0,0062 euros, enquanto as acções do BPI caíram -8,45%, para 1,007 euros.

Na Europa, Milão também caiu mais de 5% e pouco atrás ficou a bolsa madrilena, a recuar 4,56%. A pressão vendedora foi menor nas acções das praças de Paris e Frankfurt, mas nem por isso deixou de ser significativa, com recuos de 3,74% e 3,56%, respectivamente. O sentimento negativo estendeu-se à City londrina, onde o recuo foi de 1,97%, e chegou a Wall Street, onde os principais índices estão em queda. O Dow Jones perde 1,24% e o Nasdaq desce 1,38%.

Eduardo Silva, gestor da XTB, diz ao PÚBLCIO que a incerteza é tanta sobre o que se vai passar a seguir que nenhum cenário deve ser dado como adquirido. “Acredito que os índices poderão cair ainda muito mais do que já vimos hoje, enquanto os juros vão realmente sentir a pressão. Para já, a sensação é de contenção e de que os movimentos de queda dos índices europeus poderão escalar de uma forma dramática, perante um cenário de ruptura total.” Nesse cenário mais crítico de aversão ao risco, sublinha, “o PSI-20 é um dos índices mais visados”.

Essa pressão acontece também no mercado de dívida em relação às economias que, nos picos da crise do euro, se mostraram mais fragilizadas. “As obrigações dos países periféricos seguem a oscilar em alta. Com os últimos desenvolvimentos existe muita incerteza, o que parecia um cenário de afastamento definitivo rapidamente evoluiu para indefinição em que nenhum cenário parece definitivo”, nota Eduardo Silva.

As taxas de juro da dívida grega com um prazo de dez anos dispararam esta segunda-feira, passando para 15% quando na última sexta-feira os títulos estavam em 11,16%.

A pressão no mercado secundário — onde os investidores trocam entre si títulos de dívida dos Estados ou manifestam intenções de troca sem chegarem a concretizá-las — intensificou-se de forma imediata sobre os outros países periféricos, embora com subidas menos acentuadas.

As taxas de juro da dívida portuguesa escalaram para os 3,08% ao final do dia, contra os 2,718% de sexta-feira. O mesmo aconteceu com os títulos de Espanha (2,358%) e de Itália (2,395%), ao contrário do que se verificou com a dívida alemã (referência no mercado) e irlandesa, que negociaram em queda.

O que pode acontecer à dívida portuguesa neste quadro de incerteza? Filipe Silva, director de gestão de activos do Banco Carregosa, nota que a subida dos juros portugueses não se compara com a situação de stress da Grécia, mas sublinha que a incerteza gerada não permite antecipar o caminho dos mercados nos próximos dias.

“Os juros da dívida de Portugal, Itália e Espanha estão a subir. Os juros da dívida dos outros países europeus estão a subir. Porquê? Os países do sul da Europa podem ser o ‘next in the row’,enquanto os países mais ricos reforçam o seu papel de refúgio e estão com os juros da dívida a descer. Os juros a dez anos de Portugal estão nos 3%, com uma subida de 25 pontos base. A dívida a seis anos subiu dos 1,79% para os 1,95%. É uma subida ligeira, nada que se compare a outras situações de stress sobre a Grécia, mas não deixa de ser uma subida de juros.” Filipe Silva escolhe uma imagem para descrever a situação nos mercados: “Até ao referendo no domingo, e mesmo alguns dias depois, a incerteza é tanta que me parece um totoloto.” 

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