Altice fala de preço com accionistas da Oi e diz que pode comprar PT “amanhã”

Enquanto o grupo francês que tem a Cabovisão e a Oni sonda os grandes accionistas da Oi, as acções da PT registam a maior queda de sempre. Ontem, o recuo dos títulos em bolsa aproximou-se dos 13%

Foto
Grupo francês quer comprar o MEO para crescer em Portugal PÚBLICO/arquivo

Não há uma proposta em cima da mesa, mas há uma empresa muito determinada em comprar a PT Portugal. Os accionistas brasileiros e portugueses da Oi já sabem que a Altice tem vontade “e dinheiro para entrar na PT Portugal amanhã”, se a intenção for vendê-la, disse ao PÚBLICO fonte ligada ao processo.

O presidente executivo da empresa, Dexter Goei, esteve em Portugal e, além de uma visita de cortesia ao vice-primeiro-ministro Paulo Portas, reuniu com accionistas portugueses da Oi, como o Novo Banco, para dizer que está comprador. O preço foi um dos temas abordados, mas, para já, a dificuldade da Altice está em encontrar um interlocutor com quem se possa sentar à mesa e discutir detalhes da operação.

Com a saída de Zeinal Bava (que na terça-feira renunciou à liderança executiva da Oi e foi substituído interinamente pelo administrador financeiro Bayard Gontijo) e a estrutura accionista complexa da empresa (onde se cruzam brasileiros e, por via indirecta, accionistas da PT) “fica mais difícil perceber quem e quando pode decidir o quê”, acrescentou a fonte. Por isso, o negócio está a ser apresentado aos grandes accionistas e não à gestão da Oi.

Mas o grupo francês não tem dúvidas quanto aos méritos do projecto, nem quanto ao estado de espírito dos accionistas portugueses. A PT “é um activo muito estratégico e emocional”, mas os accionistas portugueses com quem a Altice já falou “são razoáveis e têm consciência que não controlam a PT, nem vão controlar, por isso, se for bom para os negócios, vão concordar e vender”, afirmou a fonte. Entre os accionistas portugueses da Oi encontram-se a Ongoing, o Novo Banco, a Controlinveste e a Visabeira. Para os brasileiros os benefícios também são evidentes: “O negócio está a cair, há mais dívida, faria sentido vender a um preço sensato”, explicou.

O grupo francês está disposto a aguardar que a situação na Oi se clarifique e que seja possível chegar a acordo quanto à venda da PT Portugal até ao final do ano. O que não significa que não tenha oportunidades de aquisição nos outros mercados onde está (essencialmente na Europa). A fonte também frisou que “a Altice quer ser bem-vinda” na PT Portugal e reconhecida como uma empresa com know-how em telecomunicações, que investe no longo prazo. A Altice “não distribui dividendos, reinveste no negócio ou em aquisições e quer ser a melhor nos mercados em que está presente”, afirmou a fonte.

Juntando a PT Portugal à Cabovisão e à Oni, a empresa conseguiria afirmar-se como um grande operador de serviços convergentes. A expectativa é que a questão não coloque quaisquer entraves regulatórios, pois a situação de haver três grandes grupos a disputar o mercado manter-se-ia inalterada.

No ano passado, a Altice, que tem 20 mil colaboradores e está presente em nove países, com oito milhões de clientes no fixo e 26 milhões de clientes no móvel, obteve receitas de 13.600 milhões de euros. Portugal representa apenas 1,5% desse valor (213 milhões), mas passaria a representar 20% com a PT Portugal, que “seria uma prioridade” e uma empresa “gerida por portugueses”.

A Altice “quer entrar na PT Portugal pela porta grande, de bem com os accionistas portugueses, com a comunidade empresarial, com os trabalhadores e com o Governo”, adiantou ao PÚBLICO a fonte ligada ao negócio, revelando que a possibilidade de criação de emprego em Portugal na área dos call centers foi um dos temas abordados na reunião com Portas.

Enquanto a Altice sonda os grandes accionistas da Oi, na bolsa, as acções da PT acusam o toque da saída repentina de Bava e das incógnitas em relação ao futuro. Ontem, os títulos encerraram com a maior desvalorização de sempre, recuando 12,92% para 1,42 euros. Fontes de mercado explicaram ao PÚBLICO que os accionistas da PT (que serão accionistas da futura Corpco) começaram a tomar consciência que o encaixe da venda da PT Portugal será canalizado para amortizar dívida da Oi e financiar aquisições no mercado brasileiro e não os beneficiará directamente.

 

 

 

Sugerir correcção
Comentar