BCP estranha "timing" escolhido pela Fitch para rever em baixa rating da banca nacional

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Pedro Cunha

O Banco Comercial Português (BCP) emitiu um comunicado questionando a fundamentação e a racionalidade do momento escolhido pela Fitch Rating para rever em baixo os ratings (medida do risco de crédito) dos bancos nacionais

Depois de Ricardo Salgado ter reagido decidindo não renovar o contrato com a agência de notação financeira Fitch, “em resultado das revisões” em baixa do rating do BES, foi a vez de o BCP tomar posição. O banco liderado por Carlos Santos Ferreira mantem aparentemente a relação comercial com a Fitch, mas insurge-se contra a mexida no rating do BCP. A Fitch atribuiu ao BCP a mesma classificação dada ao BES “BBB+”. Há menos de quatro meses a mesma agência conferiu aos dois bancos a classificação de “A”.

Em comunicado dirigido à CMVM ao início da noite o BCP mostra-se surpreendido com a iniciativa da Fitch, por esta não reflectir a solidez financeira do banco, lembrando que “desde a data da anterior revisão das notações de rating (21 de Julho de 2010), não se registou qualquer novo facto relevante que constituísse ou implicasse uma alteração significativa das condições de financiamento, liquidez, solvabilidade e rendibilidade dos bancos portugueses”. Ou seja: o BCP estranha o momento escolhido para a Fitch se pronunciar. E não entende por que “reviu agora, pela segunda vez, a notação de rating dos maiores bancos portugueses, referindo de novo como principal motivo de preocupação, a evolução do risco da República, em linha com a situação das finanças públicas e das dificuldades de financiamento que o Tesouro e os bancos portugueses têm sentido nos mercados de capitais”.

O BCP questiona ainda o fundamento da mexida no rating dos bancos nacionais. Santos Ferreira diz que a Fitch decidiu “fundamentar a sua decisão no aumento dos riscos de liquidez e funding dos bancos portugueses, se bem que reconheça a diminuição gradual e sustentada do recurso ao financiamento junto do BCE desde Agosto, como resultado dos esforços de diversificação das suas fontes de financiamento e de redução da sua dependência face ao BCE.” E conclui que “a revisão dos ratings atribuídos pela Fitch Ratings também não reflecte os resultados obtidos pelos bancos portugueses nos Stress Tests conduzidos pelo CEBS”.

O Fitch cortou ainda, desta vez em apenas um nível, o rating do BPI de “A” para “A-“ e do Banif de “BBB” para “BBB-“. A agência explica a nota dada aos bancos nacionais por considerar existirem riscos de financiamento e de liquidez das quatro instituições financeiras. E refere que o BCP, o BES, o BPI e o Banif estão a sofrer o impacto da deterioração do mercado doméstico e da qualidade dos activos. Já a Caixa Geral de Depósitos viu o seu rating manter-se em “A+”.

De acordo com os bancos nacionais a Fitch está a agir em conformidade com os mercados, e não em articulação com uma análise aprofundada das contas e da evolução histórica das duas empresas. Mas recorde-se que em Junho a Fitch passou a solicitar mensalmente relatórios aos seus clientes, sustentados em três pilares: situação da liquidez e da dependência do Banco Central Europeu (BCE); maturidades dos grandes depósitos; natureza das linhas de crédito irrevogáveis. E terá sido com base nesta análise que a Ftitch, segundo apurou o PÚBLICO, procedeu às alterações dos ratings dos bancos nacionais.

Horas antes de o BCP vir pronunciar-se sobre os dados da Fitich, o banco liderado por Ricardo Salgado já tinha anunciado que cancelou o contrato com a agência de notação norte-americana alegando não existir “justificação válida para a revisão em baixa do seu rating em três níveis, em menos de quatro meses”.

Em comunicado defendeu que “tem uma base de capital sólida” e que “sempre demonstrou a sustentabilidade dos seus resultados, provando que a estratégia de expansão internacional tem efectivamente compensado o abrandamento da actividade doméstica”. E, por esta razão, “o rating de "BBB+" atribuído pela Fitch não reflecte a solidez financeira”, que lhe permite “enfrentar os actuais desafios, mantendo um perfil robusto”. Em consequência deu por concluída relação com a Fitch, mas vai manter os contratos com as outras duas principais instituições de notação financeira, também elas anglo- saxónicas, a Standard & Poor's e a Moody’s.

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