Draghi diz que "não fazer nada" já ajuda zona euro a fugir da deflação

BCE mantém taxas de juro nos 0,25% e não anuncia novas medidas.

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À espera das declarações de Mario Draghi, presidente do BCE

A promessa de manutenção da taxa de juro aos níveis actuais continua a ser a única medida que o BCE está neste momento disposto a tomar para garantir que a zona euro assegura uma retoma da economia sem arriscar a entrada num processo de deflação.

Quem estava à espera que Mario Draghi anunciasse novas medidas expansionistas do Banco Central Europeu – e vários investidores esperavam já que o euro registou descidas nas horas anteriores à conferência de imprensa – ficou certamente desiludido.

O presidente da autoridade monetária europeia disse que os últimos indicadores confirmavam a existência de uma “recuperação moderada” na economia da zona euro e revelou novas previsões que, diz, mostram que a taxa de inflação está em linha com o objectivo de médio prazo definido pelo BCE.

Na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio de que a taxa de juro de referência na zona euro se manterá durante este mês em 0,25%, Mario Draghi começou por revelar as novas previsões para a economia realizadas pelos técnicos do banco central. A taxa de crescimento da economia será, antecipa o BCE, de 1,2% em 2014, 1,5% em 2015 e 1,8% em 2016. O valor para este ano foi ligeiramente revisto em alta.

Para a inflação, o BCE reviu ligeiramente em baixa a estimativa para este ano, que é agora de 1%, e aponta para 1,3% em 2015 e 1,5% em 2016. Draghi fez questão de afirmar que a projecção para o último trimestre de 2016 é de 1,7%. As novas previsões, disse, “confirmam a nossa expectativa de existência de um período prolongado de inflação baixa, com uma posterior subida para valores próximos do objectivo do BCE” de inflação abaixo mas próxima de 2%”.

Os números das novas previsões económicas do BCE, principalmente para a inflação, eram esperados com muito interesse pelos mercados. Se o valor ficasse muito baixo das metas de médio prazo do BCE, poder-se-iam esperar, mesmo que não hoje, novas acções do BCE para estimular a economia e contrariar a descida dos preços.

Se os mais pessimistas (onde se incluem por exemplo os responsáveis do FMI) podem ver uma previsão de taxa de inflação ainda em 1,5% dentro de dois anos como um sinal de risco de deflação que deveria levar a novas medidas do BCE, Mario Draghi tornou claro nas suas declarações desta quinta-feira que o banco não está disposto para já a ir mais longe.

É certo que voltou a repetir que “está pronto para agir”, mas defendeu que, mesmo não fazendo nada, o BCE já está a tornar a sua política cada vez mais expansionista. “Ao dizermos que não vamos subir as taxas de juro mesmo quando a economia começar a registar melhorias, mostramos que a política monetária vai ser cada vez mais expansionista, porque as taxas de juro reais serão cada vez mais baixas”, afirmou Mario Draghi.

O responsável máximo da política monetária europeia fez questão também de esclarecer, de forma inédita, que o valor actual da inflação de 0,8% se deve a factores externos. Em particular à descida dos preços da energia e, em cerca de 0,4 pontos percentuais, à apreciação do euro face ao dólar ocorrida desde 2012.

E, quando foi questionado sobre o apelo do FMI para que o BCE tomasse medidas mais agressivas, defendeu a característica de independência do banco. “Os comentários do FMI são um dos muitos comentários que são feitos a aconselharem-nos a tomar uma determinada direcção. Há outros que nos dizem para ir na direcção oposta. E há quem nos diga para não fazer nada”, afirmou.

Aparentemente, é este último conselho que o conselho de governadores está mais inclinado a seguir. Até porque, quando lhe foi pedido para falar de algumas das medidas extraordinárias de que se tem vindo a falar como alternativa a uma descida das taxas de juro, Draghi ou desvalorizou o seu impacto ou avisou que a sua aplicação seria difícil.

Em relação ao fim da esterilização das compras de obrigações dos países periféricos que foram feitas em 2011 e 2012 (que poderia significar um acréscimo de liquidez na economia da zona euro superior a 175 mil milhões de euros) o presidente do BCE disse o seu efeito seria de muito curto prazo porque as obrigações do tesouro nos cofres do banco vão chegar ao final do seu prazo em menos de um ano.

No que diz respeito à compra de pacotes de créditos aos bancos, uma medida que poderia ajudar a dinamizar a concessão de créditos principalmente nos países periféricos, Draghi disse que ainda havia muito impedimentos legais que estavam a ser estudados.

Mario Draghi concluiu a conferência de imprensa concluindo que novo programa de compra de obrigações de tesouro “está pronto a ser usado se necessário” e a defender a introdução rápida de um mecanismo comum de resolução bancária na zona euro. Duas ideias que têm vindo a encontrar fortes obstáculos na Alemanha.

A reacção dos mercados aos resultados desta reunião do BCE foi, perante os sinais de que o BCE pode ficar parado durante mais tempo, de apreciação do euro face ao dólar para o valor mais alto desde Dezembro, um resultado que pode conduzir a uma nova pressão em baixa sobre a inflação.

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