Austeridade na Grécia é excessiva

Estudo da associação internacional de bancos defende para Atenas o mesmo ajustamento que na Irlanda.

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Uma bandeira grega junto à estátua de Sócrates no centro de Atenas AFP

Por que é que a Irlanda tem conseguido resultados tão prometedores com o seu programa de ajuda externa e a Grécia não? Esta comparação pesa negativamente há três anos sobre os gregos, habitualmente vistos, no melhor cenário, como menos determinados no cumprimento dos compromisso assumidos com a troika de credores internacionais, mas no pior, como preguiçosos e pouco sérios.

A acreditar na associação internacional de bancos IIF (International Institute of Finance), no entanto, a razão é outra: a dose de austeridade imposta a Atenas foi muito superior à da Irlanda e revelou-se mesmo excessiva, provocando uma contracção brutal da economia – 20% desde 2008 – e uma explosão do desemprego para 26% da população activa.

Esta conclusão poderá servir de alerta para Portugal que, apesar de se ir aguentando no cumprimento do seu programa de ajustamento resultante da assistência financeira externa, está a enfrentar igualmente elevados níveis de contracção da economia e de desemprego.

"Uma consolidação orçamental mais suave ajudou a Irlanda a conseguir retomar o crescimento necessário para assegurar a sustentabilidade da dívida e retomar a emissão de títulos" no mercado, afirma o IIF, num estudo publicado nesta quinta-feira.

Ao invés, "o ajustamento orçamental muito mais duro exigido à Grécia tem tido um impacto sobre o PIB muito mais negativo", afirma a instituição que representa 400 grandes bancos internacionais e negociou em seu nome, há um ano, uma reestruturação da dívida pública grega detida por privados.

"Três anos depois do início da crise [da dívida europeia] e com contracções preocupantes da economia em Itália, Espanha e Portugal, as diferentes experiências da Irlanda e da Grécia oferecem lições úteis", alerta o estudo.

O resultado desta disparidade na situação dos dois países é que no caso da Irlanda "poucos duvidam" que os seus credores oficiais – os países do euro e o FMI – recuperarão os seus empréstimos "por completo e a tempo". Já no caso da Grécia, o agravamento da dívida pública (129,7% do PIB em 2009 para 175,5% previstos para este ano) resultante nomeadamente da contracção do PIB, "reforçou as dúvidas sobre a solvência [do país] apesar do ajustamento orçamental" e de duas reestruturações de dívida realizadas em 2012 "de magnitude sem precedentes" que permitiram a sua redução em 58% do PIB.

O estudo realizado por Jeffrey Anderson, director do IFF para os assuntos europeus, conclui que "aplicar à Grécia o exemplo irlandês para ajudar a relançar o crescimento requer algum financiamento adicional" da zona euro e do FMI. Este financiamento adicional será, no entanto, "muito menor do que aquele que poderá vir a ser necessário se a economia continuar a cair e as dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida permanecerem enraizadas".

Segundo o analista, o ajustamento orçamental na Grécia representou 5,2% do PIB por ano entre 2010 e 2012, mas apenas cerca de 1% anual do PIB na Irlanda durante o mesmo período.

Esta diferença no impacto do ajustamento resultou nomeadamente dos "multiplicadores orçamentais" (o impacto em termos de contracção económica de cada euro de contenção orçamental) que no programa grego foram o dobro do irlandês.

Esta diferença tem a ver nomeadamente com o facto de a economia grega ser menos exportadora do que a irlandesa, o que significa que a actividade económica é mais duramente afectada por quebras do consumo interno.

Para agravar as coisas, a Grécia está em risco de sofrer uma nova deterioração da sua situação devido aos termos do seu programa de ajustamento, que impõe uma consolidação orçamental adicional, equivalente a 7,4% do PIB em 2013 e 2014, dos quais dois terços neste ano.

Se Atenas cumprir o que lhe é exigido, o seu PIB voltará a cair neste ano entre 4 e 5 pontos, enquanto a dívida crescerá mais 9 a 10 pontos percentuais do PIB.

Para quebrar este círculo vicioso e tornar a dívida grega mais sustentável, o IIF conclui que a economia grega terá de voltar a crescer, o que só poderá acontecer num cenário de "reajustamento das metas orçamentais" do seu programa "para incorporar o útil exemplo da Irlanda".

Ou seja, Atenas precisará de mais tempo para reduzir o seu défice orçamental para menos de 3% do PIB, o que, de acordo com os planos actuais, deverá acontecer em 2015 (o mesmo ano da Irlanda). Este tempo adicional conjugado com os fundos estruturais da União Europeia (UE) poderá relançar o investimento público e "converter uma espiral viciosa num círculo virtuoso", afirma o analista.

O problema, lembra o estudo, é que mais tempo para o ajustamento orçamental poderá significar um financiamento adicional por parte da zona euro e do FMI "sob a forma de novas reduções das taxas de juro" dos seus empréstimos. Só que, conclui, este financiamento adicional poderá ser necessário apenas até à retoma do crescimento e à subida das receitas fiscais necessárias ao financiamento do país.

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