Banca cotada com prejuízos de 1,6 mil milhões

Imparidades e provisões, crédito mal parado, remunerações mais altas dos depósitos e encargos extraordinários entre os argumentos usados para justificar a deterioração dos resultados da banca em 2013.

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A Fitch destaca o BCP como o banco cujos activos têm pior qualidade Foto: António Borges (arquivo)

Três dos quatro bancos cotados na bolsa de Lisboa, o BCP, o BES e o Banif, fecharam o ano de 2013 em terreno vermelho, com prejuízos de 740 milhões de euros, de 517,6 milhões e de 470,3 milhões, respectivamente, enquanto o BPI lucrou 66,8 milhões.

Em termos consolidados, o resultado líquido dos grupos bancários que integram o PSI 20 cifrou-se em mais de 1661 milhões de euros negativos.

Se a análise envolver agora os seis maiores bancos a operar em Portugal, incluindo a CGD (prejuízo de 575,8 milhões), de capitais estatais, e o Santander Totta, então as perdas aproximam-se de 2130 milhões de euros. Desta lista só o BPI e o Santander Totta (que lucrou 102 milhões), escaparam à corrente negativa, ainda que em queda face a 2012. A CGD e o BCP conseguiram reduzir as perdas, mas o BES inverteu a marcha, depois de em 2012 ter lucrado 96 milhões.

No PSI 20, o Banif evidencia-se como um caso particular dado que tem 69% do capital nas mãos do Estado, com o número de títulos admitidos à cotação a equivalerem a 31% das acções totais (grande parte na posse dos accionistas de referência).

Em 2013, a actividade da banca não escapou ao escrutínio do Banco de Portugal que obrigou à constituição de 3829 milhões de euros de imparidades e de provisões (verba que vai directamente abater aos resultados) para assegurar uma adequada cobertura de riscos.  O governador Carlos Costa já veio garantir que a imposição do BdP não provinha da actividade de 2013, mas da qualidade do crédito concedido antes de 2008. Só o BCP teve de constituir uma almofada de 1286,6 milhões de euros. O BdP forçou ainda o Espírito Santo Financial Group, que domina o BES, a criar uma provisão de 700 milhões para acautelar eventuais problemas com a exposição do banco a empresas não financeiras do grupo.

Nas suas intervenções mais recentes, a banca tem avançado ainda como factores de pressão sobre as suas contas de 2013 com o aumento do crédito mal parado, em consequência do contexto económico recessivo que tem impacto na actividade empresarial, e com a contracção da margem financeira que reflecte, por um lado, a melhoria das condições de remuneração dos depósitos e, em simultâneo, a diminuição dos empréstimos concedidos (e limpeza das carteiras de crédito). No campo creditício, o sector salienta ainda um legado do passado: a carteira de crédito à habitação cujos juros indexados não são susceptíveis de ser requalificados. Em contrapartida, as taxas de juro cobradas às empresas correspondem a mais do dobro do que, em média, pagam as restantes empresas da Zona Euro.

Os banqueiros adiantam outra justificação para a deterioração dos resultados: o acréscimo dos custos extraordinários da banca relacionados, por exemplo, com as contribuições directas do sector (em 2013 o sector pagou 600 milhões de euros de impostos). Para além dos encargos extraordinários, o BCP e o BPI tiveram de devolver de juros pelo empréstimo público de Cocos (obrigações reconvertíveis), designadamente 269 milhões e 93 milhões. O BES pagou 60 milhões pelo recurso às linhas garantidas pelos Estado (português e angolano). Os bancos têm ainda salientado que as despesas obrigatórias com consultores estão a pesar nas suas contas de 2013.

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