Apenas 15% reconhecem a marca criada pelo Governo para distinguir os produtos nacionais

Selo “Compro o que é nosso”, entretanto descontinuado, tem mais notoriedade. Estudo do ISEG revela que perto de 54% dos inquiridos compra “muitas vezes” produtos de origem nacional.

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Mais de 2500 produtos estão identificados com o selo criado pelo Governo Enric Vives Rubio

Quase dois anos depois de ter sido formalmente apresentado às empresas, o Portugal Sou Eu é reconhecido por 15% dos portugueses questionados no âmbito de um inquérito do Centro de Estudos de Gestão do ISEG, coordenado por Helena Martins Gonçalves. O relatório é apresentado nesta quinta-feira na primeira edição do Fórum “Portugal Sou Eu” e mostra como, em termos de notoriedade, o “Compro o que é nosso” ainda reúne maior número de respostas. A marca criada pela Associação Empresarial de Portugal em 2006 é identificada por 83,2% dos inquiridos.

Duas outras imagens, que usam a expressão made in Portugal e a bandeira nacional, são indicadas por 25,4% e 16,3%. Segue-se o Portugal Sou Eu (15% identificam o símbolo e o nome e 12,7% apenas o logotipo). “Sendo uma marca recente, não é de admirar que não tenha uma notoriedade muito elevada. Existe há dois anos, mas o trabalho de notoriedade não se percebe só com os anos de vida, mas com o trabalho de divulgação. E a verdade é que não se tem visto muito trabalho de divulgação da marca junto da população, o que terá a ver com questões de orçamento”, comentou ao PÚBLICO Helena Martins Gonçalves.

Contactada, fonte oficial ao Ministério da Economia lembra que “qualquer processo de criação de uma marca nova no mercado leva tempo” e que a identificação  dos consumidores “ irá, com certeza, reforçar-se no novo ciclo do programa que terá início com o novo quadro de apoios comunitários”. A primeira fase do programa termina agora e um terço da verba global de 3,9 milhões de euros (85% fundos comunitários do Compete - Programa Operacional Factores de Competitividade) foi aplicada na campanha de publicidade. O Ministério da Economia avança que o maior investimento foi feito junto das empresas, “na medida em que sem produtos com selo não faz sentido haver publicitação junto do consumidor”. 

Aprovado em Conselho de Ministros em 2011, este selo que identifica produtos de elevada incorporação nacional só foi apresentado em Dezembro de 2012 e é gerido pelo IAPMEI-Agência para a Competitividade e Inovação, num consórcio que integra ainda a Confederação dos Agricultores de Portugal, a Associação Empresarial de Portugal e a Associação Industrial Portuguesa. O logotipo criado por Carlos Coelho veio substituir o "Compro o que é Nosso" e está nas embalagens de mais de 2500 produtos, a maioria de microempresas do sector da alimentação e bebidas.

Ainda não se sabe ainda qual é o valor da próxima dotação, mas, em declarações anteriores ao PÚBLICO, Leonardo Mathias, secretário de Estado adjunto e da Economia, garantiu que o projecto será alargado a produtos de marca própria e a serviços. Também se pretende abrir a participação à Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição e à AHRESP - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal.

Entre Fevereiro e finais de Setembro, o número de produtos com o selo aumentou 71%, de 1409 para 2403. Nessa altura, havia 289 empresas aderentes, 58% das quais microempresas, ou seja, com um máximo de dez trabalhadores. Apenas 2% eram de grande dimensão. Actualmente, no portal estão registadas mais de 1100 empresas nacionais com produtos em fase de qualificação.

No estudo sobre portugalidade e os hábitos de compra de produtos nacionais, 58,7% dos 1301 inquiridos diz tentar comprar artigos portugueses sempre que existam. E 53,7% garante comprar “muitas vezes”. Perto de 74% procura no rótulo a informação sobre a origem do produto e 47,8% fica a saber esta informação através de um selo específico. As categorias mais consumidas são o azeite e o vinho (93,1% de respostas), o pão, doçaria e pastelaria (91,3%), fruta e legumes (86,6%), peixe, carne e derivados (85,5%) e queijo (84,3%). No lado oposto, os artigos estrangeiros mais adquiridos são telemóveis e artigos electrónicos, electrodomésticos, ou produtos de higiene e cosmética, onde a indústria nacional tem pouca implantação.

O critério principal de compra é a qualidade, excepção feita às categorias de vestuário, artigos de decoração e têxteis para o lar ou limpeza da casa, em que o preço influencia mais a decisão.

Para aderirem ao selo "Portugal Sou Eu" as empresas têm de candidatar individualmente cada produto e calcular a percentagem de incorporação nacional (igual ou superior a 50%) através de uma matriz definida pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ). O IPQ considera este valor como “a percentagem dos custos directos afectos ao processo produtivo de determinado produto ou família de produtos, que corresponde à fracção dos custos directos de produção associados a factores de produção exclusivamente nacionais”. A Imperial (chocolates Regina) ou a Valente Marques (dona do arroz Caçarola) já ostentam a imagem nos seus produtos. Também a McDonald’s conseguiu obter o selo com a Mc Bifana.

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