Até Março, aforradores do Estado retiram 71% do previsto para todo o ano

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Portugueses continuam a fugir dos produtos de poupança do Estado Daniel Roland/AFP

Fuga aos certificados de aforro e baixa adesão aos certificados do tesouro fazem o Estado perder 641 milhões de euros. Resgates arriscam ser superiores ao previsto no Orçamento do Estado.

O Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público (IGCP) divulgou hoje o seu boletim mensal onde se vê que os portugueses continuam a retirar dinheiro dos certificados de aforro (CA) e a subscrever cada vez menos certificados do tesouro (CT).

Em Março, os resgates líquidos de CA (balanço entre emissões e amortizações) ascendeu a 220 milhões de euros. Nos CT, continua a registar-se um forte abrandamento das subscrições, colocando o saldo líquido de Março em apenas 12 milhões de euros.

Isto significa que, nos primeiros três meses do ano, o Estado já perdeu 679 milhões de euros com os certificados de aforro, o que corresponde a 45,3 do que está previsto no Orçamento do Estado de 2012 para todo o ano (1500 milhões).

A agravar o cenário, a performance dos certificados do tesouro, apesar de positiva, está longe de ser suficiente para compensar a fuga ao mais antigo produto de poupança do Estado. Nos três primeiros meses do ano, as subscrições líquidas de CT foram de apernas 38 milhões, um valor que vem pôr em dúvida a capacidade de se captarem 600 milhões de euros com este produto de aforro durante 2012, tal como o Governo prevê.

Olhando para a evolução geral, os aforradores do Estado perderam, até Março, 641 milhões de euros, o que equivale a 71% do que o Governo previa para todo o ano. Se o Executivo falhar as suas previsões, arrisca-se a ter de ir ao mercado para compensar a falta de financiamento dos particulares e, consequentemente, sujeitar-se a pagar taxas de juro mais elevadas para vender dívida de curto prazo.

A contribuir para esta fuga aos produtos de poupança do Estado está, desde logo, a alteração das regras dos certificados de aforro (que diminuiu a sua rentabilidade) e o congelamento das taxas máximas dos certificados do tesouro.

Além disso, a crise da dívida e a crise económica têm acentuado esta tendência. Com as medidas de austeridade a reduzirem o rendimento disponível e com a taxa de desemprego a aumentar, várias famílias vêem-se obrigadas a recuperar as suas poupanças. Por outro lado, há também o receio de que Portugal tenha, à semelhança da Grécia, de enveredar por uma reestruturação da dívida, que poderia vir a infligir perdas aos credores particulares.

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