Arrefecimento chinês não afectou exportações portuguesas

Minérios e sector alimentar ajudaram a uma subida de 3% nas vendas.

Foto
Reuters/Carlos Barria

O abrandamento da economia chinesa, que tem estado a pressionar os mercados financeiros (e com isso várias empresas) e causar receios em todo o mundo, não se fez sentir na globalidade das exportações de produtos portugueses para aquele país. As vendas cresceram 3% ao longo de 2015 (a subida em termos globais foi de 4%), apesar de uma retracção significativa na mais importante categoria: os automóveis e outros materiais de transporte.

Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, ao longo dos primeiros 11 meses do ano passado (últimos dados disponíveis), Portugal exportou 782 milhões de euros de bens para a China, mais 26 milhões do que no mesmo período do ano anterior. É um crescimento que pesa muito pouco nas vendas de Portugal ao estrangeiro: a China é o 10.º mercado mais importante para Portugal, mas representa apenas 1,7% dos 46 mil milhões de euros que totalizaram as exportações de produtos entre Janeiro e Novembro.

Foto

A evolução positiva das exportações não surpreende Sérgio Martins Alves, secretário-geral da Câmara de Comércio Luso-Chinesa, que agrega 300 empresas com interesses comerciais naquele país. E  as grandes diferenças nas vendas de alguns sectores quando se compara 2014 e 2015 – reduções percentualmente grandes em alguns casos e subidas significativas, noutros – são explicadas por Martins Alves com acordos entre empresas. “Boa parte das oscilações são joint-ventures [acordos] e aquisições. São situações de natureza conjuntural”.

O responsável dá o exemplo da indústria alimentar como sendo um sector “que capitalizou bem a porta de Macau”. As vendas de bens na categoria dos produtos alimentares e bebidas dispararam 175%, embora não tenham ido além dos 31 milhões de euros. Destes, a grande maioria foi exportação de bebidas, onde se inclui o vinho, que subiu 186% para 28 milhões. “Para um vinho ou um azeite português não é tão estranho entrar [na China] através de Macau”, observou Martins Alves.

O comportamento positivo daquele sector é, no entanto, ofuscado, pela dimensão das vendas de minérios, que são a segunda categoria mais exportada para a China e ajudaram a compensar as quebras observadas noutras actividades. As vendas de produtos minerais subiram 33%, para 147 milhões de euros: isto significou mais 36 milhões de euros, um valor que é superior ao da subida total das exportações para aquele país.

Este foi um contrapeso importante às vendas de automóveis, veículos e componentes, que afundaram 18% – o equivalente a 71 milhões de euros -, acabando por totalizar 330 milhões. Os números da Associação Automóvel de Portugal, contudo, indicam que a Autoeuropa (a maior fábrica automóvel no país e a única que exporta para território chinês) vendeu mais 11% de carros à China ao longo de 2015, chegando às 17 mil unidades (valores que já abarcam Dezembro). Aquele mercado absorveu cerca de um décimo da produção de veículos em Portugal no ano passado (o principal destino, com um quarto do total, foi a Alemanha).

O comércio com a China ainda tem um longo caminho a percorrer, defende Sérgio Martins Alves. O secretário-geral Câmara de Comércio Luso-Chinesa considera que, nos últimos anos, o país se tornou, “por força das oportunidades que a crise criou”,  mais “sofisticado” nas relações comerciais com o exterior e diz que “já nem as barreiras culturais inibem os empresários”. Mas queixa-se de uma falta de estratégia nacional para abordar aquele mercado e diz haver várias dificuldades em penetrar na China. Recorda, por exemplo, casos de representantes de empresas portuguesas que foram a feiras naquele país e tiveram problemas em superar barreiras tão simples como perceber as sinaléticas. “Não se pode tratar a China como qualquer outro mercado, tem uma dimensão, uma opacidade, uma complexidade [maiores]”, observa.

Sugerir correcção
Comentar