Banco de Portugal considera “imprescindível” continuar o ajustamento da economia

Banco central espera aumento sustentável do consumo e do investimento. Nível de endividamento das empresas condiciona decisões dos agentes económicos.

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O BdP, liderado por Carlos Costa, só fará novas projecções macroeconómicas em Junho Miguel Manso

O investimento e o consumo privado recuperaram ao longo do último ano, mas mantêm-se em níveis baixos, e para continuar o processo de ajustamento da economia portuguesa é preciso que estes dois indicadores tenham uma recuperação sustentada, diz o Banco de Portugal (BdP).

No Boletim Económico de Maio, publicado nesta quarta-feira, o banco central faz uma retrospectiva da economia portuguesa no ano passado, não apresentando novas projecções macroeconómicas, o que só acontecerá em Junho. Mas com a análise que faz à evolução do consumo, exportações, investimento, mercado de trabalho e ajustamento das contas públicas, a instituição liderada por Carlos Costa deixa alguns apontamentos sobre tendências futuras.

Para o banco central, “é imprescindível para a economia portuguesa prosseguir o processo de ajustamento em curso, com aumentos sustentáveis do consumo e das taxas de investimento que permitam renovar o capital, em paralelo com uma redução progressiva dos níveis de endividamento”.

No comunicado que acompanha a publicação do boletim, o BdP considera que “o sucesso da economia portuguesa dependerá, fundamentalmente, da sua capacidade para aumentar a quantidade e a qualidade dos factores produtivos, encetar reformas estruturais e persistir na correcção dos desequilíbrios macroeconómicos com base numa correcta condução das políticas económicas”.

Mas os níveis de endividamento, tanto do sector público como do sector privado (empresas e famílias), vão continuar a restringir as decisões dos agentes económicos, alerta o BdP, lembrando que a acumulação de capital produtivo está “fortemente condicionada pelo endividamento das empresas, que continuam excessivamente dependentes de crédito bancário e com escassez de capitais próprios”.

Em relação a 2014, o BdP liga a recuperação do consumo privado ao “crescimento do emprego no sector privado”, à descida das taxas de juro na zona euro, num cenário de baixa inflação, mas também à “diminuição da incerteza e ao aumento da confiança dos consumidores”.

Sobre o investimento, que apresentou “quedas significativas” durante cinco anos, o banco central sublinha o “dinamismo observado nas máquinas, equipamento e material de transporte”.

Depois de três anos em queda, a actividade económica registou no ano passado um crescimento de 0,9%. Para esta recuperação gradual, diz o Banco de Portugal, contribuiu a melhoria da procura interna, reflectindo o aumento do consumo privado, em linha com o rendimento disponível, e do investimento, nomeadamente das empresas.

O banco central vê uma “melhoria das condições no mercado de trabalho”, com o aumento do emprego, a descida do desemprego no ano passado e a “manutenção da moderação salarial”, mas lembra: “Um dos elementos mais gravosos da evolução recente do mercado de trabalho português tem sido o nível muito elevado de desemprego de longa duração, que tende a provocar uma depreciação acentuada do capital humano, com efeitos adversos no crescimento potencial da economia. Em 2014, o número de indivíduos desempregados à procura de emprego há 12 ou mais meses diminuiu, o que contrasta com o forte crescimento registado na última década”.

Este ano, de acordo com a projecção feita em Março pelo banco central, o Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer 1,7%, uma projecção que está ligeiramente acima da projecção do Governo.

A Comissão Europeia, que na terça-feira disse esperar uma melhoria no nível do consumo privado e do emprego, está a prever que a economia cresça este ano 1,6%, uma projecção igual à do executivo de Pedro Passos Coelho. Apesar de notar que a retoma da actividade económica está mais consolidada, Bruxelas manteve ontem a sua previsão para Portugal.

A análise divulgada pelo Banco de Portugal é elaborada pelo departamento de estudos económicos, liderado por Isabel Horta Correia, e que até 2013 teve como director-adjunto Mário Centeno, o economista que coordenou a elaboração do relatório com o cenário macroeconómico do PS.

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