BIC avalia aumento de capital devido a exposição ao GES

Crise do GES obrigou BIC a constituir imparidades de 17,7 milhões de euros. Mira Amaral defende venda rápida do Novo Banco.

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Mira Amaral sublinhou a diferença entre os casos espanhol e português Enric Vives-Rubio

A administração do Banco BIC irá decidir em Outubro se avança com uma operação de aumento de capital devido às imparidades de 17,7 milhões de euros constituídas por causa da exposição ao Grupo Espírito Santo (GES), revelou o presidente do banco, Luís Mira Amaral, em entrevista à Lusa. "Isto para o banco nem constitui grande problema, porque os nossos accionistas têm uma estrutura extremamente forte. Basta dizer que ganham em Angola 200 milhões de dólares [155 milhões de euros], pelo que se for preciso reforçar o capital do Banco BIC Português, nesse valor, eles não têm problemas de o fazer", disse o gestor.

O Banco de Portugal obrigou os bancos que estavam expostos ao GES a provisionar no mínimo 50% da exposição, e o Banco BIC optou por constituir imparidades correspondentes a 55% da sua exposição, segundo revelou Mira Amaral. A exposição do BIC ao GES deve-se a "participações e créditos dados pelo BPN" e que foram 'herdados' pelo BIC, salientou, acrescentando que o banco que lidera não tinha "nenhuma exposição a dívida subordinada do GES. Só sénior", a par das operações de crédito a empresas do GES.

"Colocámos alguma liquidez em dívida sénior, numa lógica de gestão da liquidez, e o restante são operações creditícias" que vinham de trás, assinalou.

Além das imparidades assumidas, há ainda a contribuição do Banco BIC para o fundo de resolução do BES, de 6,6 milhões de euros. "O problema é este: os bancos portugueses, desde 2012, estão a pagar um imposto especial que devia logo ter ido para este fundo de resolução. Só que, em 2012, foi para o Orçamento do Estado (OE) e o fundo de resolução só foi constituído em 2013”. A "moral da história" é que os bancos pagaram esse imposto especial em 2012, 2013 e 2014 e, a partir de 2013, começaram a pagar também para o fundo de resolução, pelo que estão "a pagar duas vezes", sustenta.

"A lógica desse imposto especial devia ser financiar contra o risco sistémico", via fundo de resolução, e não entrar nas contas do OE, "agora, é fácil perceber que, quando vem a crise do BES, o fundo de resolução não tem provisões suficientes. Por isso, teve que se socorrer de um empréstimo do Estado e de um empréstimo de nove bancos", argumentou o líder do BIC.

Reconhecendo que “a banca portuguesa já teve melhores dias", Mira Amaral disse não ter sido apanhado de surpresa pelo colapso do grupo que foi liderado por Ricardo Salgado, mas sim pela “dimensão dos números”. "Eu conheci-o [a Ricardo Salgado] há muitos anos, desde o tempo do governo, e posso gabar-me de ter sido um daqueles que passou pelo Governo em que ele nunca mandou, ou controlou, melhor dizendo. Ora, como ele nunca me controlou, não é agora que eu vou criticar o senhor", acrescentou.

Venda rápida do Novo Banco
"A experiência do BPN mostra-nos que o Novo Banco deve ser vendido atempadamente e não deve ser protelada uma decisão de alienação", afirmou Luís Mira Amaral. "Quando digo atempadamente não estou a dizer que tem que ser amanhã. Há um trabalho de casa a fazer. Agora, não me venham com histórias que é daqui a cinco anos", acrescentou.

E justificou: "Uma empresa ou um banco não podem estar muito tempo sob gestão transitória. O problema da confiança é essencial e, se já se põe numa empresa, num banco ainda é pior".

Questionado sobre um eventual interesse do Banco BIC nalguns activos do Novo Banco ou mesmo na compra da instituição, Mira Amaral disse que ainda não sabe em que moldes é que a operação vai ser feita.

"Eu não sei se o banco é vendido em bloco ou se é vendido por activos. Não lhe sei responder. O que posso dizer é que o Banco BIC Português está proibido pelo Governo de comprar activos durante cinco anos em Portugal. Passaram três [desde a compra do BPN ao Estado], faltam dois anos", assinalou.

Ainda assim, o gestor não exclui a possibilidade de os accionistas do banco de capitais luso-angolanos, ou o seu banco 'gémeo' angolano, se posicionarem num possível negócio de venda do Novo Banco.

"Os meus accionistas, ou o Banco BIC Angola, se aparecer algum activo interessante em Portugal, podem comprar", realçou.

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