Autoeuropa fabricou automóveis com kits fraudulentos

Dono de Volkswagen Scirocco, modelo produzido exclusivamente na fábrica de Palmela, descobriu que o seu carro tem instalado o software que permite falsificar os testes de emissões. Presidente da Volkswagen diz que reparações começam em Janeiro.

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Em Marco do ano passado a Autoeuropa apresentou o seu novo modelo do automovel Scirocco João Cordeiro
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Escândalo tem afectado valor do grupo
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VW tem em curso um investimento de quase 700 milhões na Autoeuropa, um dos que está agora a ser reavaliado Daniel Rocha

A Autoeuropa produziu automóveis cujo software instalado nos motores permite falsificar os testes antipoluição. A confirmação foi dada pela Siva, empresa que comercializa marcas do grupo Volkswagen em Portugal, na sequência de uma denúncia de um proprietário, que utilizou a plataforma online onde é possível verificar se o automóvel tem ou não o motor fraudulento.

Desde terça-feira que os representantes da Volkswagen e da Skoda permitem aos clientes verificar nos sites de cada marca se os seus veículos incluem estes motores. Para o fazer, é necessário inserir o número de chassis (VIN) na plataforma online.

De acordo com o Jornal de Negócios o proprietário de um Volkswagen Scirocco com matrícula de 2009 (um modelo exclusivamente produzido na fábrica de Palmela) inseriu o VIN e descobriu que o seu automóvel contém um motor Tipo EA 189, que falsifica os testes de emissão de gases. Em reposta ao jornal, a Siva confirmou que, “tanto quanto sabe”, os modelos Eos, Sharan e Scirocco (todos produzidos em Palmela) estão entre os veículos afectados pelo escândalo de manipulação de testes.

É a primeira vez que se estabelece uma relação directa entre a fraude da Volkswagen e a fábrica da Autoeuropa, que emprega directamente 3500 funcionários. O coordenador da comissão de trabalhadores (CT) da Autoeuropa, António Chora, referiu em declarações à TSF, que não consegue quantificar o número de viaturas manipuladas que saíram da fábrica portuguesa. “Na Autoeuropa, como em todas as fábricas da VW, pegávamos no motor que vinha da fábrica em que era produzido. O motor já vem completo", explica.

António Chora esclarece que "a única coisa que era acrescentada para que o motor trabalhasse eram peças como o alternador e a caixa de velocidades” e que "há uma forte possibilidade de, no passado” a fábrica ter sido “brindada com alguns motores vigarizados".

No entanto, diz que não se verificou qualquer alteração no volume de trabalho que se mantém no fabrico de 460 automóveis por dia. Recorde-se que o grupo germânico anunciou na terça-feira o início de um processo de revisão de todos os investimentos planeados, o que significa o corte ou adiamento dos que não são "absolutamente necessários".

A 24 de Setembro, o ministro da Economia, António Pires de Lima, garantiu que, de acordo com as informações que tinha, “os veículos produzidos em Portugal nos últimos anos não tiveram a incorporação deste kit fraudulento”.

Dias depois, seria obrigado a recuar. Com a extensão da fraude ao mercado europeu, o ministro admitiu que “as fábricas que produziram para o mercado europeu não estão livres de terem produzido automóveis” com o software fraudulento, “incluindo a Autoeuropa”.

Segundo dados da Associação Automóvel de Portugal, a fábrica de Palmela é responsável pela produção de mais de 69% dos veículos exportados por Portugal no ano de 2014.

Durante esse período, produziu 101.374 unidades, sendo que a grande parte (64,43%) foi vendida a países da União Europeia. A Alemanha é o país que mais compra à Autoeuropa, tendo adquirido 29,5 mil viaturas (29,1% do total) em 2014.No total, o mercado europeu tem um peso de 69,87% nas vendas da unidade fabril. O segundo maior mercado é o asiático (27,54%), onde a China, que compra 25,5% dos veículos, se assume como o maior cliente. 

Atrás da Autoeuropa estão a Peugeot Citroën, que exportou mais de 49.793 automóveis, a Mitsubishi Fuso Truck Europe, com pouco mais de 3,6 mil, e a Toyota Caetano, que vendeu 663 veículos para o estrangeiro. 

Reparações começam em Janeiro
O novo presidente da Volkswagen, Matthias Müller, afirmou que as reparações aos veículos com motores a diesel manipulados vão começar em Janeiro, uma operação que espera estar concluída até ao fim de 2016.

Na sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo, concedida ao diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, Müller disse que esta semana vai submeter às autoridades federais de transporte de veículos as soluções técnicas e, se forem aceites, as reparações começam em Janeiro.

“Em finais de 2016 todos os carros devem estar arranjados”, acrescentou, ao fixar em “apenas” 9,5 milhões os veículos afectados, em relação aos 11 milhões que o grupo tinha estimado.

Grande parte dos veículos é reparável, segundo os relatórios, através de uma actualização de software, mas é provável que algumas intervenções mais profundas sejam necessárias para alguns veículos, “de forma gratuita para o cliente, claro”, afirmou.

Müller disse ainda acreditar que apenas alguns empregados da companhia estiveram envolvidos na manipulação dos software dos motores, rejeitando a ideia de que o seu antecessor, Martin Winterkorn, soubesse de alguma coisa.

O novo presidente da companhia germânica refere-se a esta crise como uma “oportunidade para examinar as estruturas da Volkswagen”, dizendo que o grupo vai ter que encolher e ser menos centralizado. O objectivo é fazer uma “evolução e não uma ”revolução” que permita endireitar a VW em dois ou três anos.

Em Setembro, o Grupo Volkswagen admitiu ter equipado milhões de veículos com um software destinado a manipular os resultados dos controlos de emissões poluentes.

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