Bancos privados pagam para evitar default na Argentina

Governo argentino e fundos "abutres" encontraram-se pela primeira vez cara a cara para encontrar uma alternativa ao default. Bancos privados ofereceram-se para entregar garantia de 250 milhões de dólares.

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Axel Kicillof, ministro argentino da Economia, à chegada às negociações na terça-feira em Nova Iorque AFP PHOTO/Don Emmert

A poucas horas do fim do prazo dado à Argentina para regularizar o pagamento de 539 milhões de euros em juros de títulos de dívida, os bancos privados do país apresentaram uma proposta que tenta evitar a concretização de um default no país.

De acordo com vários meios de comunicação social argentinos, um conjunto de bancos privados, liderado pelo presidente da associação de bancos argentina, Jorge Brito, ofereceram-se para depositar 250 milhões de dólares que serviriam de garantia aos fundos de investimento norte-americanos que estão a exigir o pagamento de 1300 milhões de dólares à Argentina. O dinheiro disponibilizado pelos bancos serviria para que esses fundos solicitassem ao juiz encarregue do caso, Thomas Griesa, um adiamento de três meses da aplicação da sua sentença, dando tempo à Argentina para evitar o default.

Esta quarta-feira é o último dia disponível para o Estado argentino pagar os 539 milhões de dólares de juros aos 92% de credores que, em 2005 e 2010, aceitaram trocar os seus títulos de dívida antigos por títulos novos, que valem menos 70%. Uma decisão tomada pelo juiz Thomas Griesa impossibilita que a Argentina faça esse pagamento se não amortizar ao mesmo tempo os 1300 milhões de dólares de dívida detidos pelos hedge funds norte-americanos, que fazem parte dos 8% de credores que não aceitaram ver os seus títulos restruturados e ainda querem ser ressarcidos por inteiro.

O Governo argentino tem-se recusado a pagar esse valor, classificando os fundos de “abutres” e também porque nos títulos de dívida reestruturados existe uma cláusula (RUFO) que prevê que, caso haja credores que vejam os seus títulos de dívida amortizados em melhores condições, as mesmas regras teriam também de lhes ser aplicadas a eles próprios. Isso faria disparar a dívida pública argentina para níveis insustentáveis.

A solução proposta pelos bancos tenta, oferecendo a garantia de 250 milhões aos hedge funds norte-americanos, que estes digam ao juiz que aceitam um adiamento de três meses da aplicação da sentença. Isso permitiria que o Estado argentino pudesse ainda durante esta quarta-feira pagar os juros aos credores que têm os títulos de dívida reestruturada.

Nos três meses seguintes, a Argentina tentaria depois convencer esses credores a abdicarem da aplicação da cláusula RUFO, o que daria um maior espaço de manobra para depois negociar com os hedge funds o pagamento da sua dívida. A garantia tem de ser dada por bancos privados, uma vez que se o dinheiro fosse colocado pelo Estado ou mesmo por bancos públicos poderia haver motivos para que fosse accionada a cláusula RUFO.

Em mais um sinal de que há avanços nas negociações, o ministro argentino da Economia, Axel Kicillof, deslocou-se na terça-feira da Venezuela (onde estava com a presidente Cristina Kirchner numa conferência) até Nova Iorque, onde manteve negociações cara a cara com os fundos a que Buenos Aires chama de “abutres”. À saída da reunião, não deu detalhes da negociação, afirmando apenas que estão “a trabalhar forte” para chegar a uma solução.

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