BCP exposto a empresas do GES, mas não às três holdings insolventes

Banco reduz prejuízos semestrais para 62,2 milhões de euros.

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O BCP gerido por Nuno Amado concluiu com sucesso o recente aumento de capital de 2242 milhões de euros Pedro Cunha

O BCP não tem uma exposição directa às três holdings do Grupo Espírito Santo (GES) — Espírito Santo International (ESI), Rioforte e Espírito Santo Finantial Group (ESFG) — que pediram a protecção contra credores, mas concedeu financiamentos a empresas do universo que, embora “em risco”, estão todos “adequadamente cobertos por colaterais”.

A garantia partiu de Nuno Amado, o presidente do maior banco privado português, que divulgou na tarde desta segunda-feira as suas contas semestrais, onde mostra uma evolução positiva com os prejuízos a caírem para 62,2 milhões de euros — o que compara com os 488 milhões de euros apurados nos seis primeiros meses de 2013.

"O BCP não tem qualquer operação de crédito sobre as três holdings do GES que pediram a gestão controlada”, explicou Nuno Amado, que antes de começar a responder às questões dos jornalistas presentes na conferência de imprensa começou por avisar que “o momento é muito difícil para um concorrente [BES]” e que não iria pronunciar-se sobre o tema.

Amado explicou que os empréstimos que o BCP concedeu ao GES destinaram-se “basicamente a empresas operacionais e estão adequadamente cobertos por colaterais e, quando não estavam, foram provisionadas a 100% neste semestre.”

O PÚBLICO noticiou há dias que a exposição do BCP às empresas do GES ronda os 300 milhões de euros e que os financiamentos possuem garantias reais. Amado declinou falar de valores por estarem em causa clientes, mas admitiu que, embora considere que o banco não vai “perder estes créditos, eles estão em risco". Confessou ainda não ter “a mais pequena dúvida de que os supervisores estão a fazer tudo para acomodar a situação”.

BCP “vai bem e recomenda-se”
Apesar das reticências em abordar a crise do GES/BES, Amado não escapou: "O impacto da turbulência do GES sobre o BCP tem a ver com incerteza”, o que “não é bom para o sector financeiro”. Já “a actividade do BCP vai muito bem e recomenda-se, mas a incerteza implica adiar decisões de investimento e de venda, por exemplo, e pode ter impacto no capital e não há muito capital disponível no país”.

O banqueiro alertou: “O próximo semestre vai ser complexo tendo em conta os efeitos de alguma instabilidade que é conhecida” e que está associada ao GES e ao futuro do segundo maior banco privado. O momento requer, portanto, do seu ponto de vista, “uma atenção e uma capacidade de actuação muito grandes”.

"Desejo as maiores felicidades a Vítor Bento e à sua equipa. São pessoas perfeitamente conhecedoras da actividade financeira e independentes de interesses de natureza diversa”, opinou Amado, já depois de ter anunciado que acredita que o BCP atingirá o break-even nos últimos meses de 2014.

As contas do trimestre (Abril, Maio e Junho) registaram o melhor desempenho “dos últimos dois anos” e com “menores imparidades —redução em 21,6% das imparidades do crédito líquida de recuperações para 371,6 milhões de euros e queda para metade de outras imparidades e provisões (114 milhões de euros. Os prejuízos semestrais consolidados melhoraram 404,2 milhões de euros, cifrando-se em 62,2 milhões. A evolução positiva teve a ver “com o negócio base em Portugal (prejuízo de 22 milhões), na Polónia (lucro de 60,7 milhões), em Angola (lucro de 17,3 milhões ) e em Moçambique (lucro de 37,5 milhões)”. Entre Janeiro e Junho, o produto bancário subiu 40,5%, situando-se em 1088,4 milhões de euros em comparação com idêntico período de 2013.

Houve “alguns” resultados “não normais [venda de 49% da seguradora não-vida] sem relevância”, mas que “complementaram a evolução positiva dos quatro mercados. A conjugação com o controlo dos custos justificaram a boa evolução das contas do BCP, referiu o presidente do banco.

500 trabalhadores de saída
Para dar seguimento ao plano de reestruturação acordado com o Estado e a troika, no contexto do empréstimo de três mil milhões de euros em títulos de dívida híbridos (os "CoCos"), o banco já reembolsou o Estado em 400 milhões de euros e prepara-se para pagar mais 1850 milhões (depois do aumento de capital já concluído).

Para Nuno Amado, “a rendibilidade” do grupo BCP está a ser penalizada pelos impactos relacionados com o pagamento dos juros associados aos Cocos e que ascenderam a 130,6 milhões de euros.

Em curso estão novos cortes de pessoal, estando prevista a saída de 500 trabalhadores por rescisões negociadas ou reformas antecipadas e “em articulação com o negociado com os sindicatos”.

Entre 30 de Junho de 2013 e 30 de Junho deste ano, deixaram o BCP 393 pessoas, sendo o actual quadro de pessoal composto por 8351 colaboradores. O banco “lançou um processo de adesão voluntária que ainda não está fechado, mas que tem tido uma adesão muito positiva, pelo que vai facilitar um bocadinho o cumprimento deste objectivo”, explicou Amado, concluindo que a 15 de Setembro avançará com novas medidas destinadas a reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo para cumprir a meta da redução dos custos prevista no acordo estabelecido com as autoridades.

 

 
 

   

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