Bancos angolanos expandem-se em Portugal e lucram nove milhões no primeiro semestre

Banco de Negócios Internacional e Banco Angolano de Negócios e Comércio vieram juntar-se ao BIC, ao BAI e ao Atlântico.

Foto
BIC Portugal é o que tem maior dimensão em Portugal José Fernandes

As instituições bancárias angolanas que operam em Portugal não são muito conhecidas, mas têm vindo a crescer em número e em negócios. Isto além de outra particularidade importante: são lucrativas.

Ao todo, existem actualmente cinco bancos a operar no mercado nacional: Banco BIC Portugal, Atlântico Europa, Banco Angolano de Investimentos Europa (BAI Europa), Banco Angolano de Negócios e Comércio (BANC) e, Banco de Negócios Internacional Europa (BNI Europa). Este último é o mais recente interveniente, tendo começado as operações a 15 de Julho. Já o BANC entrou em Portugal em Novembro do ano passado, e ainda não apresentou contas semestrais.

Neste momento o mais lucrativo é Banco BIC Portugal, o que se explica pela sua dimensão: desde que comprou o BPN tornou-se num dos maiores bancos no mercado nacional, uma vez que a operação lhe trouxe escala e permitiu operar ao nível do retalho (depósitos).

Nos primeiros meses deste ano, a instituição financeira liderada por Mira Amaral (e que tem isabel dos Santos, filha do presidente angolano, como um das sócios, com 25% do capital) apresentou um resultado líquido de 3,63 milhões de euros.

Este valor é ainda positivo se se tiver em conta que, em idêntico período de 2013, o BIC teve um prejuízo de  2,5 milhões de euros. O break-even  do banco foi atingido Outubro  desse ano 2013, com  resultado positivo acumulado, nesse mês, de 600 mil euros. No final do exercício, o BIC conseguiu chegar aos lucros (2,5 milhões de euros).

Em segundo lugar, e tendo em conta os resultados semestrais consultados pelo PÚBLICO, surge o Atlântico Europa, que ultrapassou o BAI  Europa (o primeiro marcar presença no mercado nacional, em 1998). O primeiro teve uma evolução positiva de 6,4% face ao primeiro semestre de 2013, chegando aos 2,87 milhões de euros de resultados líquidos, ao contrário do BAI Europa, que recuou 7,5% para 2,56 milhões.

Detido por Carlos da Silva (que é também vice-presidente do conselho de administração do BCP) e pela petrolífera estatal angolana Sonangol, o Atlântico tem vindo a crescer desde que chegou a Lisboa, em 2009. Entre outros negócios, esteve ligado à entrada de António Mosquito na construtora Soares da Costa. Um elo em comum entre os dois bancos é a Sonangol, já que a maior empresa angolana é também o maior accionista do BAI, com 8,5% do capital. Feitas as contas, as três instituições somam um lucro de nove milhões de euros.

Ao PÚBLICO, o BAI Europa explica que a descida nos resultados líquidos se deve à “constituição de provisões para risco-País (10% da exposição sobre entidades residentes em Angola)”, provisões  “que são reversíveis” e à “redução do valor do balanço, no quadro de uma estratégia de desalavancagem que prossegue em 2014  e que não é ditada por factores prudenciais”. A redução do balanço, diz o BAI, tem um “impacto quase proporcional na margem financeira”. A estes dois factores acresce o “agravamento de encargos fiscais e para-fiscais”.

O BAI opera num nicho de mercado, ao apostar nas empresas portuguesas com ligações a Angola. Conforme explica o BAI Europa, essa relação com as empresas  traduz-se, por exemplo, no apoio a operações comerciais, normalmente de exportação de bens e serviços de Portugal para Angola”, ou em operações de capitais, “tanto de investimento português em Angola como de investimento angolano em Portugal (embora neste último caso pouco expressivo)”.

É este tipo de negócios que atrai os seus concorrentes. Para o BANC, gerido em Portugal por Sara Macias, a missão do banco passa por prestar apoio “a todos os que queiram desenvolver a sua actividade económica em Angola”, país que é hoje o principal mercado das exportações nacionais, excluindo a Europa.

Por outro lado, o BANC foca-se também nos “eventuais investimentos” angolanos em Portugal e na Europa, “com uma particular atenção” ao mercado espanhol. Tendo como presidente do conselho de administração José Aires, o banco como principal accionista o general Kundi Paihama, ex-ministro da Defesa de Angola e actual governador do Huambo, que detém 41,% do capital. 

Quanto ao BNI Europa, a entrada em Portugal deu-se em duas tentativas. A primeira surgiu em 2010, ano em que recebeu autorização para operar no país por parte do Banco  de Portugal. Na altura o BNI angolano detinha apenas 51% do capital, e a expansão para o mercado nacional envolvia nomes como o empresário Hipólito Pires, João Ermida (Ex-Grupo Santander) e o gestor Homero Coutinho. Este último, no entanto, acabou por ir gerir o Banco Luso-Brasileiro, de Américo Amorim, e o projecto atrasou-se. Agora, a táctica mudou, e o BNI é dono de 99,9% do BNI Europa.

O principal accionista da instituição, que também se dedica ao relacionamento entre empresas angolanas e portuguesas, é Mário Palhares, que detém 28% e é o presidente do conselho de administração (cargo que já ocupou no BAI). Segue-se o general João de Matos, com 11,6%, e o consórcio angolano BGI, com 10%. . Até 2008, o BNI tinha dois filhos de José Eduardo dos Santos no seu capital, Welwitschea dos Santos ("Tchizé") e José Eduardo Paulino dos Santos.

No caso de Isabel dos Santos, além da posição accionista que detém no BIC, é também detentora de 19,5% no BPI, sendo a sua segunda maior accionista, após os espanhóis do La Caixa. Além disso, é também detentora de uma das maiores fatias de capital da empresa de telecomunicações angolana, a Unitel, dona de 49% do banco que o BPI detém em Angola, o BFA.

No Millennium BCP, cabe à Sonangol a posição de maior accionista, com cerca de 19%. A petrolífera estatal angolana detém ainda parte substancial das acções do banco do BCP em Angola. Por fim, há ainda o Banco BIG, onde o general Hélder Dias Vieira, conhecido por “Kopelipa”, detém 10,2%, através da World Wide Capital (WWC), o que o torna o terceiro maior accionista. Também Manuel Vicente, ex-presidente executivo da Sonangol e actual vice-presidente da República de Angola, esteve no capital deste banco, mas agora quem surge na lista de accionista é o seu enteado, Mirco Martins, que, através da Edimo, tem 4,6% do Banco BIG.

Sugerir correcção
Comentar